FÍSICA SEM EDUCAÇÃO

A única maneira de fazer o Brasil progredir é com educação, informação e caráter.

domingo, 27 de outubro de 2019

O que vai virar a educação no país?

                              Fonte:https://pensamentoliquido.com.br/brasil-um-pais-em-chamas/


A situação em que o país vai entrar é alarmante e se os cidadãos e, principalmente, os professores e professoras não começarem a se conscientizar e lutar vamos entrar em colapso social. Se não estiverem motivados o suficiente pela educação pública, que o façam pelos seus filhos e netos.

Muitos professores e professoras, e eu diria que a maioria, não entenderam a grave situação em que a educação se encontra. Sei que muitos estão tão desmotivados, desvalorizados e “desesperançosos “ que sequer têm forças para agir ou mesmo se interessam pelo que está acontecendo. Preferem continuar em suas bolhas, estão tipo: “tanto faz, sempre foi assim”.
A questão é que não foi sempre assim! Apesar da história nos mostrar que desde que permitiram que houvesse escolas públicas e privadas que vem ocorrendo o processo de destruição da educação pública. Isso é história! Nesseartigo eu explico um pouco essa história. 

A coisa começa a piorar realmente quando o Banco Mundial começa a interferir nos processos educacionais, ditando suas políticas e, mais ainda, quando o sistema neoliberal começa a ser implantado à força, porque até então era aos poucos (sentíamos, mas era feito em doses pequenas). E devido a todo o descaso com os professores, eles sequer sentiam a deterioração do ensino ou, se sentiam, não tinham forças para lutar contra.
Acusar sindicatos é mais fácil, pois isso nos redime de culpas pelo que está acontecendo, mas existem dois “poréns”: Quando Getúlio Vargas resolve oficializá-los (aos sindicatos), passa a controla-los e, assim, ano após ano, as lutas vêm sendo cada vez mais desarmadas por aqueles que estão no poder e, pior, quando o professor delega aos sindicatos todas as lutas, sem entender que, na verdade, nós somos o sindicato, a coisa piora. E a luta vai-se enfraquecendo cada vez mais.
Vou resumir o que acontecerá com a educação pública:
1.       A intenção do Banco Mundial não é valorizar os professores, pelo menos não financeiramente, sendo esse como um dos últimos objetivos, como já expliquei nesse post. Então esqueçam a ideia de que iremos ganhar mais. Teremos mais cobrança, isso com certeza.

2.       A privatização proposta pelo Ministro da Educação do novo presidente é a mesma que implantaram no Chile e, para quem não sabe, Paulo Guedes esteve pessoalmente ajudando no projeto. Isso é explicadonesse blog 

3.       Vamos virar um Chile, se tudo der certo, mas se tudo der errado, como é mais provável pela própria letargia dos trabalhadores escravos do capitalismo neoliberal, viraremos uma Venezuela.(No final do texto encontra-se um vídeo que explica a menção à Venezuela)


Para entender o que está acontecendo e quais são as previsões para o futuro do país, veja esse vídeo. É apenas um deles, há muitos outros e garanto que as previsões dos economistas sérios não são boas. Espero que, assim como no Chile, o país acorde. E que não demore muito como aconteceu lá.

                                              https://www.youtube.com/watch?v=__3EkFY7CNA

Que o Brasil não brinque com fogo! É o artigo de hoje escrito no El pais.

Leia aqui

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Escolas cívico-militares: para quê? Para quem?



Professor Doutor Silvio Gallo elabora parecer a respeito do programa criado pelo Governo Federal

