FÍSICA SEM EDUCAÇÃO

A única maneira de fazer o Brasil progredir é com educação, informação e caráter.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

De quem você acredita que seja a culpa?

PM mata "acidentalmente" e gera protesto na zona norte de SP


Hoje, voltando para Atibaia (SP), na Rodovia Fernão Dias, onde fiquei parada por horas, havia uma manifestação sobre a morte de um garoto de 17 anos ocasionada por um policial, segundo ele, acidentalmente. Mas pela versão dos moradores, não. Ao passar pelos ônibus tombados e queimados e caminhões depredados, afinal nunca tinha visto isso pessoalmente, me senti muito oprimida diante do ocorrido.
A culpa seria de quem? Do estado que nunca se preocupou em pagar dignamente nem seus policiais, professores, ou médicos?
Que nunca ofereceu para a população saúde, educação ou segurança de qualidade?
Do policial que se sentindo massacrado por um sistema violento e corrupto acaba descontando sua raiva nas pessoas erradas, pois o seu dever seria fazer com que a lei fosse cumprida, apenas prendendo responsáveis e não punindo ao querer fazer justiça com as próprias mãos?
Da população, que sempre foi omissa diante do vandalismo de nossos políticos ao nos tratarem dessa forma?
Da mãe, por nunca ter oferecido para o seu filho uma moradia e educação digna e por ser pobre?
Do garoto, por estar na hora errada e no lugar errado?
Fiquei pensando também em como cada um de nós somos responsáveis por tudo, pois ao mesmo tempo que culpamos o vandalismo de pessoas que protestam e depredam ônibus somos coniventes com o vandalismo do estado com relação a sua população (nós), ou mesmo, defendemos os ativistas por terem invadido uma clínica particular e quebrado tudo para salvar cachorrinhos?
Muito estranho isso!

A conclusão que cheguei foi: Nenhuma, pois diante de tudo isso só me resta a indignação e como professora, a luta por uma educação de qualidade e conscientização política.

Veja o vídeo

Diante de tudo, recebi uma postagem que explana bem o problema e foi postada no meu grupo Se liga na Parada! Debatendo Direitos e Deveres Sociais, a postagem foi de  Edison Alessandro Maciel do grupo Movimento Democracia Participativa e convido a todos à participarem dos grupos para fazer valer a nossa democracia.



"O PROTESTO DA VILA MEDEIROS Saques a lojas, três caminhões e seis ônibus 

incendiados, tiros disparados, uma pessoa baleada durante um saque na Av. Milton Rocha, 

Vila Medeiros, e pelo menos 90 pessoas detidas. Este foi o resultado dos protestos 

motivados pela morte do adolescente de 17 anos, Douglas Martins Rodrigues. Segundo a 

Polícia Militar, Douglas foi atingido "acidentalmente" depois de policiais tentarem revistar 

várias pessoas. O policial Luciano Pinheiro Bispo já está preso e responde a inquérito poe 

"homicídio culposo". Reportagens de TV, posts e comentários em blogs, sites e redes 

sociais tiveram o intuito de confundir as pessoas passando a imagem de que este protesto 

específico esteja ligado aos protestos que vem acontecendo há meses em várias cidades 

brasileiras. Essas reportagens visam associar os manifestantes às pessoas armadas que 

colocaram fogo em caminhões e ônibus na rodovia Fernão Dias e que, em grande parte, 

tem envolvimento com o tráfico de drogas da região. Porém, existem semelhanças, a maior 

delas, sem dúvida, é a motivação da revolta e do protesto. Mais uma vez a população é 

vítima do despreparo, do descaso, da indiferença policial e da violência policial na periferia 

e, embora o policial Luciano Pinheiro Bispo alegue que o disparo tenha sido acidental, 

testemunhas dizem que a viatura teria passado pelo jovem, voltado e o policial teria 

disparado sem nem mesmo descer do veículo. Douglas estava acompanhado de um colega e

do irmão mais novo, de 13 anos, que disse que o irmão indagou aos policiais a razão de ter 

levado um tiro: "Por que vocês fizeram isso comigo", teria perguntado a vítima, que 

trabalhava de chapeiro, numa lanchonete. A ação desastrosa do Estado (polícia, no caso) 

desencadeou a onda de protestos pelo bairro, assim como a ação desastrosa do Estado tem 

desencadeado as várias manifestações, pacíficas ou não, Brasil a dentro. Mas as 

semelhanças estão apenas nas motivações (a incompetência e o descaso do poder público), 

pois os manifestantes que têm saído ás ruas nos últimos meses não andam armados e não 

têm relação com o crime organizado. Como se trata de um bairro periférico, e quem mora 

ou morou em periferia sabe, nesses bairros o poder paralelo tem grande influência, mais 

uma vez por incompetência e ausência do Estado cuja a presencia nessas áreas se faz 

apenas através da violência ineficaz e prejudicial de suas polícias. Esse poder paralelo, 

principalmente traficantes, foram os percussores das ações incendiárias na Fernão Dias, não 

qualquer grupo de manifestantes regulares, como querem fazer parecer as mídias. Não que 

a revolta não seja justificável, venha de quem vier, mas cada coisa deve ser colocada no 

