FÍSICA SEM EDUCAÇÃO

A única maneira de fazer o Brasil progredir é com educação, informação e caráter.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Pirula: Em quem irei votar domingo? Dia 28, sou Haddad 13. E jamais perdoarei o PT por isso.

    


VÍDEO:  https://www.facebook.com/CanalDoPirula/videos/244796269523860/

Texto para ir acompanhando enquanto eu falo:

Muitos têm me perguntado em quem votarei neste segundo turno da eleição presidencial de 2018. Em 7 anos de atividade na internet nunca me pronunciei sobre preferência a nenhum candidato, nunca dei suporte a nenhum político no meu canal. Elogiei algumas propostas, critiquei outras tantas. Mas apoio, nunca dei. Lembro que os poucos vídeos abordando política explicitamente no youtube, esperei para soltar depois das eleições, como foi o caso do meu vídeo em 2014 sobre a falta d'água em SP, onde critiquei Geraldo Alckmin, recém re-eleito governador de SP, e do meu vídeo comentando sobre o PT em março de 2015. Não acredito que com este texto eu vá contribuir para o resultado de eleição nenhuma, e sinceramente já acho que o vencedor está definido. Mas peço encarecidamente que LEIA ATÉ O FINAL.

Mesmo com este histórico, achei importante registrar aqui minha conclusão depois de semanas de reflexão sobre esta que está sendo a eleição mais intensa talvez desde 1989. Naquele meu vídeo sobre o PT, que já tem 3 anos e meio, eu comento que minha relação com o PT sempre foi negativa. Fui criado em um lar anti-petista desde a década de 80, e mantive minha postura crítica ao PT desde a sua posse do poder executivo presidencial em 2002. Aquela foi a única fez que votei no PT na vida, e apenas no segundo turno, acreditando que Lula faria a diferença contra "tudo que está aí". Um sentimento de "chutar o pau da barraca" e ver se uma guinada mais forte poderia colocar o país nos eixos.

Como eu sempre enxerguei o PT como um tipo de monstro, me surpreendi positivamente quando vi que nada de tão mal assim aconteceu no que diz respeito às instituições ou mesmo à economia nos dois mandatos de Lula. Também me surpreendi com programas benéficos como o Fome Zero e o Bolsa Família, que são relativamente baratos e eficientes. Por outro lado, NÃO me surpreendi quando afloraram os escândalos de corrupção, porque ter votado no Lula no segundo turno em 2002 não mudava o fato de eu enxergar o PT com maus olhos. Sendo assim, não esperava muita coisa. Membros do PT roubaram em nome da governabilidade, roubaram para que seu partido de mantivesse no poder e aparelhar o Estado (E SIM aparelharam o Estado não em todas, mas em várias instâncias), roubaram para aquecer a economia de forma paliativa, fazendo parcerias com empreiteiras que criaram obras monumentais desviando dinheiro de fontes públicas como o BNDES. Muitas destas obras destruíram ecossistemas únicos, mudaram a vida de populações tradicionais e extinguiram espécies endêmicas. Fui talvez o primeiro canal do Youtube a denunciar a máfia que envolvia a construção de Belo Monte, e o erro ambiental e social de fazer tal usina. Sete anos depois, eu estava certo em todos os pontos.

O mantra repetido por defensores do PT de que os esquemas de corrupção já existiam antes de Lula, ainda que relevante frente à hipocrisia de muitos "defensores da honestidade", não alivia a barra do partido. Se FHC roubou muito, se Itamar, Collor, Sarney, ou os generais do regime militar roubaram, isso em nada diminui os crimes do PT. É possível que esses esquemas estejam funcionando aí desde antes da Proclamação da República, jogar a culpa infinitamente para trás não resolve nada. Tampouco cola a ideia propagada por petistas de que ao votar em Dilma não se votou no Temer. Votou-se sim. Vota-se na chapa. Temer e o MDB pularam fora do barco e apunhalaram Dilma pelas costas. Do ponto de vista do MDB, o impeachment de Dilma foi sim um golpe. Ainda que do ponto de vista da constituição, esta palavra seja inadequada. Mas Temer, que responde a processos criminais e está inelegível por 6 anos, sendo, até onde se sabe, muito mais corrupto que Dilma, foi votado sim junto com ela na chapa de 2010 e 2014. Governabilidade...governabilidade.

Tampouco acredito na história do Lula presidento inocento. Obviamente não creio que qualquer outro presidente da história do país tenha sido um exemplo de lisura. E percebo SIM que os processos contra o Lula, bem como o Impeachment da Dilma possuíram sim um viés político, seja na celeridade e momentos estratégicos em que ocorreram, seja nas suas justificativas. Mas é ilusão achar que Lula sairia ou sairá inocente dos 9 processos no qual é réu, especialmente os mais graúdos que não envolvem pedalinhos ou apartamentos de menor importância. Na prática, em um país justo, Lula seria preso cedo ou tarde, sendo presidente ou não. Como as instituições de governo e poder econômico tinham interesses particulares, acabou sendo mais cedo.

Meu vídeo sobre o PT em 2015 não tinha contudo o intuito apenas de criticar o partido em sua atuação, em sua dissonância entre o discurso e as ações, ou algo do tipo. Era também um alerta à radicalização que já se formava, onde o sentimento anti-PT estava justificando apoiar ideias questionáveis embasadas em discurso anti-científico ou mesmo conspiratório. Poucos entenderam esse meu recado na época, e novamente, eu estava certo. Infelizmente, meu aviso não surtiu efeito.

Hoje temos um segundo turno entre Fernando Haddad, que representa o PT, e Jair Bolsonaro, cujo partido é irrelevante, e se fundamenta basicamente na imagem pessoal do capitão da reserva. Inclusive, antes de filiar-se ao PSL, Bolsonaro iria sair candidato pelo Patriotas, que antes se chamava Partido Ecológico Nacional. Um partido insignificante, que depois da desistência da Família Bolsonaro acabou voltando ao seu ostracismo, revivido apenas pela irreverência e imprevisibilidade de seu prêmio de compensação, o Cabo Daciolo. Seu Jair está para o PSL mais ou menos como Silvio Santos está para o SBT. Uma imagem personalista.