Direção da Faculdade de Educação da Unicamp, por solicitação do Conselho Tutelar de Campinas, pediu-me que me manifestasse, por meio deste parecer, sobre o projeto de escolas cívico-militares, visto que o Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura Municipal de Campinas declararam publicamente a intenção de aderir ao programa recém-criado pelo Governo Federal. As opiniões aqui declaradas são de minha inteira responsabilidade, mas penso que, de modo geral, elas reflitam o pensamento de um amplo conjunto de colegas da FE.
Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares foi instituído através do Decreto nº 10.004, de 5 de setembro de 2019, “com a finalidade de promover a melhoria na qualidade da educação básica no ensino fundamental e no ensino médio”, segundo seu artigo primeiro. Prevê uma articulação entre o Ministério da Educação e o Ministério da Defesa, atendendo a escolas públicas municipais, estaduais e distritais, cobrindo atividades do ensino fundamental ao médio. O programa prevê ações nas escolas nas dimensões didático-pedagógicas e administrativas, com a alocação de militares da reserva para sua execução, podendo contar com contingentes do Exército, das Polícias Militares e dos Bombeiros Militares. O parágrafo primeiro do Artigo 11 afirma que: “a gestão na área educacional será alcançada por meio de ações destinadas ao desenvolvimento de comportamentos, valores e atitudes, com vistas ao desenvolvimento pleno do aluno e ao seu preparo para o exercício da cidadania”.
Convém destacar que o projeto não é de todo novo; o estado de Goiás foi pioneiro, com a implantação de um colégio militar ainda em 1999, tendo no mesmo ano a Polícia Militar assumido as instalações e a gestão de uma escola pública. Naquele estado o projeto cresceu, abrangendo dezenas de escolas, e influenciou outros estados brasileiros, que se interessaram pelo modelo. Agora o Governo Federal o transforma em um Programa Nacional, ao qual podem aderir escolas públicas de todo o país. Diversas estatísticas colocam algumas escolas cívico-militares de Goiás dentre as mais bem avaliadas do país, com índices no IDEB considerados acima da média nacional.
Outro ponto que se destaca quando olhamos para essas escolas já em funcionamento, que servem como modelo para o Programa Nacional, é a colocação da disciplina militar como base da vida escolar. Apenas para citar alguns exemplos básicos, os estudantes usam fardas de inspiração militar, precisam usar sempre os cabelos curtos no caso dos meninos e cabelo preso no caso das meninas, fazem ordem unida no pátio da escola antes do início das aulas e batem continência para a autoridade militar presente.
Não é intenção deste Parecer fazer uma análise do Programa, mas tecer comentários sobre seus propósitos, a que interesses pode atender, a que sociedade ele se destina, de modo a embasar uma reflexão coletiva sobre o tema e uma possível tomada de decisão sobre a adesão a ele.
Justamente porque o Programa afirma visar a preparação do estudante para a cidadania, conforme citado acima, devemos perguntar: de que cidadania falamos? Desde o início do processo de redemocratização do país, em 1985, a construção e promoção da cidadania tornou-se uma palavra-chave: ela é um dos pilares da Constituição Federal de 1988, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e da política pública que se construiu no campo da Educação desde então. Cidadania compreendida como participação efetiva da comunidade na vida política brasileira. Não apenas como eleitores em cada votação, mas como agentes políticos ativos, participantes nas ações da comunidade nas mais variadas esferas, das locais às federais. Essa ação cidadã precisa ser construída, o cidadão precisa ser formado para que possa efetivamente ser um membro participante de sua comunidade. A política educacional produzida nas últimas décadas direcionou essa formação cidadã para uma ação política consciente e refletida. O cidadão é aquele que toma parte em uma comunidade, que é ativo, que é capaz de compreender a realidade na qual está inserido, sendo capaz de refletir sobre ela e tomar suas decisões. Trata-se, pois, de uma formação complexa e articulada, que prevê acesso a conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade nas mais diversas áreas, mas prevê também a formação de comportamentos em que as decisões individuais não podem ser desarticuladas dos contextos coletivos. Um cidadão precisa ser livre, capaz de tomar suas próprias decisões, agir em acordo com seus princípios, assumindo a plena responsabilidade por seus atos e suas consequências, tendo sempre em mente que suas ações estão inseridas numa coletividade.
Leia a matéria completa aqui no site da UNICAMP


quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Nojo do Cláudio Humberto, jornalista do Band News


    

        Essa onda conservadora que vem assolando o país está muito além de conservadorismo, beira a irracionalidade. Atacam-se ideias, opiniões e, principalmente, pessoas sem sequer terem a decência de se informar a respeito.

       Ontem foi o dia dos professores. e além de não recebermos nenhuma homenagem digna de nossa profissão somos constantemente atacados por uma mídia golpista que insiste em passar a impressão de que, ou somos culpados pelos males do país ou somos sacerdotes e sacerdotisas e, por isso, devemos acolher a todos e todas da sociedade e resolver os problemas sociais do país, que deveria ser competência do governo federal.

      
      O jornalista da Band News, Cláudio Humberto, põe a culpa das mazelas do país na nossa conta, vomitando absurdos como estes: que os professores ganham muito bem, são vagabundos e têm muitas regalias. Não é exagero!

      O país está quebrado e falido por culpa dos políticos, não de professores e as malandragens, são feitas no Congresso e no Senado, pois professores não ganham casa, auxílios paletó  etc (inclusive o nosso presidente entende muito bem disso, já que viveu 23 anos exercendo a função de político no estado do Rio de janeiro e nunca fez absolutamente nada, a não ser ajudar a seus amigos e familiares).

        Caso de polícia são jornalistas que não fazem a mínima ideia do que falam e criticam uma profissão que nunca exerceram, nos difamando e caluniando. Professor ganha muito bem? Não corre risco de nada? Ele não lê jornais? Os seus comentários são tão absurdos que todos os professores deveriam se unir e processar esse senhor por tanta barbaridade.



Apesar de tudo desejo um Feliz Dia dos Professores




domingo, 6 de outubro de 2019

Resistência à ciência - Pesquisa FAPESP

     
Fonte: NetNature
Crise de confiança suscita debate mundial sobre como enfrentar ataques ao conhecimento científico
A ciência vive uma crise de confiança. Em sociedades polarizadas, nas quais notícias falsas e teorias da conspiração se propagam com rapidez pelas redes sociais, o conhecimento científico tornou-se alvo frequente de ataques que reverberam em grupos com crenças ou interesses políticos ou econômicos contrariados – ou simplesmente com baixo letramento. Os efeitos desse fenômeno estão ressaltados em um levantamento publicado em julho e realizado em 144 países, inclusive no Brasil, para conhecer a visão, o interesse e o grau de informação sobre assuntos ligados à ciência e tecnologia (C&T). Executado pelo Instituto Gallup por encomenda da organização britânica Wellcome Trust, o estudo ouviu mais de 140 mil pessoas e verificou que, no caso dos brasileiros, 73% desconfiam da ciência e 23% consideram que a produção científica pouco contribui para o desenvolvimento econômico e social do país. Tal nível de descrédito não é uma exclusividade do Brasil e afeta nações desenvolvidas como França e Japão, onde 77% dos entrevistados também declaram desconfiar da ciência.