seu lugar e cada ato deve ser atribuído ao seu devido autor. Falando em atribuição de atos 

aos seus autores, muito tem sido dito sobre as "manifestações violentas" e os "atos de 

vandalismo", mas muito pouco de fala nos motivos que levam a esse quadro de revolta 

social e o Estado continua assassinando nas periferias, os políticos que gerem o Estado 

continuam com seus privilégios e regalias, o peso dos parasitas públicos continua recaindo 

sobre o ombro do povo e a polícia continua sendo usada como barreira de proteção entre o 

povo e os aproveitadores que deveriam servi-lo. ADM - Edison"


sábado, 19 de outubro de 2013

Animais, beagles e testes

Adoro animais, sou contra os maus tratos, mas tem coisas que são exageradas, como os ativistas radicais. Coloco alguns links à disposição de quem queira se informar melhor sobre o caso...
Animais e Pesquisa Científica
Pesquisas com animais
O resgate dos Beagles
Testes em animais- um adendo
Instituto Royal X Ativistas


E tem mais reportagens, mas eu achei esses muito esclarecedores, vale a pena ver e ler.Um detalhe: Conheço tanta gente que tem animal para deixar passar fome, em coleira o dia inteiro, sem assistência nenhuma. Que tal os ativistas começarem a se preocupar com coisas mais relevantes? Uma colega do Facebook fez uma pesquisa, que todos que são contrários deveriam fazer antes de emitirem a opinião:
"ATIVISMO TERRORISTA

Esta circulando a imagem das marcas que são clientes do Instituto Royal.
Diferente de muitos, eu fui pesquisar algumas delas. 
O Instituto Royal testa vários tipos de produtos, seja cosméticos, farmacêuticos, produtos veterinários e pesquisas de doenças. O que pude observar é que eles são um dos maiores laboratórios de pesquisa do Brasil, e que fazem testes de todos os tipos, in vitro, cultura de células e em animais. 
Por que eu disse isso? Pq algumas pessoas levadas pela emoção deixa de se informar e compra ideia de terceiros, então nem todos os da lista exposta de clientes fazem testes em animais, inclusive alguns são de setores agropecuários. Vamos a algumas empresas da lista:

* GLENMARK - produz medicamentos nas áreas de dermatologia, oncologia, respiratória, ginecologia, endocrinologia, cardiologia, sistema nervoso central e anti-infecciosos.

* NEUROASSAY - biofarmacêutica com foco na descoberta e desenvolvimento de fármacos e terapias inovadoras com aplicações em diversas áreas clínicas, incluindo psiquiatria, neurologia, oncologia e doenças inflamatórias. 

*EXTRACTA – Antibióticos, doença pulmonar, hepatite C, Doença de chagas, tuberculose, diabete, dentre outros...

* CRITÉRIA -especialistas das áreas médica, química e de engenharia. Enxertia Óssea

* CRYOPRAXIS – Banco de sangue de cordão umbilical

* SILVESTRE LABS – cicatrizante, antibacterianos, saúde oral e cosmético

* BUNGE, EMBRAPA e CCAB – agropecuária e bioenergia

* VALEANT – Produtos dermatológicos, neurológicos e outros.

*DELTA – Faz parte do grupo Valeant. Produtos cosméticos, farmas e mip

* ADVANCE – Cosmético (não consegui ver muito do site estava dando erro)

* BERACA – Produtos veterinários

* BLAU – Produtos farmacêuticos, medicamentos e hospitalares.

* CHEMYUNION - Em nota: ''Somos clientes do Instituto Royal que realiza para nós os testes de AMES, que é uma avaliação do poder de uma matéria prima ser mutagênica, podendo assim causar uma alteração genética em seus consumidores. Este teste é realizado em microrganismos conhecidos como salmonelas, portanto não realizados em cães.'' Cosmético, farmaco e veterinária

* GIBVAUDAN – cosméticos, perfumes e aromas

* Pelenova - produtos e medicamentos dermatológicos

*INSTITUTO VITA – Especialidades em ortopedia, traumatologia, reabilitação, laboratório de biomecânica e odontologia

* NANOCORE – Biofarmacêuticos, analíticos, veterinária, nanotecnologia e imunologia. Fabricação de medicamentos para uso humano e veterinário.

* CRISTALIA – Produtos hospitalares, dermatologia estética e dermocosméticos, clinicas de radiologia, hemodiálise, cirurgia, oncologia e odontologia. Produtos para psiquiatria, neurologia, cardiologia, ginecologia, oftalmologia e dermatologia. Além de ser o maior produtor de anestésicos da America Latina.

* EMS - medicamento genéricos. 

* LAMBERTI BRASIL – Divisão têxtil, especialidades químicas, tintura têxtil.

* CALADRYL - Pomada dermatológica para irritações na pele e alergias.

Sobre a Fiocruz acho que não existe necessidade de explicar qual trabalho eles fazem né? Então devemos agradecer? Acho que não!"

Parabéns Ju Schettini

Bom estudo!

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Dia dos professores é todo dia, mas...


Somos responsáveis por cada cidadão, pois todos, com raríssimas exceções, passam pela nossa mão.
Recebi um e mail da secretaria de educação que achei interessante, pois sempre recebemos parabéns e etc., o que acho válido, mas nunca nos perguntamos porque somos parabenizados nesse dia específico e quem criou isso, então vamos lá...

