FÍSICA SEM EDUCAÇÃO

A única maneira de fazer o Brasil progredir é com educação, informação e caráter.

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Como a educação e a ciência já está num buraco negro, vamos falar dele



A humanidade ainda tem jeito, eu creio nisso e essa foto, que não é bem uma foto, explica isso. Há 50 milhões de distância e depois de mais de 60 mil algorítimos conseguiram encontrar a "carinha" do maior monstro do Universo...BURACO NEGRO. Entenda como tudo aconteceu e a sua importância...



E o melhor é que foi uma mulher que foi primordial na decodificação de tudo isso...


A Teoria Da Relatividade de Albert Einstein foi comprovada, mas não só ela, pois depois dela tem bem mais coisa...

                                       

E é claro que houve fake news e sexismo, nem a ciência escapou...

                                        


A TOTAL IRRELEVÂNCIA DO ENSINO DOMICILIAR




     

Como professora ainda farei outras considerações, que estão além disso. Enquanto isso as ponderações de Isaías Edson Sidney a respeito do novo projeto proposto pelo presidente Jair Bolsonaro:

"Ao contrário do ensino a distância (EAD) que, implantado e regulamentado, beneficia ou pode beneficiar milhões de pessoas que não têm acesso à escola física, por vários motivos, num país continental (um lugar comum inevitável) como o Brasil, o ensino domiciliar é absolutamente irrelevante.

Primeiro, vamos observar que ele existe há bastante tempo nos Estados Unidos, em todos os estados, devidamente regulamentado. Provavelmente tenha sido criado para beneficiar pequenas comunidades religiosas e isoladas, que não concordam com o tipo de ensino ministrado nas escolas tradicionais. Hoje, está bem mais difundido, tendo alguma relevância, embora ainda muito pequena, dentro do sistema educacional estadunidense, adotado por famílias de classe média alta que teme o bullying e a violência nas escolas tradicionais, principalmente diante das várias chacinas que têm atormentado a sociedade, ou ainda para filhos considerados especiais, cuja adaptação à escola seja difícil... Enfim, é um direito. Mas, lá, é ainda algo que está dentro do terreno da exceção e, com regras que variam de estado para estado, não está ao alcance de qualquer família, já que requer tempo e, muitas vezes, situação privilegiada em termos financeiros, dos pais que o adotam. 


     Pode ser implantado no Brasil? Pode. Sem dúvida. Mas... 
A situação do ensino brasileiro passa por uma crise. Não uma crise de métodos ou de metodologias. Uma crise de preparação e valorização do principal elemento de um sistema de ensino: o professor. Com salários de fome, sem valorização profissional e social, o professor brasileiro carrega nas costas uma responsabilidade que está muito além de suas forças. E aí temos nós, além do problema salarial, uma espécie de círculo vicioso: os professores são formados por outros professores, estes também mal pagos e, consequentemente, também desmotivados quase sempre, formados em escolas que não os preparam adequadamente, com exceções, felizmente, mas na maioria escolas mal geridas de cujas salas saem profissionais que não terão condições de preparar adequadamente seus alunos e o círculo se fecha, de forma viciosa e sem que as gestões públicas consigam resolver o problema. 


Falta dinheiro para a educação? Provavelmente, não. O que falta é gestão pública adequada, formação de bons gestores em todos os níveis, valorização dos educadores, retomada de valores metodológicos adequados às diferentes realidades, com um mínimo de bom senso e de universalização de conteúdos e, finalmente, a melhoria das próprias condições das escolas, com investimento nos espaços escolares, em bibliotecas, material escolar etc. 


     Portanto, há um trabalho imenso a ser feito, no terreno da educação, para recuperar um tempo perdido, para recuperar o desleixo de muitos e muitos anos de má gestão, de descalabro e falta de políticas realmente efetivas.


