FÍSICA SEM EDUCAÇÃO

A única maneira de fazer o Brasil progredir é com educação, informação e caráter.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

O socialismo de Albert Einstein

Albert Einstein
Einstein escreveu este trabalho especialmente para o lançamento da Monthly Review , cujo primeiro número foi publicado em Maio de 1949. Tradução de Anabela Magalhães. 

O original deste artigo encontra-se em http://www.monthlyreview.org/598einst.htm . 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info


Porquê o Socialismo?

por Albert Einstein
Será aconselhável para quem não é especialista em assuntos económicos e sociais exprimir opiniões sobre a questão do socialismo? Eu penso que sim, por uma série de razões.

Consideremos antes de mais a questão sob o ponto de vista do conhecimento científico. Poderá parecer que não há diferenças metodológicas essenciais entre a astronomia e a economia: os cientistas em ambos os campos tentam descobrir leis de aceitação geral para um grupo circunscrito de fenómenos de forma a tornar a interligação destes fenómenos tão claramente compreensível quanto possível. Mas, na realidade, estas diferenças metodológicas existem. A descoberta de leis gerais no campo da economia torna-se difícil pela circunstância de que os fenómenos económicos observados são frequentemente afectados por muitos factores que são muito difíceis de avaliar separadamente. Além disso, a experiência acumulada desde o início do chamado período civilizado da história humana tem sido – como é bem conhecido – largamente influenciada e limitada por causas que não são, de forma alguma, exclusivamente económicas por natureza. Por exemplo, a maior parte dos principais estados da história ficou a dever a sua existência à conquista. Os povos conquistadores estabeleceram-se, legal e economicamente, como a classe privilegiada do país conquistado. Monopolizaram as terras e nomearam um clero de entre as suas próprias fileiras. Os sacerdotes, que controlavam a educação, tornaram a divisão de classes da sociedade numa instituição permanente e criaram um sistema de valores segundo o qual as pessoas se têm guiado desde então, até grande medida de forma inconsciente, no seu comportamento social.

Mas a tradição histórica é, por assim dizer, coisa do passado; em lado nenhum ultrapassámos de facto o que Thorstein Veblen chamou de “fase predatória” do desenvolvimento humano. Os factos económicos observáveis pertencem a essa fase e mesmo as leis que podemos deduzir a partir deles não são aplicáveis a outras fases. Uma vez que o verdadeiro objectivo do socialismo é precisamente ultrapassar e ir além da fase predatória do desenvolvimento humano, a ciência económica no seu actual estado não consegue dar grandes esclarecimentos sobre a sociedade socialista do futuro.

Segundo, o socialismo é dirigido para um fim sócio-ético. A ciência, contudo, não pode criar fins e, muito menos, incuti-los nos seres humanos; quando muito, a ciência pode fornecer os meios para atingir determinados fins. Mas os próprios fins são concebidos por personalidades com ideais éticos elevados e – se estes ideais não nascerem já votados ao insucesso, mas forem vitais e vigorosos – adoptados e transportados por aqueles muitos seres humanos que, semi-inconscientemente, determinam a evolução lenta da sociedade.

Por estas razões, devemos precaver-nos para não sobrestimarmos a ciência e os métodos científicos quando se trata de problemas humanos; e não devemos assumir que os peritos são os únicos que têm o direito a expressarem-se sobre questões que afectam a organização da sociedade.

Inúmeras vozes afirmam desde há algum tempo que a sociedade humana está a passar por uma crise, que a sua estabilidade foi gravemente abalada. É característico desta situação que os indivíduos se sintam indiferentes ou mesmo hostis em relação ao grupo, pequeno ou grande, a que pertencem. Para ilustrar o meu pensamento, permitam-me que exponha aqui uma experiência pessoal. Falei recentemente com um homem inteligente e cordial sobre a ameaça de outra guerra, que, na minha opinião, colocaria em sério risco a existência da humanidade, e comentei que só uma organização supra-nacional ofereceria protecção contra esse perigo. Imediatamente o meu visitante, muito calma e friamente, disse-me: “Porque se opõe tão profundamente ao desaparecimento da raça humana?”

Tenho a certeza de que há tão pouco tempo como um século atrás ninguém teria feito uma afirmação deste tipo de forma tão leve. É a afirmação de um homem que tentou em vão atingir um equilíbrio interior e que perdeu mais ou menos a esperança de ser bem sucedido. É a expressão de uma solidão e isolamento dolorosos de que sofre tanta gente hoje em dia. Qual é a causa? Haverá uma saída?