Poderia listar aqui inúmeras características na qual o populismo de Bolsonaro se assemelha ao populismo de Lula em 2002. Inclusive, o sentimento de muitas pessoas hoje se assemelha muito ao meu sentimento e ao de milhões de brasileiros em 2002. Bolsonaro é contra "tudo que está aí". Vai "chutar o pau da barraca" e talvez uma guinada mais forte possa colocar o país nos eixos. Eu entendo as pessoas que optam por Bolsonaro. Não acho justo que sejam chamadas genericamente de fascistas, racistas, homofóbicas ou etc. Bolsonaro representa uma esperança, e principalmente, não é o PT, que acabou caindo como seu adversário no segundo turno. E quase não ocorreu segundo turno. Desde agosto de 2017 estou dizendo que Bolsonaro ganharia a eleição. Essa minha previsão ainda não se concretizou, mas aparentemente é questão de tempo.

Não é, porém, surpresa nenhuma para quem me acompanha que seria muito, muito difícil para mim votar em Bolsonaro. O capitão criticou o estado Laico, dizendo em um comício em Campina Grande há cerca de um ano atrás que o Brasil tinha que ser um Estado Cristão, e que minorias deveriam se curvar às maiorias, ou desaparecer. Sendo eu um ativista ateu, não conseguiria imaginar um discurso do qual eu pudesse discordar mais. Já critiquei publicamente o fato dele ser totalmente obtuso em ciência (a ponto de não saber diferenciar uma revista de fofocas de um artigo científico, como relatou o pesquisador do Ipea Daniel Cerqueira). Ano retrasado, Bolsonaro tentou liberar o uso compassivo da fosfoetanolamina, a pílula do câncer, que todos sabem, gerou uma grande repercussão em 2015, e cujo uso desrespeitava completamente as normas científicas, que são aplicadas por excelentes motivos. Bolsonaro e seus apoiadores já se demonstraram negadores das mudanças climáticas causadas pela atividade humana, algo que está mais do que evidente frente ao que sabemos cientificamente. Igualmente suas falas sobre cartilhas educacionais ou "agressões corretivas" poderem, respectivamente, estimular ou desencorajar comportamento homossexual não poderiam estar mais cientificamente incorretas. É um dado cristalino e consolidado hoje na ciência que a orientação sexual é em grande parte inata, tendo a influência ambiental pós-parto uma relevância menor. Se Bolsonaro se preocupasse em aprender ciência, saberia disso.

Esse talvez seja um dos pontos mais preocupantes do plano de governo de Bolsonaro para mim: a discrepância para o que é dito pelo candidato. No papel está escrito que é possível fazer mais com a mesma verba já disponível em todos os setores, e aposta na iniciativa privada no financiamento de pesquisa científica. Porém, o discurso de Jair agora é que dará 10 bilhões para a ciência. É uma diferença bem grande. Fica claro no plano de governo do PSL que a ciência aplicada será a meta, visando mercados de trabalho e acoplamento universidade-empresas. Isso é absolutamente desejável e talvez seja possível em algumas áreas como Engenharia, Geofísica ou Biologia Molecular. Mas o que será da produção de conhecimento de ciência de base? Aquela que gera os fundamentos para que a ciência aplicada possa avançar no futuro, como já explicava Carl Sagan? Aquela que estuda mecanismos da física, química e biologia sem se preocupar em uma aplicação prática imediata? Aquela que estuda a história da cultura, dos idiomas, e do patrimônio imaterial do Brasil? Aquela que estuda os fenômenos sociais e da mente humana? Aquela que realiza o inventário das formas de vida do Brasil? Aquela que todos só lembram que existe quando pega fogo?

Por falar em inventário de formas de vida, outra coisa que me preocupou no discurso do Seu Jair é a parte delegada à questão ambiental. Que é zero. Em seu plano de governo nada é citado, à parte de agilizar os licenciamentos ambientais. Em entrevistas já disse que retirará o Brasil do Acordo de Paris (voltou atrás ontem). Também já disse que irá acabar com a "indústria da multa" do Ibama e ICMBio. Também já sinalizou à bancada ruralista que pretende abrir para desmate as áreas de preservação permanente existentes em propriedades privadas na Amazônia, Cerrado e demais biomas. Por outro lado, Bolsonaro diz estar muito interessado nos potenciais farmacológicos e industriais que podem ser gerados pela nossa biodiversidade. Citou como exemplo em um tuíte a descoberta de uma proteína no leite de ornitorrinco que pode ajudar no combate a superbactérias. Tuíte esse que a meu ver, foi injustamente alvo de chacota pelos seus detratores. Pois bem, Seu Jair pelo visto ainda não percebeu que um discurso é incongruente com o outro. Para se descobrir fármacos ou outros produtos advindos da biodiversidade é necessário preservá-la. E depois disso, é preciso estudá-la. Viva. Fazendo talvez décadas de pesquisa sem encontrar nenhuma descoberta relevante ou gerar lucros... o que exige um planejamento consistente e a longo prazo. E não é por acaso que para manter a unidade ecológica de uma grande área é necessário que as propriedades privadas mantenham de pé pelo menos uma boa parte do bioma natural. Esta parte não foi colocada na lei por um mero capricho. A Amazônia, por exemplo, influencia no regime de chuvas do Sudeste e Centro-Oeste, onde está a maioria da produção agropecuária para consumo interno. Tampouco faz sentido apelar para uma "indústria da multa" em um dos países mais inadimplentes em pagamento de punições ambientais. O capitão está defendendo esta bandeira, a meu ver, por motivos pessoais, porque já foi multado anos atrás por pescar em local proibido no Rio de Janeiro. Multa essa que nunca pagou.