     O relatório Wellcome global monitor constatou ainda que a percepção e o engajamento dos brasileiros em relação à ciência são influenciados por crenças religiosas. Quase metade dos entrevistados disse que “a ciência em algum momento foi contra minhas convicções religiosas”, e, nesse grupo, três quartos afirmaram que “quando ciência e religião discordam, escolho a religião”. Tendência semelhante foi observada nos Estados Unidos, onde a ciência em algum momento confrontou as concepções religiosas de 59% dos entrevistados — destes, 60% ficaram com a religião.
Fonte: Fernando Nogueira Costa

     Os dados mostram que, em países desenvolvidos, a percepção sobre os benefícios da ciência é três vezes maior entre indivíduos que dizem levar uma “vida confortável” em relação aos que relatam enfrentar dificuldades. O nível de confiança nos cientistas também parece ter uma correlação com o coeficiente de Gini, índice que mede o grau de concentração de renda, nos países analisados. “Em países mais desiguais, as pessoas tendem a desconfiar mais da ciência do que em nações mais igualitárias”, escreveu Mark Henderson, diretor de comunicações da Wellcome Trust. Para Simon Chaplin, diretor de Cultura e Sociedade da organização britânica, as evidências em vários países sugerem que o descrédito na ciência tem relação com a reputação de outras instituições, como o governo e a Justiça. “É um alerta para todos que gostam de pensar na ciência como algo neutro e separado da sociedade em que vivemos.”


segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Indisciplina - Celso Vasconcellos

     
               
    


Motivado pela questão da ausência da disciplina em sala de aula, o pedagogo Celso dos Santos Vasconcellos publicou recentemente sua pesquisa: Este assunto tem sido objeto de grande preocupação da chefia departamental do Curso de Desenho Industrial da PUC-PR, que pretendeu traçar um plano de ação, no ano de 1996, para enfrentar a questão da indisciplina.

     Na universidade, muitos dos professores são profissionais que bruscamente passaram para a condição de educadores sem nenhuma pedagogia ou didática para enfrentar as adversidades e diversidades de uma sala de aula, suprida em parte pela experiência e pelo convívio entre os pares.

     Mas uma das maiores dificuldades é, sem dúvida, a indisciplina na educação. Tornou-se um grande desafio, que cada vez mais tem sido alvo de preocupação das escolas, da direção, dos pais e professores.
Da pré-escola à universidade, nunca a relação professor- aluno esteve tão difícil.
     
     Assim como um médico, em sua formação acadêmica, de modo geral não é preparado psicologicamente para receber os inevitáveis impactos e problemáticas características de sua profissão, também o professor geralmente não recebe por parte da escola e por comodismo próprio o suporte para administrar esta série de microcosmos com diferentes composições genéticas, origens, histórias, famílias, expectativas, pensamentos, experiências etc. Vasconcellos pergunta: “Como desencadear um processo de aprendizagem num universo tão diversificado?”. 

     Os agentes sociais–a Igreja, os partidos, a família, a escola, a ciência–não estão com seus autogovernos definidos, vitimando e desorientando o aluno. Estão em uma crise que merece um enfrentamento e um envolvimento maduro e consciente por parte de todos. Não se trata de descobrir os culpados. As causas da indisciplina estão entrelaçadas com a sociedade, a família, a escola, o professor e o aluno. São problemas familiares, carências, influências da TV, de toda a mídia, o que demanda uma atuação organizada e articulada em todas as frentes.

     A família e a escola mudaram muito. Antes, a família era cúmplice da escola. Hoje deposita suas funções e delega suas responsabilidades a ela, porém a critica. Cada vez mais os alunos vêm para a escola com menos limites trabalhados pela família.

     Qual o papel da universidade? Falta perspectiva para o jovem. Estudar para quê? Promove a ascensão social? Prepara para a profissão? Forma a cidadania? Houve uma profunda mudança na relação universidade-sociedade e não percebemos. A sociedade mostra-se imatura pelo alto consumismo, levando à busca da satisfação imediata do prazer, diminuindo a capacidade de tolerância à frustração e aumentando a agressividade, a violência, a crise ética da corrupção, do “levar vantagem em tudo”. A indisciplina na sala de aula comparada à indisciplina social não é tão grave. 


     Conforme Vasconcellos, “segundo alguns analistas, daqui a algum tempo teremos no país apenas duas categorias de pessoas: os que não comem – porque não têm o que comer – e os que não dormem –de medo dos que não comem...” (1994, p. 24).

     Vasconcellos (idem, p. 24) nos alerta que “a sociedade espera que a sala de aula seja um lugar de submissão, de doutrinação, de seleção natural, de domesticação”.