É fácil levantar estas questões, mas é difícil responder-lhes com um certo grau de segurança. No entanto, devo tentar o melhor que posso, embora esteja consciente do facto de que os nossos sentimentos e esforços são muitas vezes contraditórios e obscuros e que não podem ser expressos em fórmulas fáceis e simples.

O homem é, simultaneamente, um ser solitário e um ser social. Enquanto ser solitário, tenta proteger a sua própria existência e a daqueles que lhe são próximos, satisfazer os seus desejos pessoais, e desenvolver as suas capacidades inatas. Enquanto ser social, procura ganhar o reconhecimento e afeição dos seus semelhantess, partilhar os seus prazeres, confortá-los nas suas tristezas e melhorar as suas condições de vida. Apenas a existência destes esforços diversos e frequentemente conflituosos respondem pelo carácter especial de um ser humano, e a sua combinação específica determina até que ponto um indivíduo pode atingir um equilíbrio interior e pode contribuir para o bem-estar da sociedade. É perfeitamente possível que a força relativa destes dois impulsos seja, no essencial, fixada por herança. Mas a personalidae que finalmente emerge é largamente formada pelo ambinte em que um indivíduo acaba por se descobrir a si próprio durante o seu desenvolvimento, pela estrutura da sociedade em que cresce, pela tradição dessa sociedade, e pelo apreço por determinados tipos de comportamento. O conceito abstracto de “sociedade” significa para o ser humano individual o conjunto das suas relações directas e indirectas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas de gerações anteriores. O indíviduo é capaz de pensar, sentir, lutar e trabalhar sozinho, mas depende tanto da sociedade – na sua existência física, intelectual e emocional – que é impossível pensar nele, ou compreendê-lo, fora da estrutura da sociedade. É a “sociedade” que lhe fornece comida, roupa, casa, instrumentos de trabalho, língua, formas de pensamento, e a maior parte do conteúdo do pensamento; a sua vida foi tornada possível através do trabalho e da concretização dos muitos milhões passados e presentes que estão todos escondidos atrás da pequena palavra “sociedade”.

É evidente, portanto, que a dependência do indivíduo em relação à sociedade é um facto da natureza que não pode ser abolido – tal como no caso das formigas e das abelhas. No entanto, enquanto todo o processo de vida das formigas e abelhas é reduzido ao mais pequeno pormenor por instintos hereditários rígidos, o padrão social e as interrelações dos seres humanos são muito variáveis e susceptíveis de mudança. A memória, a capacidade de fazer novas combinações, o dom da comunicação oral tornaram possíveis os desenvolvimentos entre os seres humanos que não são ditados por necessidades biológicas. Estes desenvolvimentos manifestam-se nas tradições, instituições e organizações; na literatura; nas obras científicas e de engenharia; nas obras de arte. Isto explica a forma como, num determinado sentido, o homem pode influenciar a sua vida através da sua própria conduta, e como neste processo o pensamento e a vontade conscientes podem desempenhar um papel.

O homem adquire à nascença, através da hereditariedade, uma constituição biológica que devemos considerar fixa ou inalterável, incluindo os desejos naturais que são característicos da espécie humana. Além disso, durante a sua vida, adquire uma constituição cultural que adopta da sociedade através da comunicação e através de muitos outros tipos de influências. É esta constituição cultural que, com a passagem do tempo, está sujeita à mudança e que determina, em larga medida, a relação entre o indivíduo e a sociedade. A antropologia moderna ensina-nos, através da investigação comparativa das chamadas culturas primitivas, que o comportamento social dos seres humanos pode divergir grandemente, dependendo dos padrões culturais dominantes e dos tipos de organização que predominam na sociedade. É nisto que aqueles que lutam por melhorar a sorte do homem podem fundamentar as suas esperanças: os seres humanos não estão condenados, devido à sua constituição biológica, a exterminarem-se uns aos outros ou a ficarem à mercê de um destino cruel e auto-infligido.