"Para homenagear os professores da Rede fomos saber quem criou o Dia do Professor.
Salomão Becker, idealizador do Dia do Professor, foi educador na rede estadual. Para conhecer melhor sua história, entrevistamos seu filho, Sérgio.

É de Becker a frase “Professor é profissão. Educador é missão”.
Leia a íntegra da matéria na Intranet Espaço do Servidor e saiba mais sobre a vida de Salomão, que dedicou 49 anos às salas de aula.
www.intranet.educacao.sp.gov.br
Feliz Dia dos Professores!" 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Em uma nova edição: F. Caruso e A. Santoro: Física, filosofia e educação



Lendo o livro dos professores Francisco Caruso e Alberto Santoro, me veio à cabeça uma discussão muito comum sobre os sistemas heliocêntrico e geocêntrico de Aristóteles: por incrível que pareça, ainda existem pessoas que não acreditam que a Terra gira em torno do Sol.

O livro é maravilhoso. Para adquiri-lo acesse aqui, pois eu o recomendo.
Aqui vai um pequeno trecho, tanto em partes quanto resumido, aproveitem!

“Erástones calculou a distância máxima entre o Sol e a Terra cerca de 270 anos antes de Cristo e afirmava que a Terra girava em torno do Sol e, em aproximadamente 250 a.C., fez o cálculo da circunferência da Terra, errando em aproximadamente 1%.
Aristóteles inventou uma física e uma cosmogonia que permaneceram até 1600 (são 20 séculos), física errada, mas colocada no bom senso: todas as coisas da natureza tendem a ficar num só lugar, têm uma posição privilegiada.  Se tem movimento, é porque você aplica uma violência, uma força. Cessada a violência, os corpos voltam para seus lugares naturais.

O Universo possui apenas cinco planetas (Júpiter, Saturno, Marte, Vênus) e a Terra estava parada no centro desse universo. Mas, o primeiro filósofo conhecido foi Tales de Mileto (lembram-se do Teorema de Tales?) que dizia que tudo o que existe é composto por água. Podemos dizer que ele “unificou” todas as teorias com essa filosofia. Depois veio Anaxágoras, que dizia que não era a água, mas o ar. Só que foi Anaximandro quem conseguiu prever o que chamamos hoje de quarks, pois ele diz que todo o universo é formado por uma substância desconhecida, infinita e que preenche o universo inteiro. Os quarks não podem ser observados, estão confinados, presos e ele contradiz um pouco o princípio de Heisenberg. Se não conhecem a Teoria, leiam aqui.
                                                         Relembre o Teorema de Pitágoras aqui

Logo depois surge Heráclito: é o fundador da dialética e ele diz: “Os seres imortais são mortais, os mortais são imortais, vivendo daqueles a morte, morrendo daqueles a vida”. Será que se referia aos fótons? Afinal, com a sua morte criam um par de elétron-pósitron. “Um pósitron, vadiando por aí vê um elétron e o come , criando os fótons. Então, você vê uma dialética deles, é uma beleza.”
Todos esses gregos faziam especulações e guerreavam entre eles, inclusive Aristóteles era contra Pitágoras. Mas, a obra de Aristóteles foi adotada pela Igreja, principalmente por São Tomás de Aquino e heresia seria alguém dizer algo que não estivesse nas Santas Escrituras. Mas houve vários nominalistas que criticavam a física e a cosmogonia de Aristóteles e o principal deles foi Galileu Galilei, que construiu o seu próprio telescópio, com que descobriu coisas novas no céu, desenvolvendo a Física Moderna através de uma nova filosofia. Antes dele, os gregos davam mais valor à dialética, ao raciocínio, à discussão do que à observação de um fato. 

                                                                      Galileu


Galileu, através de suas observações, descobriu as leis fundamentais, o princípio da inércia e, apesar de Aristóteles dizer que abaixo da Lua não seria possível descrever o movimento que se passa, Galileu disse que as leis físicas são as mesmas, na Terra e no Céu.
Galileu deveria obedecer à Santa Autoridade, ao Santo Ofício, mas os seus escritos não mostravam isso e os aristotélicos, que eram a maioria nas Universidades da Itália, faziam intrigas contra ele.

                                                             Galileu e o Santo Ofício

 Ou Galileu admitia que podia estar errado e que tudo não passava de uma especulação, ou seria morto. Houve uma Comissão de professores universitários e santos da igreja, o Santo Ofício, que elaborou um relatório sobre as ideias de Galileu e ele então renegou sua teoria - o que o salvou da fogueira -, mas foi condenado a ficar enclausurado.
...”Há muitos Santos Ofícios espalhados pelo Brasil e a educação no Rio de Janeiro recebeu golpes mortais em 1930, da Santa Igreja, de pensadores católicos, contra Anísio Teixeira, que queria estabelecer um sistema educacional, e hoje, se estivesse vingado, o Rio de janeiro seria outro, e talvez o Brasil fosse outro. Isso a gente vai ver um dia.” ...
Como podem ver a educação no Brasil começa desde muito tempo com ditaduras impostas e alguém ainda tem dúvidas de nossa evolução?



sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Mapas do Hiperespaço



Postagem feita pelo Professor Matheus Lobo que eu achei magnífica:

“Novos Mapas do Hiperespaço – Terence McKenna Por Terence McKenna Palestra pronunciada a convite de Ruth e Arthur Young, do Instituto para o Estudo da Consciência, de berkeley, Califórnia, em 1984 . No Ulysses, de James Joyce, Stephen Dedalus nos diz: “A História é o pesadelo do qual estou tentando despertar”. Eu mudaria a frase e diria que a História é aquilo que tentamos despertar para ingressar no sonho. O sonho é escatológico. O sonho é tempo zero e fora da História. Desejamos fugir para o sonho. O desejo de fuga é a principal acusação que se faz aos que se propõem a experimentar plantas alucinógenas. Quem faz essa acusação mal poderia conceber o quanto os alucinógenos são escapistas. Escapar. Escapar do planeta, da morte, do hábito, e, se possível, do problema do Inexprimível. Se deixarmos de lado os últimos trezentos anos de experiência histórica na Europa e na América, e examinarmos o fenômeno da morte e a doutrina da alma em todas as suas ramificações – neoplatônica, cristã, dinástica-egípcia etc. -, encontraremos repetidamente a noção de que existe um corpo leve, uma enteléquia associada de alguma forma com o corpo humano durante a vida, e que a morte acarreta uma crise na qual os dois se separam. Uma das partes perde a sua raison d´être e entra em dissolução; o metabolismo pára. A outra vai não sabemos para onde. Talvez não vá para lugar algum, se não se acredita que ela exista; mas, então, tem-se o problema de achar uma explicação para a vida. E embora a ciência alegue saber muitas coisas e tenha conseguido explicar sistemas atômicos simples, a idéia de que os cientistas possam dizer alguma coisa acerca do que é a vida e de onde ela vem é, atualmente, absurda. A ciência nada tem a dizer acerca de como uma pessoa decide fechar a mão para agarrar um peixe, e, no entanto, isso acontece. Trata-se de algo inteiramente fora do alcance da explicação científica, porque o que vemos nesse fenômeno é o espírito como causa primária. É um exemplo de telecinésia: a mente faz a matéria mover-se. Portanto, não devemos temer o escárnio da ciência na questão do destino ou da origem da alma. Minha forma de sondar o assunto sempre foi a experiência psicodélica, mas recentemente passei a investigar sonhos, porque os sonhos são uma forma muito mais generalizada de experimentar a hiperdimensão na qual a vida e a alma parecem estar imersas. Observando o que as pessoas com tradições xamanistas dizem a respeito dos sonhos, chega-se à conclusão de que, para elas, a realidade do sonho é, experiencialmente, um contínuo paralelo. O xamã ingressa nesse contínuo através de alucinógenos e de certas outras técnicas, mas o meio mais eficaz são os alucinógenos. No caso de todos os outros, esse ingresso é feito através do sonho. Para Freud, os sonhos eram os “resíduos do dia”, e a pessoa poderia encontrar a origem do conteúdo do sonho na distorção de algo que houvesse acontecido durante o estado de vigília. Meu argumento é que é muito mais útil tentar construir uma espécie de modelo geométrico da consciência, encarar seriamente a idéia de um contínuo paralelo, e dizer que a mente e o corpo estão imersos no sonho e que este é uma ordem superior de dimensão espacial. Durante o sono, a pessoa se transfere para o mundo real, do qual o mundo da vigília é apenas a superfície no sentido geométrico literal. Existe um plenum – e certas experiências recentes de física quântica tendem a confirmá-lo -, um plenumholográfico de informação. Toda informação está em toda parte. A informação que não estiver ali não estará em parte alguma. A informação situa-se fora do tempo histórico, em uma espécie de eternidade – uma eternidade que não tem existência temporal, nem mesmo o tipo de existência temporal da qual se poderia dizer “Sempre existiu”. Não possui qualquer tipo de duração temporal. É eternidade. Nós não somos fundamentalmente biológicos, dotados de uma alma que surge como uma espécie de iridescência, uma espécie de epifenômeno nos níveis mais elevados de organização da biologia. Somos objetos hiperespaciais de algum tipo, que projetam sua sombra sobre a matéria. A sombra na matéria é o nosso organismo físico. Na morte, o objeto que projeta a sombra se retira; o metabolismo cessa. A forma material entra em colapso; deixa de ser uma estrutura dissipativa em uma área muito localizada, sustentada contra a entropia pelo processamento de matéria que entra, extraindo energia e eliminando rejeitos. Mas a forma que ordenou tudo isso não é afetada. Essas afirmações são feitas do ponto de vista da tradição xamanista, que tem a ver com todas as religiões superiores. Tanto o estado do sonho psicodélico como o estado do despertar psicodélico adquirem grande importância, pois revelam uma tarefa para a vida: familiarizar-nos com essa dimensão que causa a existência, para que estejamos familiarizados com ela no momento em que morremos. Várias tradições valem-se da metáfora do veículo – um veículo para após a morte, um corpo astral. O xamanismo e certas iogas, inclusive a ioga taoísta, afirmam claramente que a finalidade da vida é familiarizar-nos com esse corpo que iremos ter depois da morte, para