     E a universidade? Funciona ou está reproduzindo esse sistema? O que a universidade está fazendo dentro da sua autonomia relativa? Para que tipo de sociedade está colaborando? Ela quer formar o cidadão ativo, responsável e autônomo mas não lhe dá a oportunidade de exercitar-se. É quase sempre constituída por um aglomerado de pessoas e não por uma equipe de trabalho.

     Apresenta propostas curriculares desarticuladas e anacrônicas. E o educador? Qual é a sua postura: autoritária, conformada, comprometida, desesperada, desanimada, consciente? Que visão tem de sua ação pedagógica? Repressiva ou liberal? Vê o aluno como um mal necessário e a liberdade como um monstro subversivo e corrosivo, ou tem medo de ser repressor, quer ser legal e exalta o descompromisso, o espontaneísmo e a atitude do “cada um na sua”? Este último, pelo abandono e pela falta de responsabilidade, disciplina e conteúdo, acaba sendo desmoralizado pelos alunos “libertados”. Esses extremos aumentam o descompromisso e o descaso, transformando o movimento educacional num processo destrutivo.


     Essas relações mostram-se alienadas. O professor espera que a classe faça silêncio para poder dar aula; o aluno quer logo ir embora e receber a nota; a direção não quer problemas e os pais querem que o filho seja aprovado objetivando a ascensão social.

     Quantos professores há que não estão preocupados com o futuro do educando, mas sim em sobreviver como educador. Não encaram o aluno-problema como desafio pedagógico. O professor que apenas quer obter o silêncio tem visão estreita.

     Os repressores conseguem uma disciplina que se esvai quando os alunos não estão na sua presença. O ideal é mostrar os limites, mas também as possibilidades, geralmente esquecidas. A educação por coação produz uma personalidade dependente, imatura e pouco criativa. 
O professor não entra sozinho na sala de aula. Vão com ele os colegas, os funcionários, as regras, as vivências, toda a instituição está representada. Que imagem os alunos fazem da universidade? 
  
     O professor precisa refletir a sua prática, fazer uma autocrítica. Sem uma definição clara do seu papel, não estará em condições de educar, dado que o aluno capta isso com muita facilidade e explora essa fragilidade. A falta de convicção da proposta do professor gera um acúmulo de dificuldades, podendo chegar a uma confusão generalizada na sala de aula. São aulas sem aprofundamento, sem clareza dos objetivos, sem renovação metodológica, sem articulação interdisciplinar, sem conteúdos relacionados com as necessidades do aluno. Vasconcellos nos diz que “não se trata de fazer ajustes no velho para que ele permaneça, ao contrário, a perspectiva é dar pequenos passos, mas concretos na nova direção, preparando um salto qualitativo, e fazer com que seja uma mudança duradoura”.

     Há um consenso de que sem disciplina não se pode fazer nenhum trabalho pedagógico significativo. Em uma mesma universidade existem professores conseguindo realizar um bom trabalho. Assim sendo, será que existe o aluno indisciplinado “em si”? Para Rosemberg, “é preciso saber ouvir e compreender a mensagem que se esconde por trás do comportamento manifesto como indisciplina”.

     Trata-se de redimensionar o problema. A questão central não está na disputa entre professor e aluno, mas na organização do trabalho coletivo em sala de aula para se realizar a construção do conhecimento, quando o professor é o articulador da proposta, o coordenador do processo de aprendizagem e deve assumir seu papel de agente histórico de transformação da realidade, por meio de um ensino exigente e inteligente.      
     Estar inteiro na sala de aula, manter a tensão entre a ternura e o vigor, o porto seguro e o “mar aberto”, entre direção e participação. Cabe a ele resgatar valores do passado, mas estar aberto aos novos valores emergentes, em função das necessidades colocadas pelas contradições sociais, políticas, econômicas, culturais, num processo de continuidade-ruptura, numa visão dialética.

     O ideal seria uma disciplina consciente e interativa, marcada por participação, respeito, responsabilidade, construção do conhecimento, formação do caráter e da cidadania.

     A disciplina deve formar o aluno “como pessoa capaz de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar quem dirige”.

     Não queremos mais a educação tradicional autoritária, mas não desejamos a educação moderna, de cunho espontaneísta. A efetivação de uma disciplina democrática na universidade depende da democratização da sociedade, na medida em que esta assumir uma nova ética social (superar a “Lei de Gerson”), valorizar a educação e adotar uma nova política para os meios de comunicação.

      Vasconcellos conclui que “os educadores devem se comprometer com o processo de transformação da realidade, alimentando um projeto comum de escola e de sociedade”, como numa orquestra.
“...Ninguém educa ninguém. Ninguém se educa sozinho. Os homens se educam em comunhão, mediados pela realidade." (Paulo  Freire)

                      Quem não é Paulo Freire - Meteoro Brasil


Fonte: Texto extraído da apostila Solução-preparatório para concursos públicos

segunda-feira, 15 de julho de 2019

O marxismo cultural existe?


O marxismo cultural





Tudo começou em 2014, quando comecei a acompanhar o mais novo (não tão novo) guru do nosso presidente, Olavo de Carvalho, e suas deduções a respeito de ciência, que é a minha área. Lembro que vi um vídeo dele refutando Isaac Newton e, por ser professora de física e saber que refutar uma teoria científica não é uma coisa tão simples, fui ler os textos onde ele apresentava os “fundamentos” para as tais “refutações”.