Se nos interrogarmos sobre como deveria mudar a estrutura da sociedade e a atitude cultural do homem para tornar a vida humana o mais satisfatória possível, devemos estar permanentemente conscientes do facto de que há determinadas condições que não podemos alterar. Como mencionado anteriormente, a natureza biológica do homem, para todos os objectivos práticos, não está sujeita à mudança. Além disso, os desenvolvimentos tecnológicos e demográficos dos últimos séculos criaram condições que vieram para ficar. Em populações com fixação relativamente densa e com bens indispensáveis à sua existência continuada, é absolutamente necessário haver uma extrema divisão do trabalho e um aparelho produtivo altamente centralizado. Já lá vai o tempo – que, olhando para trás, parece ser idílico – em que os indivíduos ou grupos relativamente pequenos podiam ser completamente auto-suficientes. É apenas um pequeno exagero dizer-se que a humanidade constitui, mesmo actualmente, uma comunidade planetária de produção e consumo.

Cheguei agora ao ponto em que vou indicar sucintamente o que para mim constitui a essência da crise do nosso tempo. Diz respeito à relação do indivíduo com a sociedade. O indivíduo tornou-se mais consciente do que nunca da sua dependência relativamente à sociedade. Mas ele não sente esta dependência como um bem positivo, como um laço orgânico, como uma força protectora, mas mesmo como uma ameaça aos seus direitos naturais, ou ainda à sua existência económica. Além disso, a sua posição na sociedade é tal que os impulsos egotistas da sua composição estão constantemente a ser acentuados, enquanto os seus impulsos sociais, que são por natureza mais fracos, se deterioram progressivamente. Todos os seres humanos, seja qual for a sua posição na sociedade, sofrem este processo de deterioração. Inconscientemente prisioneiros do seu próprio egotismo, sentem-se inseguros, sós, e privados do gozo naïve, simples e não sofisticado da vida. O homem pode encontrar sentido na vida, curta e perigosa como é, apenas dedicando-se à sociedade.

A anarquia económica da sociedade capitalista como existe actualmente é, na minha opinião, a verdadeira origem do mal. Vemos perante nós uma enorme comunidade de produtores cujos membros lutam incessantemente para despojar os outros dos frutos do seu trabalho colectivo – não pela força, mas, em geral, em conformidade com as regras legalmente estabelecidas. A este respeito, é importante compreender que os meios de produção – ou seja, toda a capacidade produtiva que é necessária para produzir bens de consumo bem como bens de equipamento adicionais – podem ser legalmente, e na sua maior parte são, propriedade privada de indivíduos.

Para simplificar, no debate que se segue, chamo “trabalhadores” a todos aqueles que não partilham a posse dos meios de produção – embora isto não corresponda exactamente à utilização habitual do termo. O detentor dos meios de produção está em posição de comprar a mão-de-obra. Ao utilizar os meios de produção, o trabalhador produz novos bens que se tornam propriedade do capitalista. A questão essencial deste processo é a relação entre o que o trabalhador produz e o que recebe, ambos medidos em termos de valor real. Na medida em que o contrato de trabalho é “livre”, o que o trabalhador recebe é determinado não pelo valor real dos bens que produz, mas pelas suas necessidades mínimas e pelas exigências dos capitalistas para a mão-de-obra em relação ao número de trabalhadores que concorrem aos empregos. É importante compreender que, mesmo em teoria, o pagamento do trabalhador não é determinado pelo valor do seu produto.

O capital privado tende a concentrar-se em poucas mãos, em parte por causa da concorrência entre os capitalistas e em parte porque o desenvolvimento tecnológico e a crescente divisão do trabalho encorajam a formação de unidades de produção maiores à custa de outras mais pequenas. O resultado destes desenvolvimentos é uma oligarquia de capital privado cujo enorme poder não pode ser eficazmente controlado mesmo por uma sociedade política democraticamente organizada. Isto é verdade, uma vez que os membros dos órgãos legislativos são escolhidos pelos partidos políticos, largamente financiados ou influenciados pelos capitalistas privados que, para todos os efeitos práticos, separam o eleitorado da legislatura. A consequência é que os representantes do povo não protegem suficientemente os interesses das secções sub-privilegidas da população. Além disso, nas condições existentes, os capitalistas privados controlam inevitavelmente, directa ou indirectamente, as principais fontes de informação (imprensa, rádio, educação). É assim extremamente difícil e mesmo, na maior parte dos casos, completamente impossível, para o cidadão individual, chegar a conclusões objectivas e utilizar inteligentemente os seus direitos políticos.