que o ato de morrer não traga confusão à nossa psique. A pessoa reconhecerá o que está acontecendo. Saberá o que fazer e poderá separar-se ordeiramente. Contudo, parece haver a possibilidade de um problema no ato de morrer. Não é o caso de ser condenado à vida eterna. A pessoa pode confundir-se por ignorância. Aparentemente há, no momento da morte, uma espécie de separação, como no nascimento – a metáfora é trivial, mas perfeita. Há a possibilidade de dano ou de atividade incorreta. William Blake, poeta e místico inglês, dizia que, à medida que se começa a subir a espiral, há a possibilidade de se cair da trilha dourada para a morte eterna. Contudo, é apenas a crise de um momento – uma crise de transição -, e toda a finalidade do xamanismo e da vida corretamente vivida é fortalecer a alma e reforçar a relação entre o ego e a alma, para que essa transição possa ser feita ordenadamente. Essa é a posição tradicional. Desejo incluir um abismo nesse modelo – um abismo menos conhecido dos racionalistas, porém familiar a todos nós, a um nível psíquico mais profundo, como herdeiros da cultura judeu-cristã. Trata-se da idéia de que o mundo vai acabar, que haverá um tempo final, que existe não só a crise da morte do indivíduo, mas também a crise da morte na história da espécie. Aparentemente, trata-se de que, desde o tempo da conscientização da existência da alma até a resolução do potencial apocalíptico, decorrem aproximadamente cem mil anos. Do ponto de vista biológico, isso representa apenas um momento, mas é dez vezes mais do que toda a duração da História. Durante esse período, tudo é incerto, pois há uma corrida louca desde o hominídeo até o vôo espacial. No pulo por sobre esses cem mil anos, há dispersão de energia, religiões se ascendem como centelhas, filosofias nascem e morrem, surgem a ciência e a magia, como também surgem todos os interesses que controlam o poder com maior ou menor grau de respeito à ética. E há a onipresente possibilidade de que a transformação da espécie em uma enteléquia hiperespacial venha a abortar. Estamos hoje, sem sombra de dúvida, nos segundos histórics finais dessa crise – crise que envolve o fim da História, nossa partida do planeta, o triunfo sobre a morte, e a libertação dos indivíduos em relação ao corpo. Estamos, de fato, nos aproximando do mais profundo evento com o qual uma ecologia planetária pode se deparar – o momento em que a vida se liberta da sombria crisálida da matéria. A velha metáfora da psique como lagarta que se transforma por metamorfose é uma analogia que se aplica a toda a nossa espécie. Temos de passar por uma metamorfose a fim de sobreviver ao ímpeto de forças históricas que já foram deflagradas. Os biólogos evolucionistas consideram que os humanos são uma espécie que cessou de evoluir. Em algum momento, nos últimos cinqüenta mil anos, com a invenção da cultura, a evolução biológica dos seres humanos cessou e a evolução tornou-se um fenômeno epigenético e cultural. Os instrumentos, as línguas e as filosofias passaram a evoluir, mas o tipo somático humano permaneceu o mesmo. Somos, fisicamente, muito semelhantes a indivíduos que viveram em um passado distante. A tecnologia, porém, é a verdadeira pele da nossa espécie. A humanidade, encarada corretamente no contexto dos últimos quinhentos anos, é um agente extrusivo de material tecnológico. Tomamos matéria com baixo grau de organização, fazemo-la passar por nossos filtros mentais e expelimos em formas de jóias, escrituras sagradas e ônibus espaciais. É isso o que fazemos. Somos como corais incrustados em um recife tecnológico de objetos psíquicos extrudados. Toda a nossa fabricação de instrumentos implica a nossa fé em um instrumento supremo. Esse instrumento é o disco voador ou a alma exteriorizada no espaço tridimensional. O corpo pode tornar-se um objeto holográfico interiorizado, inserido em uma matriz tridimensional, em estado sólido, que é eterna, de modo que todos passamos a viver em um verdadeiro Elísio. Espécie de paraíso muçulmano, esse Elísio permite-nos gozar de todos os prazeres da carne, contanto que saibamos que somos uma projeção holográfica de uma matriz em estado sólido, microminiaturizada e supercondutora, a qual não se encontra em lugar algum: é parte do plenum. A finalidade de toda a história tecnológica é produzir protótipos dessa situação, cada vez mais próximos do ideal, de modo que os aviões, os automóveis,os ônibus espaciais, as colônias espaciais, as naves interestelares, feitas de parafusos e porcas e capazes de viajar à velocidade da luz, são, como disse Mircea Eliade, “imagens de vôo que se autotransformam e que nos dizem muito a respeito das aspirações humanas de autotranscendência”. Nosso desejo, nossa salvação e nossa única esperança é pôr fim à crise história, transformando-nos no alienígena, pondo fim à alienação, reconhecendo o alienígena como o Eu – de fato, reconhecendo o alienígena como a Supermente que conserva intatas todas as leis físicas do planeta, da mesma forma que conservamos intata uma idéia em nosso pensamento. Os dados que julgamos indelevelmente a para sempre escritos são, na verdade, apenas estados de ânimo da Deusa, da qual somos o reflexo. Todo o significado da história humana reside em recuperar essas informações perdidas, para que o homem possa ser dirigível ou, parafraseando Joyce em Finnegans Wake, ao referir-se a Moicane, a zona de prostituição de Dublin: “Aqui em Moicane, se caímos na calçada, logo nos levantamos, reunimos as nossas forças e batemos as asas. De modo que, se você quiser renascer, venha sentar-se conosco.”