A parte educacional do plano de governo de Bolsonaro também me preocupou muito. À parte de criar algumas escolas militares, ele usa um discurso conspiratório de doutrinação gay nas escolas, e estimula que os pais interfiram mais no conteúdo que os filhos estudam. Seu possível ministro da Educação é um dos papas do ensino à distância. E seu consultor em questões educacionais disse não ver problema em ensinar criacionismo junto com teorias científicas em aulas de ciência. Isso me toca pessoalmente, como cientista que trabalha com Evolução biológica, e como educador. Acho muito, muito salutar que os pais se preocupem mais com os filhos, não apenas com o que eles aprendem, mas também com toda uma série de necessidades práticas e afetivas que os pais têm negligenciado cada vez mais. Porém, proibir certos conteúdos que podem comprovadamente reduzir preconceitos, ou apresentar conteúdos não-científicos como sendo científicos é na verdade enganar crianças e prejudicar a formação do pensamento crítico nos jovens. Aliás, segundo comparações feitas mundialmente em sistemas educacionais, conclui-se que o fator que faz o Brasil estar tão aquém do necessário nos índices de desempenho escolar em relação a outros países é justamente a falta de ensino do uso do pensamento crítico. Hoje no Brasil a educação, além de precária em muitos lugares, é conteudista e voltada apenas para os vestibulares. Gera bons replicadores, mas poucas mentes pensantes. Esse problema o plano de Bolsonaro não contempla. Ele não se consultou com nenhuma pessoa que faça a mínima ideia do que se passa na educação brasileira.

Mas mesmo com todas essas discordâncias severas e preocupações sérias com relação ao plano de governo de Bolsonaro, a alternativa a ele agora é o PT. Ah, o PT. Sempre o PT. O histórico do PT não ajuda. A política ambiental do PT foi horrível a meu ver. Mas justiça seja feita. O PT jamais ameaçou liberar o desmatamento (aliás, mesmo com o desastroso código florestal, Dilma vetou pontos importantes), nem proclamou acabar com o Ministério do Meio Ambiente. A ciência avançou muito com o governo Lula, mas uma série de decisões desastradas e sem consulta dos órgãos competentes acabou gerando uma má aplicação de verbas em troca de números bonitos, bem como um desperdício de dinheiro que acabou indiretamente sendo responsável pelo fechamento da torneira no final do governo Dilma e durante o governo Temer. Contudo, Haddad pode ser criticado em muitos pontos, mas sabe o que é um paper, sabe como funciona a ciência, conversa com os órgãos acadêmicos à longa data, e sabe o nome de seus representantes. Prometeu verba através da revogação da PEC do teto, o que será praticamente impossível de fazer, mas tampouco Bolsonaro apresentou solução pra isso, e passou a cuspir números aleatórios com cifras astronômicas nas última semanas. Já do ponto de vista educacional, é inegável que a política do PT foi de inclusão, o que é uma ÓTIMA coisa. Uma fatia monstruosa da população antes sem acesso à educação passou a estudar, mas a qualidade foi deixada de lado em boa parte, e muitos saíam da escola sem saber ler ou escrever propriamente. Mas digamos que o plano de Bolsonaro de fazer os alunos estudarem em casa não resolve o problema da qualidade educacional que o PT (e governos anteriores) deixaram como legado, uma vez que muitos pais são efetivamente analfabetos, e há propostas de ensino à distância para lugares onde não chega internet. Seria feito como, por carta? Isso partindo do pressuposto que esse ensino à distância seria facultativo, afinal, muitos pais não trabalham o dia inteiro, e os filhos ficariam sozinhos em casa. O ensino militar em linhas gerais é um ensino de ótima qualidade, de fato. Mas boa parte do "saudoso ensino maravilhoso da época dos militares" se dava pelo fato de que a educação era para poucos. Muito poucos. Boa parte das críticas que Bolsonaro faz à educação pública brasileira, geralmente apontando doutrinação, carecem de qualquer estatística e formam uma narrativa que pega parte pelo todo, e não sabemos se correspondem à realidade. Aliás, o brasileiro está entre os países cujo povo tem menor noção da própria realidade. Por fim, o PT nunca propôs colocar no conteúdo programático das escolas conteúdo anti-científico em disciplinas científicas. Não que me lembre.

Mas ok, novamente, isso não prova nada. Mesmo o despreparo do capitão não significa que ele irá fazer um mau governo nessas áreas. Nomeará Marcos Pontes, um sujeito de trajetória extraordinária. Talvez aprenda os pontos em que está equivocado, talvez não seja tão ruim assim. E afinal, a alternativa ao Bolsonaro é o PT. Sempre o maldito PT. O PT que insiste em dizer que o regime venezuelano é uma democracia, que sempre apoiou o governo castrista em Cuba (que já cometeu muitas violações aos direitos humanos). O PCdoB, da vice Manuela, anualmente cumprimenta por carta e em seu site o líder Kim Jong Un da Coréia do Norte, sabidamente um ditador que igualmente violenta os direitos humanos em seus campos de trabalhos forçados e leis hiper-restritivas à população. Nenhum destes regimes é democrático. Por outro lado, Bolsonaro também não ganha a minha simpatia com declarações como a de que é favorável à tortura, a passada de pano absurda que dá para a ditadura militar, seu descaso com os mortos políticos no período militar (há uma placa na frente de seu gabinete dizendo que "quem procura osso é cachorro", se referindo à identificação dos mortos, que até hoje não foi concluída). Me causa asco sua admiração por Brilhante Ustra, cujas evidências de crueldade e sadismo abundam na literatura histórica. Se num país justo, Lula seria preso cedo ou tarde, em um país sério Bolsonaro teria sido no mínimo cassado por elogiar um torturador cruel na câmara.

Podemos colocar os dois em pé de igualdade nesse sentido então? Lamento, mas terei que discordar dessa afirmação. O PT aparelhou o Estado e tentou se manter no poder a qualquer custo. Wadih Damous, deputado pelo PT já deu declaração incitando a reduzir o poder do STF. O plano de governo de Haddad inclui Reforma do Judiciário e do Ministério Público, dando mais poder a referendos populares, o que usualmente é ligado a alguns regimes menos democráticos. Já as declarações mais inflamadas de Bolsonaro, especialmente sobre tortura, tomada de poder e fechamento de congresso, possuem mais de 15 anos. Alguns de seus eleitores dizem que ele mudou de lá para cá.