Assim, a situação predominante numa economia baseada na propriedade privada do capital caracteriza-se por dois principais princípios: primeiro, os meios de produção (capital) são privados e os detentores utilizam-nos como acham adequado; segundo, o contrato de trabalho é livre. Claro que não há tal coisa como uma sociedade capitalista pura neste sentido. É de notar, em particular, que os trabalhadores, através de longas e duras lutas políticas, conseguiram garantir uma forma algo melhorada do “contrato de trabalho livre” para determinadas categorias de trabalhadores. Mas tomada no seu conjunto, a economia actual não difere muito do capitalismo “puro”.

A produção é feita para o lucro e não para o uso. Não há nenhuma disposição em que todos os que possam e queiram trabalhar estejam sempre em posição de encontrar emprego; existe quase sempre um “exército de desempregados. O trabalhador está constantemente com medo de perder o seu emprego. Uma vez que os desempregados e os trabalhadores mal pagos não fornecem um mercado rentável, a produção de bens de consumo é restrita e tem como consequência a miséria. O progresso tecnológico resulta frequentemente em mais desemprego e não no alívio do fardo da carga de trabalho para todos. O motivo lucro, em conjunto com a concorrência entre capitalistas, é responsável por uma instabilidade na acumulação e utilização do capital que conduz a depressões cada vez mais graves. A concorrência sem limites conduz a um enorme desperdício do trabalho e a esse enfraquecimento consciência social dos indivíduos que mencionei anteriormente.

Considero este enfraquecimento dos indivíduos como o pior mal do capitalismo. Todo o nosso sistema educativo sofre deste mal. É incutida uma atitude exageradamente competitiva no aluno, que é formado para venerar o sucesso de aquisição como preparação para a sua futura carreira.

Estou convencido que só há uma forma de eliminar estes sérios males, nomeadamente através da constituição de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educativo orientado para objectivos sociais. Nesta economia, os meios de produção são detidos pela própria sociedade e são utilizados de forma planeada. Uma economia planeada, que adeque a produção às necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho a ser feito entre aqueles que podem trabalhar e garantiria o sustento a todos os homens, mulheres e crianças. A educação do indivíduo, além de promover as suas próprias capacidades inatas, tentaria desenvolver nele um sentido de responsabilidade pelo seu semelhante em vez da glorificação do poder e do sucesso na nossa actual sociedade.

No entanto, é necessário lembrar que uma economia planeada não é ainda o socialismo. Uma tal economia planeada pode ser acompanhada pela completa opressão do indivíduo. A concretização do socialismo exige a solução de problemas socio-políticos extremamente difíceis; como é possível, perante a centralização de longo alcance do poder económico e político, evitar a burocracia de se tornar toda-poderosa e vangloriosa? Como podem ser protegidos os direitos do indivíduo e com isso assegurar-se um contrapeso democrático ao poder da burocracia?

A clareza sobre os objectivos e problemas do socialismo é da maior importância na nossa época de transição. Visto que, nas actuais circunstâncias, a discussão livre e sem entraves destes problemas surge sob um tabu poderoso, considero a fundação desta revista como um serviço público importante. 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A escuridão no fim do grande túnel de água do Brasil


Procurando noticias sobre aquecimento global num site que eu assino e gosto muito, News Cientist, me deparei com uma noticia sobre o Brasil, que tenho certeza que a maioria não tem conhecimento, afinal a nossa imprensa não noticia coisas relevantes. Eu traduzi e a noticia original se encontra nesse link  aqui 


A escuridão no fim do grande túnel de água do Brasil

Está sendo construído no Brasil o túnel Cuncas II, que é uma ambiciosa rede de 477 km de túneis e canais que estão sendo construídos para fornecer água ao Nordeste brasileiro. A região conta com uma longa história de secas e, atualmente, é a pior em meio século.
A solução do giverno é a de desviar água do grande Rio São Francisco, que se origina no Sudeste e flui por cerca de 3000 quilômetros por grande parte do país, por isso é conhecido como “ O rio de integração nacional”. Mas é despejado no oceano antes que ele atinja o nordeste do Brasil. Isso significa que os quatro grandes estados do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco são deixados à seca. Desviando um pouco o fluxo do rio poderia dar a região um grande impulso.
No entanto o alívio da seca é pouco provável que venha em breve. A empresa que cuida da infra estrutura feita pelo governo está apenas com as obras pela metade concluídas. Não são problemas técnicos que estão retardando o progresso, é a burocracia. O custo do plano dobrou de suas estimativas originais para US$ 3,4 bilhões.