A conclusão foi óbvia: apesar de sua boa retórica, as ditas refutações baseavam-se em suposições deturpadas do que é ciência e teoria científica. E esse não foi o único texto que li!  Havia textos onde falava de Einstein, Galileu e outros assuntos. Todos os seus textos (científicos ou não) continham erros crassos de compreensão e interpretação dos conceitos básicos, mas uma coisa me chamou a atenção, a quantidade de seguidores e de pessoas que acreditavam naquelas sandices mal interpretadas por ele. Nem vou falar do palavreado que utiliza nos vídeos, pois os textos são completamente diferentes. Como eu disse, ele tem uma boa retórica que consegue convencer o leitor leigo.

Alguns youtubers, que fazem divulgação científica na internet, chegaram a criar conteúdo de qualidade falando sobre esses erros, mas não atingiram seus seguidores, pelo menos não que eu saiba, e o “olavismo” começa a tomar conta das redes sociais. O fenômeno da desinformação e da ignorância, não só científica, alcançou um patamar jamais visto. 


O pior, no entanto, estava para acontecer:  o Governo Federal atual, mais precisamente o Ministério da Educação, através de seus ministros (o anterior e o atual) defendem a ideia de que as universidades públicas estão permeadas de comunistas e que estamos diante do dito “marxismo cultural” que vinha distorcendo as ideias de nossos jovens e crianças e toda nossa sociedade.
Mas de onde surgiu isso?

Como disse Jessé de Souza em seu livro A Elite do Atraso: “No mundo moderno, quem cria legitimação do poder social que será a chave de acesso a todos os privilégios são os intelectuais”. E Olavo não ignora isso, mas como o próprio Jessé frisa “o presente não se cria sem o passado.”

Numa entrevista de Olavo de Carvalho concedida ao Pedro Bial em março desse ano, as coisas foram se tornando mais claras. Segundo ele, há uma hegemonia às ideias de esquerda dentro das universidades, que é feita através de um procedimento único, a orientação de teses, e que “Quando você aprova (tese) assegura que a próxima geração de professores será igualzinho a você”. “Pega os últimos 30 ou 40 anos e pergunta: Quantas teses anticomunistas foram aprovadas? A resposta é, nenhuma”.



Essa é a primeira inverdade (mentira mesmo!). Nos bancos de teses (eu verifiquei) existem teses que são “anticomunistas” e são muitos os autores citados, de diversas correntes do pensamento, porque, quando uma pesquisa é feita para o desenvolvimento de uma tese, nem sempre os autores citados são os que concordam com o tema que está sendo pesquisado. Aliás, existe algo que se chama “ Revisão por pares” (peer review) de artigos científicos, que “é a avaliação de resultados de pesquisa ou propostas de projetos quanto à competência, significância e originalidade, conduzida por especialistas qualificados que pesquisam e submetem para publicação trabalhos na mesma área (pares)”. (Scielo, 2009). Então, mesma área ou pares não quer dizer que só seus “amiguinhos” irão aprovar ou não sua tese!

Como Jessé de Souza diz no livro citado acima: “Quem atribui prestígio hoje em dia a uma ideia é o prestígio científico, assim como antes era o prestígio religioso ou supostamente divino, toda informação midiática, no jornal ou na TV, procura se legitimar com algum especialista na matéria que esteja sendo discutida. Nessa estratégia de dominação, que é mais simbólica do que material, é a posse do que é tido como verdadeiro que permite também se apoderar do que é percebido como justo ou injusto, honesto e desonesto, correto ou incorreto, bem ou mal e assim por diante. Controla-se a partir do prestígio científico, portanto, tudo o que importa na vida.”

Bom, mas de onde vem a ideia de educação marxista? Exatamente dessas teses aprovadas. Ou seja, Olavo tem razão! Calma! Razão dentro de sua mente deturpada.

A história da educação nos remete a sete tendências divididas em duas partes: as liberais e as progressistas. Para o texto não ficar muito extenso, vou falar apenas das últimas, as progressivas, que vêm a partir de Paulo Freire, constantemente atacado por Olavo e seus seguidores. Freire começa a ser levado em consideração a partir da Escola Nova, que faz parte da tendência liberal, antes da ditadura, e foi suprimida por ela, mas para não me alongar mais ainda os detalhes dessa história, abaixo consta  um vídeo sobre o Ginásio Vocacional (baseando-se na Escola Novista) que é interessante conhecer.



As tendências libertadoras, libertária e atualmente, Crítica Social dos Conteúdos ou Histórico-Crítica, que surgiram pós ditadura, têm em seu cerne as teorias freirianas (Paulo Freire), considerado marxista, (apesar de ter visto somente uma referência a Marx no rodapé de apenas um de seus livros). Os críticos dessas tendências, inclusive e principalmente Olavo, esqueceram de levar em consideração fatores determinantes de uma sociedade e de sua cultura.

O primeiro ponto a ser levado em consideração é sobre o conceito de cultura. Edward B. Tayor, o antropólogo britânico, pai do conceito moderno de cultura, define-a como “todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Segundo essa definição, cultura é tudo aquilo que permeia o meio social e a escola é apenas uma ínfima parte dentro desse todo. Mesmo que todos os professores fossem marxistas, o que não é, todo o corpo discente de uma escola não seria, pois além dela (escola) existem outros fatores que são muito mais definidores de suas culturas (igreja, meio social etc.).

