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domingo, 8 de janeiro de 2017

Como alcançar a liberdade?

Um texto publicado hoje, dia 8 de fevereiro de 2017, de Allefy Matheus

Vocês conseguem imaginar alguém se tornando cientista, poeta, músico de orquestra em meio à pobreza/miséria? Eu chuto que não. Ser essas coisas requer que a pessoa dedique bastante tempo ao treino (estudo teórico, prática com os instrumentos etc), e uma pessoa em situação de pobreza geralmente gasta a maior parte de seu tempo na atividade que lhe garante os meios de subsistência, e não tem tempo para o treino de que falamos, nem meios de conseguir o material de treino necessário e muitas vezes tampouco energia. A pobreza e o tempo de trabalho aparecem, então, como uma prisão, ou melhor: uma barreira que impede a realização dos potenciais das pessoas.
Daí Marx ter afirmado -- e esse é, na minha opinião, um dos trechos mais belos de sua obra -- que o reino de liberdade começa com a redução do tempo necessário à aquisição dos meios de subsistência, da jornada de trabalho; tal coisa é condição daquele. Em outro lugar, Marx diz ainda que a riqueza consiste, em parte, em tempo livre.
Olhando para disposição de recursos naturais, técnicos e humanos, creio que seria possível uma redução generalizada e relevante da jornada de trabalho, inclusive com um aumento sensível do padrão de vida para todas as pessoas, e, com isso, um aumento tanto absoluto quanto relativo de cientistas, poetas, escritores etc. Para isso, seria necessário planejar a produção de modo a garantir que as necessidades básicas de alimentação, moradia, saúde, lazer, educação etc de todos fossem atendidas, e dividir de maneira igualitária o tempo de trabalho -- fazendo recurso à automação da produção sempre que isso não envolver prejuízos (digamos, ambientais).
Uma transformação social assim tem, no entanto, certos "impedimentos". O primeiro, e provavelmente o mais óbvio, é a propriedade privada dos meios de produção. A transformação social de que falamos pode até significar a melhora dos padrões de vida da maioria, mas os interesses da minoria privilegiada, detentora dos meios de produção, seriam prejudicados; como ela poderá viver da extração de excedente sobre os outros? A revolta dela é, portanto, esperada. E ela se revolta contra coisa bem menor, como a redistribuição de renda que aconteceu no Brasil durante a era petista.
O outro impedimento são as relações mercantis de produção; em outras palavras, a ausência de uma coordenação social, consciente, da produção, a qual é realizada de maneira formalmente independente por produtores "autônomos". É dessa forma de produção que surge o dinheiro (de maneira que tentar abolir esse último sem abolir essa forma de produção é coisa de gente utópica e/ou que não compreende a coisa), e tal forma de produção significa também que os sujeitos são socializados como concorrentes universais: consumidores concorrem com outros consumidores pelo produto, ofertantes concorrem com outros ofertantes pela demanda.
Superar essas coisas -- as relações de distribuição da propriedade e de produção -- não deve ser uma tarefa fácil. Mas podemos empreendê-la, se quisermos uma sociedade mais justa. Devemos fazê-la, se considerarmos nosso próprio dever moral para com as outras pessoas, em especial as mais humildes. Temos de realizá-la, se levarmos em conta que a manutenção da sociedade tal qual ela se encontra -- aqui no Brasil em especial -- significa que muito provavelmente nós mesmos estaremos condenados à pobreza e/ou à estafa e o estresse no trabalho, ou a ver o meio ambiente se destroçar de vez com um aumento excepcional da produção capitalista ocasionado por políticas econômicas que visem o "pleno emprego".