O governo diz que a água começará fluir para os estados do NE em 2015.





Para terminar, o projeto está com 3 anos de atraso e o valor dobrado, o que pensar da eficiência do nosso governo em relação a isso? Enquanto isso o gado, as plantas e as pessoas são castigadas pela seca.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Parece (ciência), mas não é!


Convido a todos para conhecer uma das páginas em que faço parte no Facebook, clique aqui no Universo Racionalista, e mais ainda, mostro uma das postagens feitas, não por mim, mas que achei muito interessante. Confiram!

 Parece ciência, mas não é.


Como a física quântica é utilizada para defender ideias místicas em livros de auti ajuda que não tem nada a ver com ciência.
Em artigo na revista Harper’s em 1929, o físico Percy Williams Bridgman tentava explicar a física quântica, mas advertia que ela seria desfigurada assim que se tornasse mais popular. “Espíritos dos mortos lá viverão; Deus habitará suas sombras; o princípio da energia vital será sediado ali; e será o meio de propagação da telepatia.”

Não demorou: com a publicação de O Tao da Física, em 1975, o físico austríaco Fritjof Capra abriu a temida caixa de Pandora e, em pouco tempo, uma das vertentes mais radicais da ciência ganharia contornos místicos, dando origem a livros que confundem física quântica com autoajuda.

Nascida na virada do século 19 para o 20, a física quântica surgiu para tapar lacunas da chamada física clássica, desenvolvida a partir de Isaac Newton, no século 17. Esta falhava em questões como a produção da luz elétrica ou a descrição da estrutura do átomo. Assim, foi sugerido que a energia existiria não de forma contínua (como onda), mas que poderia ser quantificada em unidades indivisíveis. Esta visão foi sendo desenvolvida por cientistas como Niels Bohr, Werner Heisenberg e Erwin Schroedinger e logo ficou claro que não seria só um remendo, mas viraria a física do avesso.

Escrevendo ainda durante o surgimento da nova área, Bridgman não só acertou ao prever que a teoria quântica seria distorcida, como também acertou várias das distorções.

No livro Pura Picaretagem (Ed. Leya), escrevo sobre os usos espúrios do tema junto com o físico Daniel Bezerra, para quem a física quântica se presta a distorções, entre outros motivos, por causa de “toda aquela celeuma, a partir dos anos 1930, com suas propriedades estranhas, dualidades e incertezas”, que dividiram até mesmo as opiniões de grandes cientistas. “E, talvez mais importante, porque nos anos 70 o pessoal começou a escrever aqueles livros comparando a física quântica com as filosofias orientais.”
Mas o que há de tão estranho na ideia de que a energia flui em unidades (os quanta), e não de modo contínuo? Por que isso dá origem a interpretações de caráter espiritual e místico? Veja a seguir por que implicações bizarras da física quântica como a dualidade onda-partícula e o princípio da incerteza, entre outras, são interpretadas como autoajuda.

TUDO É ENERGIA

Nossos corpos emitem ondas que interagem com as de outros corpos?
De acordo com a física quântica, a luz pode ser tanto como uma onda quanto como partículas em movimento, o que quer dizer que todos os objetos do mundo têm propriedades tanto de ondas, se espalhando pelo espaço como as ondas do mar pelo oceano, quanto de partículas, com um tamanho definido e uma posição clara. Isso é o chamado “princípio da dualidade”, uma das pedras fundamentais da física quântica.
Há quem diga que isso prova que “tudo está interligado”. Se o corpo de uma pessoa pode ser interpretado como uma onda que se propaga, o que o impede de interagir e interferir com as ondas de outras pessoas, das plantas, dos animais?
O problema com essa visão é que as ondas associadas a grandes objetos são muito concentradas. De acordo com o físico Kenneth W. Ford, um dos criadores da bomba H, o comprimento de onda (o “espalhamento quântico”) de uma pessoa de 70 quilos, andando a uma velocidade de 3 km/h, é da ordem de centésimos de septilionésimos — o número 1 precedido por 26 zeros — de nanômetros. Algo muitíssimo menor que o próprio corpo humano. Sua “propagação”, portanto, é menor que ele mesmo.
Como escreve Ford em seu livro 101 Quantum Questions (Harvard), “nós, humanos, gostemos ou não, somos habitantes do mundo clássico”.