Porém, em 14 anos de poder, o PT não foi capaz de evitar o Impeachment de Dilma, não foi capaz de livrar Lula dos processos e da condenação criminal, não foi capaz de impedir a prisão de José Dirceu, Genoíno, Palocci e de outros cartolas do partido. Apesar de ter aparelhado boa parte das instituições, os ministros nomeados por Lula e Dilma para o STF não apenas não impediram as condenações contra petistas como inclusive alguns desses ministros votaram a favor das condenações. O PT não impediu a Pilícia Federal de atuar, inclusive invesigando e detendo boa parte da cúpula de seu partido. Não impediu nenhuma eleição de ocorrer, não colocou o exército na rua para impedir o ir e vir do cidadão civil (salvo incursões pontuais no Rio de Janeiro), não impediu a oposição de tomar o poder nos Estados, aliás, não mandou prender nenhum opositor político. Ou seja, o medo recorrente de que o PT possa transformar o Brasil em uma Venezuela (do ponto de vista político pelo menos) é objetivamente infundado. Se você acha que não, você desconhece a história da Venezuela, e está sofrendo de uma paranóia que foi alimentada nos últimos 4 anos por pessoas que estavam premeditadamente procurando cérebros para manipular. Não foram "bravos combatentes do povo brasileiro" que impediram o PT de tornar o Brasil uma ditadura nos moldes chavistas. Foi porque as instituições democráticas foram mantidas em funcionamento, AO CONTRÁRIO do que houve na Venezuela.

Mas o que houve na Venezuela? Resumindo, um governo absurdamente corrupto e ineficiente que comandava o país desde a década de 70 revoltava cada vez mais o povo na década de 90. Chavez era um militar que tinha protagonizado um motim contra o governo venezuelano, comandando uma revolta popular cuko estopim foi o aumento das passagens de ônibus, o chamado Caracazo. Reprimidos com muita violência, os manifestantes ganharam apoio popular, e Chavez acabou vencendo as eleições anos depois, em 99. Comandou várias mudanças na constituição e começou a conduzir o país para o socialismo bolivariano, mas em 2002, durante seu segundo mandato sofreu um golpe de estado onde se viu forçado a renunciar e, segundo Chavez, teria sofrido nesse período mais de uma tentativa de assassinato. O povo comprou essa narrativa e apoiou Chavez, que voltou ao poder. Como o Supremo Tribunal tinha sido um dos poderes que havia validado sua renúncia involuntária, assim que retornou à presidênca, Chavez aumentou o número de juízes do Supremo de 20 para 32. E bem...sabemos o que houve depois.

O PT não possui apoio incondicional do exército. Chavez possuía. Bolsonaro também. Tanto o PT quanto Bolsonaro abandonaram a ideia de contituinte, mas seu Jair já sugeriu mais de uma vez aumentar o número de ministros do STF, de forma que acabaria tendo "maioria" na corte. O PT nunca fez isso. Chavez fez. Lamentavelmente Bolsonaro sofreu uma tentativa de assassinato, mas isso gerou apoio popular. Chavez talvez não tenha sofrido, mas de qualquer forma usou esse suposto atentado como forma de obter comoção das massas. Aqui não estou comparando os dois casos, pois Bolsonaro não teve culpa, quase morreu. Mas é inegável que o apoio emocional da população é o mesmo. O PT deu liberdade à Policia Federal, mas nunca ganhou a simpatia deles. Bolsonaro é ovacionado por policiais.

Sendo assim, analisando friamente, pelo menos do ponto de vista político, se há algum candidato que está mais perto de consolidar no Brasil uma ditadura como Hugo Chavez fez esse candidato é o Seu Jair. E com os bolsonaristas dizendo "veja bem, não é uma ditadura", da mesma forma que boa parte da esquerda hoje faz se referindo ao governo de Maduro. Claro, é possível se tornar uma Venezuela sem uma ditadura, apenas no aspecto econômico, algo que aparentemente é mais próximo ao plano de Haddad. Porém, isto é igualmente quase impossível. Toda a economia venezuelana gira em torno praticamente de um único produto: o petróleo. O Brasil tem pelos menos meia dúzia de carros chefes de produtos econômicos, sem contar centenas de outros. Em 14 anos o PT não subverteu a democracia, e por pior que seja a crise econômica agora, o país ainda está mais bem posicionado no ranking mundial do que estava em 2002, quando Lula assumiu seu primeiro mandato. E nem se compara ao período Sarney. Nessa época o Brasil parecia muito mais a Venezuela Madureña do que agora.

Mas há no plano de Haddad um capítulo sobre regulamentação da mídia. A regulamentação da mídia já ocorreu na Argentina e a princípio não tem nada de antidemocrático nem estatizante. A princípio. Funciona da mesma forma que a proibição da formação de monopólios industriais. Foi por isso que para a Antarctica e a Brahma se fundirem, formando a Ambev em 1999, fosse necessário abrisse mão da marca de cerveja Bavaria, para que a nova empresa não compusesse mais de 80% do mercado nacional. Nem por isso a Bavaria se tornou uma cerveja estatal. Foi vendida para a Coca Cola. É uma lei que já existe na Constituição, e é até desnecessário frisar no âmbito nacional, onde não há grandes monopólios, mas relevante para micro-regiões e cidades mais afastadas, onde às vezes 100% da mídia escrita ou televisiva está nas mãos de um só dono. Haddad pode ter algum plano maligno na manga, mas pelo menos em seu texto do plano de governo, me pareceu bem claro que não se trata de censura.

Há que se levar em conta também que o Congresso virou. Uma boa parte apóia Bolsonaro, e o "centrão" apoiará quem achar mais conveniente, geralmente a situação, ou o que tiver mais apoio popular. O exército apóia Bolsonaro. Num eventual governo de Haddad, ele não teria condições de subverter a democracia e nem de aplicar grandes mudanças no que Temer fez. Já Bolsonaro terá praticamente uma carta branca para fazer boa parte das mudanças que propõe. E muitas das declarações dele, de seus filhos e dos generais que o acompanham flertam sim com o autoritarismo.

