Muitos dos gestores e professores que estão nas escolas e
lutam por melhores condições e salários não atentaram ainda para uma questão de
extrema preocupação e importância: o papel do Banco Mundial na educação.
Apesar de o investimento na área não ser muito irrelevante
(cerca de 0,5% da despesa total) ele se transformou no principal agente de
assistência técnica, na área, aos países em desenvolvimento, o que inclui o
Brasil. É a maior fonte de fundos externos para melhorar o aceso, a equidade e
a qualidade dos sistemas escolares. Só que o conceito de qualidade é diferente
do nosso, que está diretamente ligado a área da educação.
Atualmente a ênfase do BM é na educação básica, mais
precisamente na educação formal e infantil (como foi colocado como proposta do
atual governo), deixando de lado a educação de jovens e adultos e a educação
não-formal. Obviamente que há uma intenção por trás disso, que está explicado
nas fontes apresentadas. Agora vou focar num outro ponto.
Na concepção do BM, a qualidade na educação seria o
resultado de “insumos” com 9 fatores, por ordem de relevância:
1- Bibliotecas
2- Tempo
de instrução
3- Tarefas
de casa
4- Livros
didáticos
5- Conhecimento
do professor
6- Experiência
do professor
7- Laboratórios
8- Salário
do professor
9- Tamanho
da classe
As conclusões que o BM tira desses “insumos” é que os três
últimos são investimentos irrelevantes e se recomenda investir nos três
primeiros.
Vale destacar
que a autonomia escolar está diretamente ligada ao financeiro e administrativo
e lembrando que o assunto hoje nas escolas é a gestão democrática, participação
maior da comunidade e dos alunos pertencente a elas. Mas o que daria mais
autonomia às escolas não fica claro nos documentos, o que fica claro é que há
um impulso ao setor privado, pois propõe uma redefinição do papel tradicional
do Estado em relação à educação. A noção dada de “participação” da comunidade e
das famílias é cada vez mais contaminada pelo aspecto econômico, assim como o
impulso ao setor privado e aos organismos não-governamentais e a educação passa
a ser analisada com os critérios do mercado.
Só lembrando que esses critérios se baseiam em maior produção
com menor custo, o que para o professor seria mais trabalho (produzir mais) com
baixo salário (menor custo). Ressaltando que, para o BM, o custo do professor é
muito alto.
As referências bibliográficas contidas no final desse texto
opinativo dão uma ideia clara do que eu digo. É hora de mudarmos o foco, não
com relação às reivindicações (salários justos, melhor infraestrutura, menor
quantidade de alunos por sala etc.), mas perceber qual é realmente o foco de
luta, para que consigamos um dia ser valorizados.
Só lembrando que o atual governo deixou bem claro que
pretende dar mais autonomia ao BM e, se analisarem bem o atual contexto educacional, as propostas do BM e desse
governo, perceberão que as reformas (e emparelhamentos) que estão sendo feitos
nos leva a crer que a intenção não é melhorar a vida de professores e gestores,
mas exigir mais com menor custo.
Referências:
TORRES, R. M. Melhorar a qualidade
da educação básica?: as estratégias do Banco Mundial. In: TOMMASI, L.; WARDE,
M. J.; HADDAD, S. (Org.). O Banco Mundial e as políticas educacionais. 3. ed.
São Paulo: Cortez, 2000.
PARO, V. H. Gestão democrática da
escola pública. São Paulo: Ática, 1997
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