O erro de Olavo e seus seguidores é não levarem em consideração toda a história da nossa educação, inclusive a sua desvalorização política e social feita por aqueles que estão no poder desde a expulsão dos jesuítas, e todo contexto social e político. Simplesmente fazem uma análise superficial e partem do princípio de que, para barrarem essa “doutrinação marxista”, devem destruir as universidades públicas e toda as “ideias esquerdistas” que estão em seu interior.

O desmonte das universidades e escolas públicas está sendo feito a partir (também) de uma teoria conspiratória unindo à vontade política de dominar os poderes políticos e econômicos. O resultado é que temos um avanço significativo desse desmonte feito por esse governo, que tem no seu plano a extirpação dessa dita doutrinação alimentado por um cérebro deturpado.


Onde vamos parar eu não sei, mas se faz mais que urgente uma estratégia de difundir as ideias acadêmicas para a sociedade, pois, a meu ver, a mídia não está muito interessada na ciência propriamente dita, mas naquilo que proporciona status e dinheiro. Principalmente levar esse conhecimento aos mais jovens das escolas públicas, através de vídeos, textos, livros, depoimentos etc., mostrando ao Ministro da Educação que ela, a pesquisa científica, não é balbúrdia, como ele mesmo disse. Sei que isso já é feito, mas precisamos, neste momento, de um esforço muito maior e mais amplo.

Referências:

A ELITE DO ATRASO

FREIRE, Paulo. Pedagogia Da Autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa, 1996. Paz e Terra, Goiânia, Brasil, 2002.

GASPARIN, João Luiz. Uma Didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. 2ª ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2003.



MONLVADE, João Antonio C. A Valorização dos Educadores na Constituição de 1988: Antecedentes e Consequentes, 2019. Volume V, A Constituição de 1988. O Brasil 20 anosdepois.https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/outras-publicacoes/volume-v-constituicao-de-1988-o-brasil-20-anos-depois.-os-cidadaos-na-carta-cidada/educacao-e-cultura-a-valorizacao-dos-educadores-na-constituicao-de-1988-antecedentes-e-consequentes, acessado em 20/06/2019.

RIBEIRO, Paulo R. M. História da Educação Escolar no Brasil: Notas para uma Reflexão, 1993.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X1993000100003, acessado em 19/06/2019.

Calô-Nassi, Liliam. Avaliação por pares: ruim com ela, pior sem ela. https://blog.scielo.org/blog/2015/04/17/avaliacao-por-pares-ruim-com-ela-pior-sem-ela/#.XRpn3ehKjcc, acessado em 01/07/2019.

domingo, 19 de maio de 2019

Educação não é balbúrdia




        Entenda o que são os “cortes” de gastos na educação. Será que eles ajudam a economia?





       Após os últimos protestos dos estudantes das universidades federais e estaduais, de escolas públicas, alguns das privadas, professores e trabalhadores contra a reforma da previdência e os cortes na educação, li diversos comentários nas páginas sociais, a maioria apoiando, conscientes do que isso acarretará ao país.  Mas  uma minoria ainda insiste, tentando defender algo sem ter a menor consciência, simplesmente por serem apoiadores de um Governo falido e por pura ignorância. Educação não é balbúrdia!  



             Muitos sequer conhecem o que está na Constituição e não sabem a definição do que é ser patriota, apesar de eu não gostar muito desse termo. Ele vem de pátria, que vem do Latim PATRIOTA, “o que ama ou serve à pátria”, do Grego PATRIOTÉS, de PATRIS, “terra natal”, por sua vez derivado de PATÉR, “pai”. Não sou patriota, pois não acredito nessa servidão à pátria, mas quero um país melhor e quem me conhece sabe que isso significa, como prioridade, uma educação pública de qualidade para todos e a diminuição das desigualdades sociais e, para isso, contamos com as prioridades do governo federal.

            Mas, qual a função do governo federal?

           Um presidente, que faz parte do executivo e do Governo Federal, deve em primeiro lugar ter como meta o bem-estar social (população/nação), diminuindo a desigualdade social, através de geração de empregos, moradia  etc. dando oportunidades a todos e, em segundo lugar, gerar crescimento econômico, nessa ordem.
Com relação à desigualdade, ela só pode começar a ser resolvida com, entre outros fatores,  educação pública de qualidade,  pois a 4ª revolução industrial, tecnológica e científica exige não só trabalhadores tecnicamente preparados, mas também cérebros pensantes, como o mínimo necessário para o desenvolvimento de uma sociedade.
Na postagem anterior, que você pode ler aquimostrei o que está por trás dessa manobra para destruir a educação pública, incluindo as universidades e essas pessoas que se dizem defensores da pátria, os ditos homens de bem, deveriam, antes de qualquer coisa, lutar pelo cumprimento da Constituição, que diz:

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino.
§ 1º A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, os Estados e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
§ 5º A educação básica pública atenderá prioritariamente ao ensino regular. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).