Afinal, em quem votar? Por aproximação de ideias que me são caras (Educação, Meio Ambiente e Ciência, que inclusive são as únicas áreas em que posso opinar com mais consistência), em linhas gerais estou mais de acordo com Haddad. Mas pro PT não cumprir o que promete não custa. Em compensação, o problema com Bolsonaro será exatamente se ele cumprir o que promete. E com o Congresso de seu lado, e nomeando mais ministros para o STF, ele terá plenos poderes para fazer o que quiser. A mídia que o criticar será desacreditada, e portanto não será uma fonte de oposição como já foi no passado. Mesmo tomando atitudes impopulares, Bolsonaro poderá dar a "volta por cima" usando os veículos de internet que sua equipe já domina bem para criar uma narrativa positiva.

Então beleza, eu não votarei em Bolsonaro. Você já imaginava isso, não? Mas isso não me obriga a votar em Haddad. Posso votar nulo. Em 2014 anulei meu voto no segundo turno, e não sujei minhas mãos naquela eleição maldita. Não tive coragem de votar na Dilma, com sua quebra de promessas, a insistência em cometer os mesmos erros, sua falta de competência em vários âmbitos, suas parcerias forjadas, como o MDB, seu descaso ambiental. Tampouco votaria em Aécio, um bandido no pleno significado da palavra (e ao contrário do que dizem muitos hoje, DAVA SIM pra saber isso desde aquela época). Mas desta forma, eu deveria então anular meu voto este ano, assim como fiz em 2014. Tal qual Pilatos, lavar minhas mãos. Se bobear, nem ir votar e ir para algum lugar onde não possa ouvir os fogos de artifício que os bolsonaristas soltarão e me irritarão da mesma forma que aqueles que foram soltos em 2014 pelos dilmistas. Mas há um porém a ser considerado.

Honestamente, não creio que a pessoa Jair Messias Bolsonaro seja fascista. É autoritário, por herança da caserna, mas não é fascista strictu sensu. Aliás, Bolsonaro nem sabe o que é isso. As ideias de Bolsonaro são baseadas no senso comum possível de encontrar em qualquer boteco, com um pouco do humor maldoso que encontramos em qualquer valentão de escola. São fruto da ignorância em sua maior parte. É exatamente por isso que Bolsonaro encontra eco em todo canto no qual suas palavras chegam. As características fascistóides de seu discurso estão presentes em boa parte da população. Boa parte das pessoas se sentem representadas. Essa é parte da definição de populismo. Lula fazia isso muito bem, mas de forma inteligente. Bolsonaro faz isso espontaneamente, tanto é que precisa ficar o tempo todo voltando atrás em declarações porque sempre fala antes de pensar. Bolsonaro é sincero e autêntico, o povo percebe isso. Sejamos francos, o Seu Jair é só mais um de uma série de deputados completamente irrelevantes que nunca fez nada, e ficou 30 anos no Congresso abusando de sua irrelevância.

Falando com todas as palavras necessárias, Bolsonaro é uma das pessoas mais despreparadas para exercer o poder. O fato dele ter chegado onde chegou é uma aberração. Estarmos discutindo sua candidatura é aberrante. Estarmos à beira de ser governados por ele é aberrante. Uma aberração que só foi possível graças ao uso calculado e involuntário da internet, além de programas de quinta categoria da TV aberta. O próprio capitão parece surpreso em ter chegado onde chegou, como já demonstrou em várias entrevistas. Muitas vezes me parece como uma criança pobre que descobriu que pode ir à Disney e brincar em todos os brinquedos com exclusividade. Mas sem ter percebido q o parque dependeria dele pra continuar funcionando.

Porém, algo perigoso aconteceu com Bolsonaro. Sua ignorância foi cooptada para um discurso paranóico e conspiracionista, que pode sim ativar os genes fascistóides presentes nele e em parte da população. O discurso politicamente incorreto que Bolsonaro ajudou a consagrar isoladamente não potencializa grandes coisas. Mas atrelado à paranóia anti-comunista pode aflorar em pessoas da população uma legitimação contra grupos como homossexuais e indígenas, numa versão revisitada da Noite dos Cristais. As pessoas gostam de lembrar de ditadores como Fidel ou Stálin, que subiram ao poder por golpes e revoluções, mas se esquecem que Chavez e Hitler subiram ao poder pelo voto. O Brasil pode sim virar uma Venezuela de direita. Eu particularmente acho improvável, porque não é necessário subverter a ordem quando se tem apoio popular. Como disse, fazer uma ditadura "democrática", como Chavez fez, e Putin ainda faz. Em compensação, o exército é autoritário por natureza, e ter membros das Forças Armadas formando a maioria dos cargos de poder não parece algo muito salutar. Também é preciso lembrar que o próprio atentado contra a vida do Capitão e complicações posteriores deixaram seu estado de saúde muito frágil. Ele ainda terá que se submeter a cirurgias até o ano que vem. Eu, como biólogo, e avaliando as probabilidades de infecção e ciclos de antibióticos, digo que há uma grande probabilidade de Jair Bolsonaro não ter saúde para completar o mandato, nos entregando nas mãos do General Mourão. Se o General Mourão sair por qualquer motivo, ficamos na mão do presidente do Senado, que possivelmente será Flávio Bolsonaro. Isso é mais do que aparelhar o estado com seu partido ou coligações. É aparelhar com a própria família. Lula não fez isso. Mas Fidel fez. Bem como Kin Jong Il, na Coréia do Norte.

É muito difícil que Haddad ganhe. E mais difícil ainda que, se ganhar, possa governar. O clima será insuportável, acusações de fraude, o anti petismo vai aumentar mais ainda, se é que isso é possível. E Haddad é do PT. Ah, o PT. Sempre o PT. Haddad é o melhor que o PT tem a oferecer. Na verdade, é a UNICA coisa que o PT tem a oferecer. Sabe em linhas gerais o que fazer, e não propôs nenhuma grande reforma estrutural. Ele não vai lutar contra "tudo que está aí", nem "chutar o pau da barraca" ou dar uma guinada mais forte que poderia colocar o país nos eixos. Haddad é a manutenção do sistema, mesmo se prestando a um papel ridículo nesta eleição de ficar atrelado como boneco de ventríloquo de Lula, para que seus votos fossem passados. Uma tentativa bem sucedida, vale lembrar, mas que envolveu um exercício humilhante e vexatório digno de pena. Tive pena de Haddad. Ele é o melhor que o PT tem a oferecer. Na verdade, Haddad é melhor do que o PT. O PT não merece Haddad, que foi colocado numa posição altamente depreciativa para ele mesmo. Haddad não quer ser presidente. É nítido em seu rosto.