. Como se vê, é muito simples, mas é preciso coragem para permanecer-se sentado quando a Morte se aproxima – a Morte que Joyce chama de “benção disfarçada”. O que os alucinógenos encorajam – e aquilo que espero venha a merecer atenção assim que os alucinógenos sejam integrados à nossa cultura ao ponto em que grandes grupos de pessoas possam planejar programas de pesquisa sem receio de perseguição – é um modelo do estudo que se segue à morte. Os alucinógenos podem fazer mais do que modelar esse estado; podem revelar a sua natureza. Podem mostrar-nos que é possível alterar as modalidades de aparência e conhecimento de modo a permitir que vejamos a nossa mente no contexto da Mente Única. A Mente Única contém todas as experiências do Desconhecido. Não há qualquer dicotomia entre o universo newtoniano, que se estende através de anos-luz de espaço tridimensional, e o universo mental interior. Ambos são reflexos da mesma coisa. Se percebemos esses dois universos como dualismos irredutíveis, isso se deve a má qualidade do código que costumamos usar. A linguagem que empregamos para discutir esse problema tem dualismos inerentes. Trata-se de um problema de linguagem. Todos os códigos tem as suas qualidades relativas, exceto o Logos. O Logos é perfeito e, portanto, não compartilha das qualidades de nenhum outro. Uso aqui o termo Logos no sentido em que esse termo é utilizado por Fílon, o Judeu – o de Razão Divina que abrange o complexo arquetípico de ideais platônicos que servem de modelo à criação. Quando não usamos o Logos para traçar os nossos mapas, temos problemas de qualidade de código. O dualismo inerente a nossa linguagem faz com que a morte da espécie e a morte do indivíduo pareçam dois conceitos opostos. Da mesma forma, há uma dicotomia entre os cenários criados pela biologia, a partir do exame do universo físico, e os mundos de anjos e demônios aos quais a psicologia se refere. A experiência psicodélica atua no sentido de resolver essa dicotomia. Para irmos além de um conhecimento acadêmico das plantas alucinógenas, basta-nos experimentar o êxtase induzido pela triptamina. A molécula de dimetiltriptamina (DMT) tem a singular propriedade de libertar o ego estruturado para que este se reúna ao Superego. Todos os que tiveram essa experiência passaram por um mini-apocalipse, um mini-ingresso e mapeamento do hiperespaço. Para que a sociedade volte a sua atenção nesse sentido, basta que essa experiência se torne objeto do interesse geral. Não quero dizer com isso que todos devam fazer experiências com cogumelos ou outras fontes de triptaminas psiquicamente ativas que ocorrem na natureza. Devemos procurar assimilar e integrar a experiência psicodélica, uma vez que se trata de um plano experiencial ao qual todos temos acesso direto. O papel que iremos desempenhar em nossa relação com ele determina como iremos nos apresentar naquela anunciada transformação final. Em outras palavras, há nessa noção uma espécie de preconceito teológico; há a crença que existe um hiperobjeto chamado Supermente, ou Deus, que projeta uma sombra no tempo. A História é a nossa experiência grupal dessa sombra. À medida que nos aproximamos cada vez mais da fonte da sombra, os paradoxos aumentam, aumenta o coeficiente de mudança. O que acontece é que o hiperobjeto começa a ingressar no espaço tridimensional. Uma forma de conceber isso é supor que o mundo da vigília e o mundo do sonho passam a fundir-se, de modo que, até certo ponto, aqueles críticos do OVNI que afirmam que os discos voadores são alucinações estão corretos, no sentido de que as leis que regem o sonho, as leis que regem o hiperespaço, podem as vezes funcionar no espaço tridimensional, quando a barreira entre as duas realidades se dissipa. Nesse caso, a pessoa tem experiências curiosas, as vezes chamadas de falhas psicóticas, as quais sempre exercem tremendo impacto sobre o paciente, uma vez que parece haver um componente externo que absolutamente não pode ser subjetivo. Nessas ocasiões, as coincidências começam a se acumular, até que a pessoa finalmente admite não saber o que está acontecendo. Contudo, é absurdo afirmar que se trata de um fenômenos psicológico, pois o fenômenos é acompanhado de mudanças no mundo exterior. Jung deu a isso o nome de “sincronicidade” e construiu o seu modelo psicológico, mas o que realmente sucede é que uma física alternativa começa a intervir com a realidade local. Essa física alternativa é uma física da luz. A luz é feita de fótons, e os fótons não possuem antipartículas. Isso significa que não existem dualismos no mundo da luz. As convenções da relatividade dizem que o tempo se atrasa à medida que nos aproximamos da velocidade da luz; mas, se tentarmos imaginar o ponto de vista de uma coisa feita de luz, temos de reconhecer que o que nunca se diz é que, se viajarmos à velocidade da luz, o tempo deixa de existir. Experimentamos o tempo zero. Portanto, se imaginarmos por um instante que somos feitos de luz, ou que estamos de