O projeto de educação familiar, ora proposto pelo atual governo, pode até ser bom, se não tiver sido elaborado de afogadilho e mal feito, como sói acontecer com projetos nascidos de promessas absurdas de campanha e quase sempre jogados à aprovação do Congresso, sem que a sociedade se manifeste, sem um debate mais aprofundado, muitas vezes eivado de erros grosseiros tanto de redação quanto de compreensão da própria realidade.


Se devidamente regulamentada, a educação domiciliar pode propiciar o conforto de algumas famílias abastadas, de pais evidentemente preparados para a tarefa, que deverá de alguma forma ser acompanhada por algum ente público e fiscalizada, para evitar distorções. O que, naturalmente, deixará de fora de tal “direito” (vamos tratar como tal) a imensa maioria do povo brasileiro. 


     Então, pergunta-se: que importância terá, para o sistema de ensino brasileiro, a adoção da educação familiar? A resposta parece óbvia: nenhuma. Nenhuma relevância. Não afetará o sistema, pois não vai contribuir para melhorar o ensino, nem trará qualquer benefício ao povo, apenas para uma ínfima parcela da população. E, assim mesmo, nem se pode falar exatamente em benefício, mas apenas um direito que as famílias – repito: algumas famílias abastadas e devidamente preparadas para tal – poderão lançar mão, para, por algum motivo só lá delas, não enviar para a uma escola tradicional os seus pimpolhos.


     Conclusão: mera demagogia. O mero desejo de fazer algo, desde que esse algo seja o que se faz lá, no país que se tornou modelo de tudo, para esse infeliz (des)governo que, não tendo nada a apresentar ao povo, inventa esse tipo de coisa, para dizer que está governando. Repito: um projeto absolutamente irrelevante."

quarta-feira, 10 de abril de 2019

VIGIAR E PUNIR - texto de Michel Foucault



Via Isaias Edison Sidney: Para professores, o texto de Michel Foucault, do livro VIGIAR E PUNIR (a tradução é portuguesa). Contextualizo: Foucault está falando do treinamento militar (principalmente do famoso exército prussiano) e da rigorosa disciplina dos conventos, para mostrar como essas metodologias foram aplicadas a várias atividades e às escolas, defendidas por filósofos dos séculos XVII e XVIII. Eis o texto:

"[...]a escola-edifício deve ser um operador de adestramento. Pâris-Duverney concebeu uma máquina pedagógica na Escola Militar até nos pormenores ínfimos que impôs ao arquiteto Gabriel. Adestrar corpos vigorosos, imperativo de saúde; obter oficiais competentes, imperativo de qualificação; formar militares obedientes, imperativo político; prevenir a devassidão e a homossexualidade, imperativo de moralidade. Razão quádrupla para estabelecer separações estanques entre os indivíduos, mas também aberturas de vigilância contínua. O próprio edifício da Escola devia ser um aparelho de vigiar; os quartos estavam distribuídos ao longo de um corredor como uma série de pequenas celas; em intervalos regulares, havia um alojamento de oficial, de maneira a que «cada dezena de alunos tenha um oficial à direita e à esquerda»; os alunos ficam aí fechados durante toda a noite; e Pâris insistira para que fosse instalada uma janela «na parede de cada quarto do lado do corredor, desde a altura de apoio até a um ou dois pés do teto. Além do facto de a vista destas vitrinas ser agradável, ousamos dizer que é útil em muitos aspetos, já para não falar das razões de disciplina que podem determinar esta disposição»(3). Nas cantinas, ergueu-se «um estrado relativamente elevado para as mesas dos inspetores dos estudos, para que possam ver todas as mesas dos alunos das suas divisões durante as refeições»; instalaram-se latrinas com meias-portas, de modo a que o vigia responsável por essas instalações pudesse ver a cabeça e as pernas dos alunos, mas com separações laterais suficientemente elevadas «para que os alunos não se possam ver uns aos outros»(4). Escrúpulos infinitos da vigilância que a arquitetura repete em inúmeros dispositivos indecorosos. Só os consideraremos irrisórios se esquecermos o papel desta instrumentalização menor, mas sem falhas, na objetivação progressiva e na repartição cada vez mais subtil dos comportamentos individuais. As instituições disciplinares segregaram um maquinismo de controlo que funcionou como um microscópio do comportamento; as divisões ténues e analíticas por elas realizadas formaram, em redor dos homens, um aparelho de observação, de registo e de adestramento. Nestas máquinas de observar, como subdividir os olhares, como estabelecer relações e comunicações entre eles? Como fazer com que, da sua multiplicidade calculada, resulte um poder homogêneo e contínuo?