Mas a alternativa a Haddad é uma alternativa que nem deveria estar sendo cogitada. Um sujeito ignorante e despreparado, com ideias que podem ser irreversivelmente danosas se aplicadas de fato, e com uma possibilidade de aparelhar o Estado de uma maneira que nem o PT foi capaz e fazer. E com apoio de pessoas e instituições muito mais eficientes nisso. Aécio nunca propôs nada parecido com isso. Tampouco Dilma. Em 2014, votar em qualquer um deles era sujar as mãos. Agora em 2018, anular o voto é que significa mergulhar as mãos na lama.

O PT não é uma boa alternativa. Mas Bolsonaro é uma alternativa impensável.
E Bolsonaro provavelmente vai ganhar. E eu espero estar enganado sobre tudo que disse sobre ele. Infelizmente, minhas previsões têm se demonstrado acertadas. Sou brasileiro, quero que independente de qual candidato vença, faça um bom governo. Estarei disposto a ajudar qualquer governo que tenha a possibilidade de fazer a coisa certa, mesmo sendo do Seu Jair. E estarei disposto a lutar contra qualquer atitude errada que um governo tome. Especialmente se for autoritário. Entendo o que motiva o brasileiro médio, não preconceituoso, não fanático, a votar em Bolsonaro. Não espero que essa pessoa mude de opinião. Espero apenas que respeitem a minha escolha. Dado tudo que ponderei, frente a este segundo turno, terei que quebrar um jejum de 16 anos. Dia 28, sou Haddad 13.

E jamais perdoarei o PT por isso.

Meu vídeo sobre a seca em São Paulo em 2014:
https://www.youtube.com/watch?v=mwQc3DnG7xc

Meu vídeo sobre o PT:
https://www.youtube.com/watch?v=mWbU0jKv1vo

Meu vídeo sobre Belo Monte:
https://www.youtube.com/watch?v=xnitmB22JtQ

Meu vídeo sobre o Código Florestal (e um posterior sobre os vetos de Dilma):
https://www.youtube.com/watch?v=2211RzwljMY
https://www.youtube.com/watch?v=GxwHQP3-4ZQ

Relato do pesquisador do Ipea Daniel Cerqueira falando que Bolsonaro não faz ideia do que seja uma publicação científica:
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/especialista-em-seguranca-publica-do-ipea-conta-de-vexame-de-bolsonaro-em-comissao-da-camara/

Sobre analfabetismo no Brasil estar caindo, mas ainda estar muito aquém do ideal:
https://www.valor.com.br/brasil/5533911/analfabetismo-cai-no-brasil-mas-115-milhoes-nao-sabem-ler-diz-ibge

Sobre o brasileiro ter pouca noção da própria realidade nacional:
https://m.folha.uol.com.br/mundo/2017/12/1941021-brasil-e-2-pais-com-menos-nocao-da-propria-realidade-aponta-pesquisa.shtml

Resumo sobre a vida de Chavez. É Wikipédia, mas veja as fontes descritas se quiser saber mais:
https://es.wikipedia.org/wiki/Hugo_Chávez

Sobre o suposto atentado a Hugo Chavez:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2002/021021_chavezlmp.shtml

Sobre Hugo Chavez ter aumentado o número de ministros do Supremo Tribunal Venezuelano:
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2006200406.htm

Plano de governo de Haddad:
http://www.pt.org.br/wp-content/uploads/2018/08/plano-de-governo_haddad-13_capas-1.pdf

Plano de governo de Bolsonaro:
https://docs.google.com/viewerng/viewer?url=https%3A%2F%2Fmultimidia.gazetadopovo.com.br%2Fpainel%2F..%2Fmedia%2Fdocs%2F1534262010_plano-de-governo-jair-bolsonaro-2018.pdf%3F1540496467

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

HITLER NÃO FARIA MELHOR DISCURSO


Não é mais brincadeira, a coisa está muito séria e se você é educador e insiste em votar numa pessoa dessas é porque está doente, sinceramente. 




Por Isaias Edson Sidney


Acabei de ver o discurso de hoje/ontem do Bolsonaro. Inegavelmente um discurso neofascista. Uma análise rápida de alguns pontos:


"Nós somos a maioria. Nós somos o Brasil de verdade."

Exclusão das minorias como o "falso" do Brasil.

"Perderam ontem, perderam em 2016 e vão perder semana que vem de novo".

Continuidade entre o golpe ("impeachment") e a sua provável eleição. Está correto.

"Só que a faxina agora será muito mais ampla. Essa turma se quiser ficar aqui vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão pra fora ou vão pra cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria."

Desumanização do adversário político, identificando-o com "sujeira". Promessa de banimento caso não se coloque "sob a lei". O que é a "lei" é esclarecido mais tarde.

"Ninguém vai sair dessa pátria, porque essa pátria é nossa. Não é dessa gangue que tem uma bandeira vermelha e tem a cabeça lavada."

Lembrando que as minorias estão excluídas da "nossa pátria", a esquerda política é igualada ao crime ("gangue"). A contradição entre "ninguém vai sair dessa pátria" com o "serão banidos da nossa pátria" é resolvida com criminalização/exclusão/desumanização dos banidos - eles não são ninguém.



"Sem indicações políticas faremos um time de ministros que realmente atenderá as necessidades do nosso povo."

Promessa claramente absurda, já que toda indicação é política. Na melhor das hipóteses, indica política tecnocrática. Pode indicar tendência autocrática, anti-política.

"O Brasil será respeitado lá fora. O Brasil não será mais motivo de chacota junto ao mundo."

O Brasil está sendo motivo de espanto no mundo todo por causa desse candidato. Complexo de inferioridade.