            Como podem perceber é obrigação do Estado (ente federado) e da União financiar as instituições públicas federais, cabendo aos estados e municípios a educação básica. Então antes de acusar os Governos Federais dos índices ruins nas escolas públicas saibam o que determina lei e cobrem das pessoas certas (prefeitos e governadores).

           Com relação às Universidades Federais, diante do que vem acontecendo na nossa conjuntura política, elas estão muito bem, com bons índices, inclusive nas pesquisas básicas, que são essenciais para o crescimento do país. Vocês podem verificar aqui, na reportagem publicada em 26 set 2018 pela revista Exame e também na  Folha de São Paulo no mesmo ano.


            Para terminar, acredito que, se as pessoas usassem as redes sociais para debates realmente produtivos e divulgação de conhecimento, teríamos um país melhor e não elegeríamos um presidente só por ir contra um sistema ou a corrupção, pois isso (corrupção) só será revertido através da conscientização política da população e de uma educação pública laica, de qualidade e que respeite as diferenças, pois, ao contrário do que pensa o atual presidente, ele não governa sozinho nem apenas para os seus seguidores ou eleitores. Não estamos numa ditadura. Embora recente, estamos construindo nossa democracia e não podemos, como nesses últimos anos, nos deixar manipular e continuar cometendo erros após erros. Temos que nos conscientizar de que o conhecimento histórico/social/político é imprescindível e a internet, tanto quanto a escola, tem um papel fundamental nisso e, ao contrário do que essa nova política (neoliberal) nos faz acreditar, mercado não é a solução e liberar a economia também não. Os vídeos abaixo mostram o que significa tudo isso:       "Mercado não seria a solução, ele é o problema"



                                          A quem interessa o desmonte do Brasil?



           Vale ressaltar que as referências postadas aqui não devem ser sua única fonte de conhecimento. Uma sociedade consciente é construída com educação e criticidade. Lutemos por ambas.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

A escola reflete a sociedade que queremos




"Não têm que preparar para o trabalho que os alunos terão no futuro, e sim para o tipo de sociedade em que eles querem viver. Eu te ofereço as habilidades digitais para que você trabalhe no Google ou no Facebook, mas você viverá numa sociedade fascista e intolerante. Isso não vale. É preciso priorizar que eles aprendam a serem cidadãos informados, quando há partidos de extrema direita que estão ascendendo ao poder."


Uma reportagem muito interessante, que leva a todos e todas, principalmente professores a refletirem na sociedade que queremos formar. Leia mais...


O pedagogo norte-americano Henry Giroux defende que todas as disciplinas incorporem o pensamento crítico para promover o combate a ideologias extremistas: "A direita não quer que as pessoas pensem"

terça-feira, 7 de maio de 2019

As escolas públicas e a evangelização



Hoje, dia 5 de maio, tive conhecimento das alterações feitas ontem na LDB que você poderá conferir nesse vídeo.
Atualizando as informações. Dia 21/09/2019. Pelas evidências não era um devaneio, infelizmente! 


A página da própria Anup, citada no final do texto:

E mais:

Esse artigo escrito em maio desse mesmo ano nunca fez tanto sentido:

Começo esse artigo dizendo que espero estar errada em tudo. Espero, sinceramente, que eu esteja sendo alarmista e pessimista com relação à educação e ao país.

Desde que o atual presidente assumiu vêm ocorrendo diversos desmontes em áreas sociais, que também são preocupantes, mas vou me ater a falar da educação, minha área de atuação.

O avanço das “faculdades qualquer coisa” e dos cursos on line começou no ano passado. Claro que já havia, mas com a Reforma do Ensino médio, que nunca deveria ter acontecido, aumentou muito.

Quando, antes das eleições, li o plano de governo do atual presidente, percebi que o que estava por trás não era apenas o desmonte da educação pública em geral, mas um processo de poder das igrejas evangélicas que hoje estão na política e isso foi claramente explicitado com a sugestão da educação domiciliar.

O fanatismo religioso aliado aos discurso anti-intelectual tem ganhado força. As escolas públicas que, ano após ano têm sido sucateadas propositadamente, têm o descaso do poder público acentuado nesse governo e faz com que as igrejas evangélicas, que hoje permeiam o Planalto e o Congresso, arrebanhem mais fiéis com a história do homescholling defendido pelos fundamentalistas religiosos e oportunistas ignorantes que estão no governo.

Há pessoas dizendo que não, que é um delírio meu, pois os país jamais terão condições de custear a educação domiciliar, afinal a maioria precisa trabalhar, mesmo que informalmente, e não terão condições econômicas, físicas, pedagógicas ou mesmo psicológicas de proporcionar a seus filhos e filhas tal educação, afinal de contas não possuem nem poder aquisitivo, tempo ou mesmo um preparo adequado para tal.

Concordo! Mas qual seria a saída, já que a escola não oferece segurança nem ensino de qualidade, além de ter professores doutrinadores sexuais e de esquerda e que estão levando seus filhos e filhas para um mau caminho, longe de Deus?
Logo, as igrejas estarão criando “escolas paroquiais”, com turmas de alunos que pretensamente deveriam estar tendo o tal “ensino domiciliar”, driblando a lei (o que está subentendido na proposta do governo) e dando maior poder (e grana) aos pastores que, logicamente, cobrarão bem caro pelos serviços prestados. E com toda a carga ideológica e religiosa das tais igrejas, claro, de acordo com a vontade dos pais obtusos pela crença.