TUDO É POSSÍVEL

Se um elétron pode atravessar uma parede, por que uma pessoa não pode?
Diferente das equações da física clássica, que permitem prever exatas posição e velocidade de um objeto, uma das equações básicas da física quântica (a função de onda de Schroedinger) só permite calcular probabilidades. A física clássica prevê onde uma nave a caminho de Marte estará a cada instante da viagem. Mas quando falamos do domínio quântico só conseguimos prever a chance de estar em certo lugar.
Isso nos dá uma limitação básica: não podemos saber o que irá acontecer com um átomo, apenas quais fenômenos têm chance de ocorrer. Fora que quando cientistas calculam probabilidades, descobrem coisas que poderiam parecer impossíveis, como um elétron sumir de um lugar e aparecer em outro, ou passar por uma barreira. Isso leva certos gurus a proclamar que “tudo é possível”, e que o Universo é feito de “tendências”, não de “fatos”.

No entanto, quando as probabilidades quânticas são calculadas para os vastos aglomerados de partículas que compõem os objetos da escala clássica — um corpo humano, por exemplo, tem vários octilhões de átomos —, as probabilidades resultantes são as do mundo clássico: a chance de você conseguir passar através de uma parede pode não ser exatamente igual a zero, mas ainda é astronomicamente menor do que a de quebrar o nariz tentando.

A FORMA DA IMAGINAÇÃO

A realidade seria uma criação do cérebro humano?

A função de onda de Schroedinger só permite prever probabilidades ligadas à posição das partículas. Sempre que é realizada, pode localizar a partícula num dado lugar. Após várias medições, a distribuição destas localizações reproduz a proporção prevista nos cálculos de probabilidade. Observar, ou transformar a probabilidade em resultado, chamada pelos físicos de colapso da função de onda, ainda é alvo de intensos debates no meio científico. Mas para o misticismo quântico não há mistério: é a consciência humana controlando o Universo, pois nosso olhar transformaria probabilidades em fatos e criaria a realidade. Para a física, no entanto, “observação” tem um sentido técnico — quer dizer interação. Assim, duas partículas inanimadas que interajam entre si estão observando-se e “criando realidade”, sem o envolvimento de nenhuma consciência, humana ou não.

PENSAMENTO POSITIVO

Não basta apenas olhar para o lado bom da vida.

O princípio da incerteza diz que propriedades de pares de partículas não podem ser medidas com precisão: quanto mais certeza se tem sobre um dos elementos, mais incerteza se tem sobre o outro. Uma interpretação possível diz que, ao decidir qual propriedade medir com precisão, o cientista determina qual delas será “mais real”.

Para os gurus do pensamento positivo, isso confirma a sabedoria de olhar somente para o lado bom das coisas, já que ao fazer isso a pessoa está “determinando” o que é real. Mas o princípio se aplica a propriedades objetivas, não a conceitos abstratos como “bom” ou “mau”. E também depende da dualidade onda-partícula que, como vimos, é irrelevante na escala clássica de nossas vidas.

ESTRANHA SENSAÇÃO

Duas partículas que se sobrepõem podem justificar telepatia e premonições?
Emaranhamento é nome do fenômeno que ocorre quando duas partículas se encontram numa condição chamada de “sobreposição de estados”. Quando estão assim, qualquer alteração numa delas afeta, instantaneamente, a outra, não importando a distância entre elas. Ele pode acontecer até em escala macroscópica: em 2011, cientistas conseguiram emaranhar a vibração de duas lascas de diamante, separadas por 15 centímetros.

Em círculos esotéricos, o emaranhamento é invocado para justificar a telepatia e premonição. O problema é que os estados emaranhados requerem uma preparação muito cuidadosa e são muito frágeis. No caso do emaranhamento das lascas de diamante, o efeito durou apenas 0,35 picossegundo, ou menos de um trilionésimo de segundo. Muito pouco tempo para se transmitir um pensamento, ou atrair os bons fluidos do Universo.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Sírius, a nova estrela brasileira



Essa é a minha nova postagem no Oficina da Net, esse é um alerta para que os brasileiros comecem a dar mais importância na nossa ciência, pois aqui temos capacidade suficiente para produzirmos uma tecnologia de ponta, só falta boa vontade governamental.

Peço a todos que além de ler, compartilhem a ideia e incentivem a todos a bisca pelo desenvolvimento educacional e científico do nosso país. Obrigada!

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