O aparelho disciplinar perfeito permitiria que um único olhar visse tudo constantemente. Um ponto central seria fonte de luz que iluminaria tudo e, ao mesmo tempo, o lugar de convergência para tudo o que deve ser conhecido: olho perfeito a que nada escapa e centro para o qual todos os olhares estão virados. Foi o que imaginara Ledoux quando construiu Arc-et-Senans: no centro dos edifícios dispostos em círculo, todos virados para o interior, uma construção alta devia acumular as funções administrativas de direção, policiais de vigilância, econômicas de controlo e de verificação, religiosas de encorajamento à obediência e ao trabalho; daí decorreriam todas as ordens, aí seriam registadas todas as atividades, observadas e julgadas todas as faltas; e isto imediatamente, quase sem outro suporte que não uma geometria exata. Entre todas as razões do prestígio que foi atribuído, na segunda metade do século xviii, às arquiteturas circulares(5), deve-se contar certamente esta: exprimiam uma certa utopia política.


No entanto, o olhar disciplinado precisava efetivamente de substitutos. Melhor que um círculo, a pirâmide podia responder a duas exigências: ser suficientemente completa para formar uma rede sem lacunas – possibilidade, portanto, de multiplicar os seus níveis e de os distribuir por toda a superfície a controlar; e ser suficientemente discreta para não pesar como uma massa inerte sobre a atividade a disciplinar e não ser para esta um freio ou um obstáculo; integrar-se no dispositivo disciplinar como uma função que lhe aumenta os efeitos possíveis. Teve de decompor as suas instâncias, mas para aumentar a sua função produtora. Especificar a vigilância e torná-la funcional.


É o problema das grandes oficinas e das fábricas, onde se organiza um novo tipo de vigilância. É diferente daquele que, nos regimes das manufaturas, era assegurado do exterior pelos inspetores encarregados de fazerem aplicar os regulamentos; trata-se agora de um controlo intenso, contínuo; percorre todo o processo de trabalho; não incide – ou não só – sobre a produção (natureza, quantidade de matérias-primas, tipo de instrumentos utilizados, dimensões e qualidades dos produtos), mas leva em conta a atividade dos homens, os seus conhecimentos técnicos, a maneira como trabalham, a sua prontidão, o seu zelo e comportamento. Mas é também diferente do controlo doméstico do mestre, presente ao lado dos operários e dos chefes; pois é efetuado por chefes, vigilantes, controladores e contramestres. À medida que o aparelho de produção se torna mais importante e mais complexo, à medida que aumentam o número dos operários e a divisão do trabalho, as tarefas de controlo tornam-se mais necessárias e mais difíceis. Vigiar passa a ser uma função definida, mas que deve ser parte integrante do processo de produção; deve estender-se a todo o processo. Torna-se indispensável pessoal especializado, constantemente presente e distinto dos operários: «Na grande manufatura, tudo se faz ao toque da campainha, os operários são coagidos e reprimidos. Os chefes, acostumados a vê-los com um ar de superioridade e de comando, que é realmente necessário com a multidão, tratam-nos de forma dura e com desprezo; por isso, esses operários são mais caros ou ficam pouco tempo na manufatura»(6). No entanto, embora os operários prefiram o enquadramento de tipo corporativo ao novo regime de vigilância, reconhecem nele um elemento indissociável do sistema de produção industrial, da propriedade privada e do lucro. À escala de uma fábrica, de uma grande forja ou de uma mina, «os objetos de despesa são tantos que a infidelidade mais módica sobre cada objeto resultaria numa fraude imensa, que não só absorveria os benefícios, como também levaria a uma perda dos capitais; (…) a mínima imperícia desapercebida e, por isso, diariamente repetida pode tornar-se funesta para a empresa, a ponto de a destruir em muito pouco tempo»; daí o facto de só os agentes, diretamente dependentes do proprietário e afetos a essa tarefa, poderem zelar «para que nem um cêntimo seja gasto inutilmente, para que não se perca um único momento do dia»; o papel deles consistirá em «vigiar os operários, visitar todos os locais de trabalho, informar a direção sobre tudo o que se passa»(7). A vigilância torna-se um operador econômico decisivo, na medida em que é, simultaneamente, uma peça interna do aparelho de produção e uma engrenagem específica do poder disciplinar(8).