Com relação à educação superior, é um pouco diferente. Por enquanto, não teremos as igrejas investindo nesse seguimento, mesmo porque esse é um processo bem lento. Mas, teremos as grandes corporações educacionais oferecendo diplomas superiores e técnicos on line, pois será uma educação com baixo custo, sem precisar arcar com prédios e instalações, e isso vai ocasionar mais empobrecimento do conhecimento, pois, com esse MEC que está aí, basta ser favorável ao governo, não precisa de qualidade.

Reproduzo recente reportagem do jornal El País sobre o tema: “No plano já ventilado por apoiadores de Bolsonaro, há propostas como a cobrança de mensalidade nas universidades que dependem de alterações na Constituição – a gratuidade está prevista em todos os níveis do ensino público. Para revogar as cotas raciais, desejo antigo do presidente de extrema direita, que pretende manter apenas as cotas sociais, ele teria de mexer na lei de 2012 que reserva vagas para estudantes negros e indígenas nas instituições federais.

As emendas precisam de aprovação em dois turnos na Câmara e no Senado. Pelos acenos favoráveis a seu partido, que elegeu a segunda maior bancada de deputados, o governo não teria grandes entraves para aglutinar maioria em torno dos projetos, mas corre o risco de desperdiçar capital político previsto para reformas que lhe exigirão mais esforços, como a tributária e a da Previdência. ”

Vale lembrar que a atual vice-presidente da Associação Nacional Das Universidades Privadas (Anup) é irmã do atual ministro da economia, Paulo Guedes. Fica muito difícil não ver uma ligação entre os cortes de investimento do Ministério da Educação (MEC) às Universidades Federais e o plano de poder. Repito o que disso no começo desse artigo: eu espero, sinceramente, que isso seja apenas um devaneio.




Fontes:

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Banco Mundial e a Educação




Muitos dos gestores e professores que estão nas escolas e lutam por melhores condições e salários não atentaram ainda para uma questão de extrema preocupação e importância: o papel do Banco Mundial na educação.

Apesar de o investimento na área não ser muito irrelevante (cerca de 0,5% da despesa total) ele se transformou no principal agente de assistência técnica, na área, aos países em desenvolvimento, o que inclui o Brasil. É a maior fonte de fundos externos para melhorar o aceso, a equidade e a qualidade dos sistemas escolares. Só que o conceito de qualidade é diferente do nosso, que está diretamente ligado a área da educação.

Atualmente a ênfase do BM é na educação básica, mais precisamente na educação formal e infantil (como foi colocado como proposta do atual governo), deixando de lado a educação de jovens e adultos e a educação não-formal. Obviamente que há uma intenção por trás disso, que está explicado nas fontes apresentadas. Agora vou focar num outro ponto.

Na concepção do BM, a qualidade na educação seria o resultado de “insumos” com 9 fatores, por ordem de relevância:
1-    Bibliotecas
2-    Tempo de instrução
3-    Tarefas de casa
4-    Livros didáticos
5-    Conhecimento do professor
6-    Experiência do professor
7-    Laboratórios
8-    Salário do professor
9-    Tamanho da classe

As conclusões que o BM tira desses “insumos” é que os três últimos são investimentos irrelevantes e se recomenda investir nos três primeiros.

      Vale destacar que a autonomia escolar está diretamente ligada ao financeiro e administrativo e lembrando que o assunto hoje nas escolas é a gestão democrática, participação maior da comunidade e dos alunos pertencente a elas. Mas o que daria mais autonomia às escolas não fica claro nos documentos, o que fica claro é que há um impulso ao setor privado, pois propõe uma redefinição do papel tradicional do Estado em relação à educação. A noção dada de “participação” da comunidade e das famílias é cada vez mais contaminada pelo aspecto econômico, assim como o impulso ao setor privado e aos organismos não-governamentais e a educação passa a ser analisada com os critérios do mercado.

Só lembrando que esses critérios se baseiam em maior produção com menor custo, o que para o professor seria mais trabalho (produzir mais) com baixo salário (menor custo). Ressaltando que, para o BM, o custo do professor é muito alto.

As referências bibliográficas contidas no final desse texto opinativo dão uma ideia clara do que eu digo. É hora de mudarmos o foco, não com relação às reivindicações (salários justos, melhor infraestrutura, menor quantidade de alunos por sala etc.), mas perceber qual é realmente o foco de luta, para que consigamos um dia ser valorizados.


Só lembrando que o atual governo deixou bem claro que pretende dar mais autonomia ao BM e, se analisarem bem o atual contexto  educacional, as propostas do BM e desse governo, perceberão que as reformas (e emparelhamentos) que estão sendo feitos nos leva a crer que a intenção não é melhorar a vida de professores e gestores, mas exigir mais com menor custo.  


Referências:
TORRES, R. M. Melhorar a qualidade da educação básica?: as estratégias do Banco Mundial. In: TOMMASI, L.; WARDE, M. J.; HADDAD, S. (Org.). O Banco Mundial e as políticas educacionais. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2000.
PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 1997