"Seu Lula da Silva, se você estava esperando o Haddad ser presidente para assinar o decreto de indulto, eu vou te dizer uma coisa: você vai apodrecer na cadeia! Brevemente você terá Lindberg Farias para jogar dominó no xadrez. Aguarde, o Haddad vai chegar aí também. Mas não será para visitá-lo, não. Será para ficar alguns anos ao seu lado. Já que vocês se amam tanto, vocês vão apodrecer na cadeia. Porque lugar de bandido que rouba o povo é atrás das grades."

Aqui Bolsonaro se arvora no papel de Judiciário, prometendo prisão perpétua a Lula e encarceramento ao seu concorrente na eleição, a futura oposição. Ameaça explícita e claríssima manifestação de autoritarismo.

"Você achava que tava tudo dominado? Não tava, não. Esse povo sempre se levantou nos momentos mais difíceis da nossa nação, para exatamente salvá-la. Vocês da Paulista, vocês que fazem manifestação em todo o Brasil, vocês estão salvando a nossa pátria. Não tenho palavras para agradecê-los nesse momento. Vocês estão salvando o meu, o seu, o nosso Brasil. Petralhada: vai tudo vocês (sic) pra ponta da praia! Vocês não terão mais vez em nossa pátria, que eu vou cortar todas as mordomias de vocês! Vocês não terão mais ONG’s para saciar a fome de mortadela de vocês. Será uma limpeza nunca visto (sic) na história do Brasil. Vagabundo vai ter que trabalhar! Vai deixar de fazer demagogia junto ao povo brasileiro. Vocês verão as instituições sendo reconhecidas. Vocês verão umas forças armadas altiva (sic) que estará colaborando com o futuro do Brasil. Vocês, petralhada, verão uma polícia civil e militar com retaguarda jurídica pra fazer valer a lei no lombo de vocês!"

Reitera promessa de banimento de um grupo político. Conspiracionismo ("tudo dominado"), misticismo nacionalista ("salvação da pátria"). Vagabundo vai ter que trabalhar - "o trabalho liberta" [Arbeit macht frei, inscrição dos campos de concentração nazistas]. Promessa de violência política - a lei "no lombo".

"Bandido do MST, bandido do MTST, as ações de vocês serão tipificadas como terrorismo! Vocês não levarão mais o terror ao campo ou à cidade. Ou vocês se enquadram e se submetem às leis, ou vão fazer companhia ao cachaceiro lá em Curitiba!"

Promessa de criminalização e encarceramento de movimentos sociais. Aqui está a "lei" referida anteriormente - quem não se adequa será banido. Referência chula ao ex-presidente.

"Conclamo a todos vocês que continuem mobilizados e participem ativamente por ocasião das eleições no próximo domingo. De forma democrática..."

Referência cínica à "democracia", após prometer banimento de adversários políticos, exclusão de minorias, criminalização de movimentos sociais e encarceramento do opositor na eleição.

"Sem mentiras, sem fake news, sem Folha de São Paulo! Nós ganharemos essa guerra. Queremos a imprensa livre, mas com responsabilidade. A Folha de São Paulo é o maior fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do governo. Imprensa livre: parabéns! Imprensa vendida: meus pêsames!"

Promete retaliar veículos de imprensa não-alinhados, o momento de maior ênfase do discurso. Semeia confusão ao atribuir as próprias práticas (fake news) a terceiros. "Guerra", expressão militar, para se referir à eleição.



Para quem quiser assistir o vídeo do discurso dele segue o link

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

A Educação e a banalidade




Como professora, acredito que a função da escola, entre várias outras, é formar um cidadão crítico. Diante do quadro atual do país, estamos diante de uma decisão que pode mexer com a  vida de todos e todas, portanto a obrigação do professor é pesquisar e se informar sobre qual a melhor decisão a tomar.
Estamos diante de uma situação atípica, da qual eu nunca havia presenciado ou lido em qualquer livro de história. Estamos diante de dois candidatos e um deles tem grupos que se mostraram contrários a ele como eu nunca imaginei que fossem tomar partido ou alguma posição política, o que me causou estranheza. Por exemplo, nunca tinha visto religiosos do mundo todo, como a CNBB, fazendo declarações políticas, apesar de que sabemos que as religiões, apesar do estado laico, sempre influenciaram, mas indiretamente. Um outro grupo que também me chamou a atenção foram as torcidas organizadas, como o Corinthians, considerada a maior torcida organizada do país e as do Palmeiras, Santos, Fluminense e vários outros. Também temos vários outros grupos que agora não acho relevante citar, mas que também se posicionaram. Outra coisa que me fez refletir foi que desde que comecei a participar da vida política, na minha adolescência, com o Fora Collor, nunca vi o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) convergirem em algum ponto como agora: mesmo o PSDB não apoiando diretamente o PT, somente algumas correntes, os dois concordam em serem contra o candidato. Fiquei extremamente intrigada com tudo isso, pois é uma situação inédita e seria cômico se não fosse trágico, afinal estamos diante de uma situação política bem delicada.
Vou-me restringir basicamente à minha área, a educação. Quem me conhece sabe que eu sempre lutei por uma educação pública de qualidade e sempre fui muito crítica, nunca gostei de ficar “em cima do muro”. Devido a isso, ganho algumas inimizades, mas quem me conhece sabe que, no fundo, sou bastante “maleável” e não tenho medo de mudar de opinião. Diante disso resolvi ler os planos de governo e agora aponto o que acho completamente inconsistente no plano do #BOLONARO.
Logo no segundo parágrafo ele diz: ” Os valores, tanto em termos relativos como em termos absolutos, são incompatíveis com nosso péssimo desempenho educacional.” Confesso que não consegui entender muito bem o que ele diz por valores relativos e absolutos, mesmo porque ele não deixa isso claro. Aliás, nada está muito claro no seu plano, mas se os tais valores absolutos e relativos (???) são incompatíveis é porque na verdade o investimento está sendo feito no lugar errado, não é mesmo? A incompatibilidade não está no valor, mas no mau emprego dele. Vale destacar que acredito que o investimento na educação deveria ser maior, afinal de contas formamos o futuro da nação (sem exagero).



