FÍSICA SEM EDUCAÇÃO

A única maneira de fazer o Brasil progredir é com educação, informação e caráter.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A afronta à educação e aos educadores




O ensino domiciliar e a criminalização da educação

POR RITA LISAUSKAS

Governo sugere, de forma subliminar, que pais são melhores que as escolas

O diabo mora nos detalhes, diz um provérbio alemão.
Por isso me chamou a atenção que uma medida provisória que pretende regulamentar o ensino domiciliar, o homeschooling, tenha sido gestada não no Ministério da Educação, mas sim na pasta da mulher, Família e Direitos Humanos da pastora Damares Alves, que já demonstrou com frases célebres como “mulher nasceu para ser mãe” e “meninos vestem azul e meninas vestem rosa” que a adoção de uma agenda conservadora nos costumes será prioridade de sua gestão.
Também me causa estranheza que algo descartado há pouco pelo Supremo Tribunal Federal avance tão rapidamente. A Suprema Corte considerou ilegal a opção pelo ensino domiciliar em setembro do ano passado. O ministro Ricardo Lewandowski lembrou que a educação “é direito e dever do Estado e da família, mas não exclusivamente desta, e deve ser construída coletivamente”. Segundo ele, um dos riscos do homeschooling seria “a fragmentação social e desenvolvimento de ‘bolhas’ de conhecimento, contribuindo para a divisão do país, intolerância e incompreensão.
A pauta que mereceu prioridade dos primeiros cem dias de governo é de interesse de cerca de 3,1 mil famílias de todo o Brasil, aponta a reportagem de Isabela Palhares, do Estadão, que cita números compilados pela ANED, a Associação Nacional de Educação Domiciliar. A própria ANED revelou, em sua página no Facebook, que foi quem escreveu o texto da MP,  “buscando garantir a maior liberdade possível às famílias, e também restringir ao máximo a interferência de agentes públicos e de interesses locais”. A iniciativa foi amplamente comemorada por seus associados. “Só Deus para recompensá-los! Reconhecemos todo o árduo trabalho que tiveram e somos imensamente gratos! E toda a honra e glória a Deus, que tem nos ouvido e estabelecido Sua perfeita vontade!“, comentou uma mãe. “Oh Glória! Deus vai abençoar e em breve todas as famílias poderão ser livres para educar seus filhos de acordo com suas convicções e princípios”, disse outra.

Ao tirar o debate e o MEC do jogo, o resultado pode ser este: crianças sendo educadas de acordo com as “convicções e princípios” de cada família. Existem pais preparados para a tarefa? Com certeza. Muitos. Mas também existem famílias que acreditam fortemente em criacionismo, no terraplanismo, na ideologia de gênero e que a Pepsi é adoçada com fetos abortados, por exemplo. O céu é o limite quando o Estado sai de cena.
Justiça seja feita: a ministra Damares afirmou em entrevista ao blog da jornalista Andrea Sadi que “ninguém será obrigado a educar os filhos em casa”, mas o governo deixa claro, ao eleger essa pauta como prioritária, que faltam propostas para vencer os reais desafios da educação brasileira: 53,5% das crianças do terceiro ano do ensino fundamental não conseguem fazer uma conta simples de matemáticaQuatro em cada dez jovens de 19 anos não terminam o ensino médio. Qual seria a solução para resolver esses problemas? Ainda não há propostas sobre a mesa, a não ser sugerir que os pais são melhores que as escolas, o que quase nunca é verdade. “O pai que senta com o aluno duas ou três horas por dia pode estar aplicando mais conteúdo do que a escola durante 4 ou 5 horas”, disse Damares à Andréia Sadi, afirmando que há “pesquisas” (quais?) apontando que os professores gastam até 40% do tempo em sala de aula tentando “gerenciar a classe” e, assim, não conseguem ensinar da forma como deveriam.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

O QUE PODEMOS ESPERAR DESSE GOVERNO?




Ainda é muito cedo para fazer uma avaliação? Não creio. Em poucos dias, conseguiu determinar (ou indicar), infelizmente de forma negativa, o que acontecerá nos próximos anos. Vou-me ater apenas na área de educação, pois acredito que será a parte mais afetada pelas incoerências mostradas até agora. O novo ministro da educação -  MEC (Ministério da Educação e Cultura, por enquanto) -, Ricardo Veléz Rodrigues, vive num mundo alheio à realidade e tem como parâmetro um senhor que, apesar de não ter nem a antiga 4ª série (ensino fundamental 1 – 5º ano) se autonomeia filósofo, Olavo de Carvalho, que escreve e faz vídeos atacando a tudo e a todos e palpitando sobre coisas que sequer conhece. Bom, até aí o presidente eleito também!
Enxergo, para o MEC, uma tarefa essencial: recolocar o sistema de ensino básico e fundamental a serviço das pessoas e não como opção burocrática sobranceira aos interesses dos cidadãos, para perpetuar uma casta que se enquistou no poder e que pretendia fazer das Instituições Republicanas, instrumentos para a sua hegemonia política”, escreveu Ricardo Vélez Rodríguez.

Tempos sombrios virão já pelos primeiros acenos desse (des)governo. Visam combater um inimigo que não existe (o tal marxismo cultural), o que mostra sua inexperiência e neurose em perseguir fantasmas oriundos da ditadura miliar. Socorro!

Com a perseguição à ameaça vermelha (comunismo), às universidades brasileiras e às escolas públicas de ensino fundamental e médio, achei que restaria uma esperança na educação infantil, já que deixou bem claro que vai perseguir os professores universitários que não condizem com a sua ideologia e que tenham alguma afinidade com a esquerda (sua grande inimiga).
Sim! Voltamos à ditadura, mas essa ditadura não será como a de 1964, onde se capturavam e matavam os ditos comunistas, será ideológica e política.




Diante de tudo isso me restava uma esperança com relação à educação infantil. Que ilusão! O novo Secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, que vive no mesmo mundo de Velez e o presidente eleito, já declarou ataque aos grandes nomes da alfabetização. Uma delas é Magda Soares, que deu uma entrevista à revista Nova Escoa (o link da entrevista está no final do texto) e demonstra claramente a sua preocupação. “O atual secretário Nadalim ataca, com frequência, outros métodos como o global e o chamado construtivista, que para ele seriam dominantes nas escolas brasileiras e, portanto, a causa dos péssimos resultados de alfabetização. Entre as prioridades da pasta que lidera está a de banir métodos comumente associados à teoria construtivista e promover o fônico. ” Como disse a professora.

O que não entendem e não querem entender é que o problema nunca esteve em métodos, pois a escola usa vários e o professor tem autonomia para isso, através de sua experiência em sala. O fracasso escolar é uma questão política e que ocorre por causa da desvalorização da educação pública e seu sucateamento desde a época Imperial. Aliás, esse é uma das razões pelas quais os professores de história estão sendo perseguidos, numa verdadeira caça às bruxas “moderna”. Basta estudar a história da educação no país para perceber de onde vem o verdadeiro problema.
Então, antes de acreditar que é cedo para fazer uma análise do novo governo, pense bem e se informe mais, pois não é exagero dizer que voltamos à Idade Média; exagero é acreditar que, diante de todas as evidências, esse será um bom governo, principalmente para a educação.