O mesmo movimento pode ser visto na reorganização do ensino básico: especificação da vigilância e integração na relação pedagógica. O desenvolvimento das escolas paroquiais, o aumento do número dos seus alunos, a inexistência de métodos que permitissem regulamentar simultaneamente a atividade de toda uma turma, a desordem e a confusão que se seguiam tornavam necessário o estabelecimento de controlos. Para ajudar o professor, Batencour escolheu, entre os melhores alunos, uma série de «oficiais», intendentes, observadores, monitores, tutores, recitadores de orações, oficiais de escrita, recebedores de tinta, esmoleres e visitadores. Os papéis assim definidos são de duas ordens: uns correspondem a tarefas materiais (distribuir a tinta e o papel, dar as sobras aos pobres, ler textos espirituais nos dias de festa, etc.); os outros são da ordem da vigilância; os «observadores» devem anotar «quem saiu do seu banco, quem fala, quem não tem terço ou livro de orações, quem se porta mal na cantina, quem comete alguma imodéstia, cavaqueia ou faz barulho na rua»; os «admonitores» encarregam-se «dos que falam ou que fazem barulho enquanto estudam as lições, dos que não escrevem ou que brincam»; os «visitadores» informam-se, junto das famílias, sobre os alunos que faltaram ou que cometeram faltas graves. Quanto aos «intendentes, vigiam todos os outros oficiais. Só os «tutores» têm um papel pedagógico: fazem os alunos ler dois a dois, em voz baixa(9). Algumas décadas depois, Demia estabelece uma hierarquia do mesmo tipo, mas as funções de vigilância são agora quase todas duplicadas por um papel pedagógico: um professor assistente ensina a segurar a pena, guia a mão, corrige os erros e, ao mesmo tempo, «marca as faltas quando discutem»; outro assistente tem as mesmas tarefas na sala de leitura; o intendente, que controla os outros oficiais e zela pelo comportamento geral, tem também a tarefa de «iniciar os recémchegados aos exercícios da escola»; os decuriões fazem recitar as lições e «marcam» os que as não sabem(10). Temos aqui o esboço de uma instituição de tipo «mútuo», onde estão integrados, no interior de um único dispositivo, três procedimentos: o ensino propriamente dito, a aquisição dos conhecimentos pelo próprio exercício da atividade pedagógica, e uma observação recíproca e hierarquizada. Uma relação de vigilância, definida e regulamentada, está inscrita na essência da prática do ensino: não como uma peça adicional ou adjacente, mas como um mecanismo que lhe é inerente e que multiplica a sua eficiência."


(Vigiar e Punir, Michel Foucault; tradução de Pedro Elói Duarte; Biblioteca Nacional de Portugal, nov. de 2013; Edições Almeida, S.A,, Lisboa, Portugal)