posse de um veículo capaz de mover-se à velocidade da luz, podemos ir de um a qualquer ponto do universo com uma experiência subjetiva de tempo zero. Ou seja, iremos à Alfa Centauro no tempo zero, enquanto o tempo ocorrido no universo relativista é de quatro anos e meio. Mesmo que atravessemos distâncias muito grandes, se viajarmos ao longo de 250 mil anos-luz até Andrômeda, continuaremos a ter a experiência subjetiva de tempo zero. A única experiência do tempo que podemos ter é a de um tempo subjetivo, criado por nossos próprios processos mentais; em relação ao universo newtoniano, o tempo não existe. Passamos a existir na eternidade, tornamo-nos eternos; em tal situação, o universo envelhece a uma velocidade espantosa à nossa volta, mas isso é percebido como um fato do universo – da mesma forma que percebemos a física newtoniana como um fato deste universo. A pessoa passa para a modalidade eterna; separa-se da imagem transitória; existe na perfeição da eternidade. Acredito que é nessa direção que estamos sendo levados pela tecnologia. Não há contradição entre equilíbrio ecológico e migração espacial, entre hipertecnologia e ecologia radical. Todas essas questões são especulativas; a única entidade histórica que está se tornando iminente é a alma humana. O corpo do primata serviu para trazer-nos a este momento de liberação, e sempre servirá de foco de nossa auto-imagem, mas estamos passando a existir cada vez mais em um mundo feito de imaginação humana. É isto o que se tem em mente quando se fala do retorno ao Pai, a transcendência da physis, a libertação da prisão gnóstica universal, uma prisão de ferro que detém a luz: nada menos que a transformação da nossa espécie. Dentro de muito pouco tempo haverá uma aceleração desse fenômeno sob a forma de exploração espacial e colônias espaciais. O animal chamado Homem, semelhante a um recife de coral, que vem extrudando tecnologia sobre a superfície do planeta, será libertado de todas as limitações, exceto das limitações dos materiais e da imaginação. Já se sugeriu que as primeiras colônias espaciais devem incluir um esforço de duplicar, como ideal, o idílico ecossistema do Havaí. Esses exercícios de conhecimento ecológico demonstrarão que sabemos o que estamos fazendo. Contudo, assim que esses conhecimentos estiverem sob controle, passaremos ao domínio da arte. É isso o que sempre buscamos. Construiremos o nosso mundo – todos os nossos mundos -, e o mundo de onde viemos será mantido como um jardim. O que Eliade discutiu como metáforas de autotransformação através do vôo será realizado brevemente na tecnologia da colonização do espaço. A transição da Terra para o espaço constituirá um filtro genético tremendamente rigoroso, mais rigoroso que qualquer fronteira jamais o foi no passado, inclusive o filtro genético e demográfico representado pela colonização do Novo Mundo. Já se disse que a vitalidade das Américas se deve ao fato de que somente os sonhadores, pioneiros e fanáticos cruzaram o oceano. Isto se aplicará ainda mais a transição para o espaço. A conquista tecnológica do espaço criará as condições iniciais; em seguida, para a internalização dessa metáfora, trará a conquista do espaço interior e o colapso dos vetores de estado associados a essa tecnologia no espaço newtoniano. Nesse ponto, a espécie humana ter-se-á tornado mais do que dirigível. Uma tecnologia que interiorize o corpo e exteriorize a alma se desenvolverá paralelamente à transição para o espaço. The Invisible Landscape, livro que o meu irmão e eu escrevemos, faz um esforço no sentido de abreviar essa cronologia e, de certa forma, forçar o resultado. O livro é a história, ou melhor, as bases intelectuais da história de uma expedição à Amazônia que o meu irmão, eu e várias outras pessoas empreendemos em 1971. Durante essa expedição, o meu irmão formulou uma idéia que incluía o uso de harmina e harmalina, compostos que ocorrem no Banisteriopsis caapi, a vinha silvestre que é a base do Ayahuasca. Procuramos usar harmina em conjunto com a voz humana no que chamamos “experiência de La Chorrera”. Tratava-se de um esforço de carregar, através do som, a estrutura das moléculas de harmina que se metabolizavam no organismo, de tal forma que elas formassem ligações, preferencial e permanentemente, com estruturas moleculares endógenas. Nosso candidato na ocasião era o DNA neural, embora Frank Barr, que vinha pesquisando as propriedades da melanina cerebral, me houvesse convencido de que há igual possibilidade que a harmina atuasse ligando-se a corpos de melanina. Em ambos os casos a farmacologia acarreta ligações com um local de armazenamento, de informações, sendo estas, em seguida, transmitidas de tal forma que a pessoa passa a ter uma leitura mental da estrutura da alma. Nossa experiência foi um esforço no sentido de usar um tipo de tecnologia xamanista para, por assim dizer, colocar um sino no pescoço do gato, pendurar um dispositivo telemétrico supercondutor na Supermente para que houvesse uma leitura contínua de informações a partir daquela dimensão. Deixo a quem assim o deseja julgar o sucesso ou fracasso dessa tentativa. A primeira parte do livro descreve as bases teóricas da experiência. A segunda descreve a teoria da estrutura do tempo que resultou dos bizarros estados mentais