FÍSICA SEM EDUCAÇÃO

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quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O problema sempre é político, mas não partidário


Vou começar esse texto com uma declaração (de amor) pessoal porque a minha vivência explicita bem o decorrer do texto. Eu tenho uma grande amiga de infância, uma das poucas que restaram. Sempre fomos divergentes no aspecto partidário, mas sempre fomos semelhantes em aspectos políticos, por exemplo, a minha mãe e o meu pai sempre tiveram inclinação pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e assim fui criada. Apesar de, hoje, ter muitas divergências quanto ao partido ainda continuo tendo minhas ideologias, das quais dificilmente abrirei mão. Só que essa minha amiga é filha de militar. Então, como podem imaginar, o partido com que ela menos se afina é aquele com que eu mais me afino. Apesar de tudo isso, sempre lidamos muito bem, pois nunca sequer tocamos no assunto. Durante toda a nossa amizade tivemos diversas divergências (brigas mesmo), mas nunca foram partidárias e sim ideológicas e, apesar de ela ter tido uma criação muito diferente da minha e termos tido algumas histórias diferentes, porque uma boa parte delas foram vivenciadas juntas, muitos dos aspectos ideológicos convergem. Mas, aonde eu quero chegar?






Nessa última eleição o país ficou dividido em três, os que apoiavam o Bolsonaro, os que apoiavam o PT e os que eram contra os dois. Por tudo que eu e minha amiga vivemos, eu sabia que apesar dela discordar do PT, nunca apoiaria o Bolsonaro, não pelo seu partido, afinal nem a gente nem seus apoiadores sequer sabia qual era, mas pela sua ideologia, pelo que ele representa. Aliás, talvez até anularia seu voto se estivesse no Brasil, pois está há alguns meses na Europa (saudades), mas sei que jamais compactuaria para eleger um sujeito como ele. E, obviamente, ela não me decepcionou, pois sempre foi muito inteligente e nossa história juntas jamais permitiria um posicionamento a favor de alguém que apoia tudo aquilo que não acreditamos, por isso nossa divergência sempre foi partidária, mas nunca política.







A minha adolescência foi de luta. Apesar de nem a minha mãe nem meu pai terem influenciado diretamente, optei por lutar pelos meus direitos e os das pessoas menos favorecidas. Um dos primeiros movimentos que fui foi o Fora Collor, era uma adolescente e nem entendia direito o que acontecia, mas foi maravilhoso e me orgulho de ter estado lá. Meus amigos e amigas nunca foram os que faziam parte da alta sociedade, porque eu nunca quis. As pessoas que me conhecem realmente e que fizeram e fazem parte do meu círculo de amigos saberia de olhos fechados o meu posicionamento, porque a questão não é partidária, a questão é muito mais que isso, é ideológica.
Hoje sou sindicalizada, sou ativista, sou a favor de cotas, sou professora numa escola periférica e conheço a realidade de meus alunos e, além de tudo, sou mulher. E, sinceramente, os que achavam que me conheciam e se indignaram por eu ter me revoltado tanto com aqueles que votaram em um ser que vai contra tudo isso é porque decididamente não me conhecem. E, mais que isso, não me respeitam nem respeitam grande parte da população, pois minha posição não foi contra “os outros” e muito menos uma simples questão partidária, mas porque o outro lado é contra  tudo o que eu acredito. Infelizmente quem elegeu Bolsonaro não o fez por sua ideologia política, porque a grande (muito grande) parte de seus eleitores desconheciam sequer o plano de governo dele  nem sabia o seu partido, votaram nele por medo e ódio a negros, por apologia à violência e à tortura, votaram nele por concordar com seus discursos violentos, cheios de ódio e rasos, votaram pela sua própria ignorância.