Ele compara a nossa educação com a do Japão, Taiwan e Coréia do Sul, países que ele visitou. A questão ainda é mais grave quando a gente percebe que, na verdade, ele não tem a mínima noção do contexto histórico do nosso país. Acho importante termos boas referências, mas um plano de governo deve ter propostas sólidas, não comparações. Eu o comparo a um aluno que nunca se importou com o aprendizado na escola e vê a possiblidade de ser presidente do Grêmio na chapa mais popular e só propõe divertimento.


Outro ponto que me chamou a atenção foi uma parte que está destacado em vermelho no seu plano de governo que diz que precisamos de mais matemática, ciências e português, SEM DOUTRINAÇÃO E SEXUALIZAÇÃO PRECOCE. Confesso que não sei de onde ele tirou isso, deve ser do tal kit gay que ele cita, mas que nenhum professor sequer viu nas escolas. Aí ele cita diversos dados e gastos que não analisei se estão de fato corretos, mas devem estar, afinal de contas é o mínimo que ele deve fazer, colocar informações corretas, mesmo que copiadas e coladas, não é mesmo?
Depois de todos os gráficos e dados sobre gestão, chega-se a um ponto em que a coisa fica bem mais confusa para quem é da área de educação, ainda mais na frase: ...”Além de mudar o método de gestão, na Educação também precisamos revisar e modernizar o conteúdo. Isso inclui a alfabetização, expurgando a ideologia de Paulo Freire, mudando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), impedindo a aprovação automática e a própria questão de disciplina dentro das escolas.”
Será que ele tem ideia do que é a BNCC e de quantos profissionais foram envolvidos nela para que um presidente, de forma completamente despreparada e autoritária, queira mudar? Será que ele sabe o que é a palavra democracia? Será que ele alguma vez leu um livro ou uma linha de algum conteúdo do Paulo Freire? Toda a nossa LDB (Leis de Diretrizes e Bases) documento que regulamenta a nossa educação, é baseada nas propostas de Freire, direta ou indiretamente. Ele quer mudar a LDB, é isso?
A última parte ele fala da educação a distância, mas nada mais além desta frase que, sinceramente, não sei de onde deduziu isso, mas enfim: “Educação a distância: deveria ser vista como um importante instrumento e não vetada de forma dogmática. Deve ser considerada como alternativa para as áreas rurais onde as grandes distâncias dificultam ou impedem aulas presenciais.”

A educação a distância é, sim, uma poderosa ferramenta para vencer grandes distâncias e incluir populações dispersas ou isoladas ao sistema educacional, e vem sendo implementada tanto por ações governamentais quando por instituições particulares, não tendo recebido, que eu saiba, nenhum veto dogmático, seja lá o que isso queira dizer.

Para encerrar, a proposta educacional do candidato é meio surreal e muito superficial, o que demonstra ou sua ignorância ou seu total descaso para com um assunto tão importante, que ele resume em discutir apenas um kit gay inexistente, deixando transparecer, mais uma vez, seu despreparo e falta de propostas reais e consistentes.  
Sinceramente, se existem professores que defendam esse programa ou esse senhor é porque sequer leram ou analisaram o plano de governo dele para a educação. Abaixo, segue o link para ver o plano na íntegra.
Leia as propostas e analise muito bem, pois a disputa não é mais partidária, é a escolha entre o bom senso, a educação, o progresso ou a violência, a desigualdade e a barbárie.




O plano dos dois candidatos e dos anteriores consta no site do Tribunal Regional Eleitoral (TRE)



quinta-feira, 11 de outubro de 2018

“Como as democracias morrem”


Esse será um último apelo aos eleitores...

                         Cartunista Washington Post edição de hoje...

Steve Levitsky, cientista político norte-americano e professor em Harvard University, analisa o perfil do candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro e mostra o porquê ele representa uma ameaça à Democracia Liberal no Brasil.


Levitsky está envolvido em pesquisas sobre a durabilidade dos regimes revolucionários, a relação entre o populismo e o autoritarismo competitivo, problemas de construção partidária na América Latina contemporânea, e o colapso do partido e as suas consequências para a democracia no Peru.

Ele é autor do livro “Como as democracias morrem”, em que realiza uma análise crua e perturbadora do fim das democracias em todo o mundo.
Para ver o vídeo com a declaração clique aqui

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Planos de governos dos candidatos para a educação, tirem suas conclusões!

 




Cada plano de governo é público e basta a consulta, eu peguei os resumos do site Brasil de Fato. É importante para o educador, antes de qualquer coisa, analisar cada um e ver qual condiz mais com a realidade em que estamos vivendo. Eu espero que com essa polarização os professores tenham criticidade e discernimento para decidirem o melhor, independente da ideologia.
                                         
                                                                Vídeo

O programa de governo de Fernando Haddad, candidato pelo PT e ex-ministro da Educação durante os governos Lula, defende a revogação da EC 95, com o objetivo de elevar o financiamento público da educação e “visando progressivamente investir 10% do PIB em educação, conforme a meta 20 do Plano Nacional de Educação”.
Para a educação básica, Haddad propõe a implementação de “uma forte política nacional de alfabetização” bem como “promover a inclusão digital e tecnológica das crianças”. O programa de governo petista defende ainda ampliação da oferta de educação em tempo integral, a criação de uma “política nacional de valorização e qualificação docente”, a garantia do Piso Salarial Nacional e a implementação de uma Prova Nacional para Ingresso na Carreira Docente, além da retomada dos investimentos na educação rural, indígena e quilombola.
                                        
                                             Vídeo
O plano de governo apresentado pelo candidato do PSL, Jair Bolsonaro, propõe a modificação dos conteúdos programáticos trabalhados da educação básica, com “mais matemática, ciências e português, sem doutrinação e sexualização precoce”. Ainda em relação ao conteúdo, o candidato defende “expurgar a ideologia de Paulo Freire”, patrono da educação no Brasil. Propõe um modelo de educação superior voltado para o atendimento das demandas do mercado. O programa não aborda as formas de financiamento do setor. O candidato da extrema-direita votou favorável à EC 95.