que se seguiram a experiência. Não afirmo que tenhamos tido êxito, apenas que a nossa teoria quanto ao que aconteceu é mais plausível que qualquer teoria proposta pelos críticos. Quer tenhamos tido êxito ou não, esse tipo de raciocínio nos aponta o caminho a seguir. Por exemplo, quando falo da tecnologia da construção de espaçonaves, imagino que esta será obtida com voltagens bem inferiores à voltagem de uma lanterna comum de pilhas. Afinal, é nesse nível que ocorrem os fenômenos mais interessantes da natureza, como o pensamento e o metabolismo. O pensamento e o metabolismo são fenômenos desse tipo. Uma nova ciência que coloque a experiência psicodélica no centro de seu programa de pesquisas deve buscar a realização prática desse objetivo – o objetivo de eliminar a bareira entre o ego e o Superego, para que o ego possa ver-se como uma expressão do Superego. Assim, a ansiedade de encarar uma tremenda crise biológica como as crises do ecossistema, bem como a crise da limitação do espaço físico que a nossa situação terrena nos força a atravessar, poderá ser evitada através do cultivo da alma e da prática de um novo xamanismo que use plantas contendo triptaminas. A psilocibina é, desses compostos, o mais facilmente encontrado e o mais experimentalmente acessível. Portanto, o apelo que faço aos cientistas, administradores e políticos que venham ler as minhas palavras é este: voltem a examinar a psilocibina. Não a confundam com os outros alucinógenos, compreendam que ela é um fenômeno por si mesma, com enorme potencial de transformar os seres humanos – e não somente transformar as pessoas que ingerem, mas transformar a sociedade, tal como um movimento artístico, um novo conhecimento matemático ou um progresso científico transforma a sociedade. A psilocibina tem a possibilidade de transformar espécies inteiras, simplesmente em virtude das informações que transmite. É uma fonte de gnose, e a voz da gnose foi silenciada na mente ocidental há pelo menos mil anos. Quando os franciscanos e dominicanos chegaram ao México, no século XVI, trataram imediatamente de eliminar a religião do cogumelo ao qual os índios davam o nome de teonanacatl, ”a carne dos deuses”. A religião católica detinha o monopólio da teofagia, e não viu com bons olhos aquela maneira de abordar o assunto. Hoje, quatrocentos anos após esse contato inicial, acredito que Eros, que se retirou da Europa com o advento do cristianismo, refugiou-se na Sierra Mazateca. Finalmente, após sua reclusão nas montanhas, reemerge agora na consciência ocidental. Nossas instituições, nossas epistemologias estão falidas e exauridas; temos de recomeçar de novo e esperar que, com a ajuda de personalidades inspiradas no xamanismo, possamos cultivar mais uma vez esse antigo mistério. O Logos pode ser liberado; a voz que falou a Platão, Parmênides e Heráclito pode voltar a falar na mente do homem moderno. Quando o fizer, a alienação terminará, porque passaremos a ser o alienígena. Essa é a promessa que se nos apresenta; para alguns, pode parecer uma visão de pesadelo, mas todas as mudanças históricas de imensa magnitude trazem consigo uma carga emocional. Lançam a humanidade em um mundo completamente novo. Acredito que essa tarefa tem de ser realizada através do uso de alucinógenos. Sempre se acreditou que existem muitos caminhos para o progresso espiritual. Nesse particular, valho-me de minha experiência pessoal. Nenhuma outra técnica me trouxe bons resultados. Passei algum tempo na Índia, pratiquei ioga, visitei vários rishis roshis, geysheys e gurus que existem na Ásia, e acredito que eles devem estar falando de algo tão pálido, tão distanciado do contato o pleno êxtase das triptaminas, que realmente não sei o que pensar deles e das vagas revelações que fazem. O tantrismo alega ser outro caminho nessa direção. Tantra significa “o caminho mais curto” e certamente pode estar no rumo certo. A sexualidade, o orgasmo, essas coisas possuem qualidades semelhantes às das triptaminas, mas a diferença entre a psilocibina e todos os outros alucinógenos é a informação – enormes quantidades de informação. O LSD me pareceu ter muito a ver com a estrutura da personalidade. As visões que ele proporciona me pareciam, muitas vezes, ser meramente geométricas, a não ser que fosse sinergizadas por outro composto. A clássica experiência psicodélica relatada por Aldous Huxley foi feita com 200 microgramas de LSD e e 30 miligramas de mescalina. Essa combinação produz uma experiência visual, não uma experiência de alucinações. Em minha opinião, a qualidade especial da psilocibina é que ela revela não luzes coloridas ou configurações móveis, mas lugares – selvas, cidades, máquinas, livros, formas arquitetônicas de incrível complexidade. Não há qualquer possibilidade de confundir tais coisas com qualquer tipo de “estática” neurológica. Trata-se, de fato, da informação visual mais altamente organizada que se pode receber, muito mais altamente organizada que a visão normal do estado de vigília. E por isto que é muito difícil a quem experimenta um composto alucinógeno trazer de volta informações. É muito difícil transformar essas informações em linguagem; é como tentar fazer uma reprodução tridimensional de um objeto quadrimensional. Somente através da visão pode-se perceber a verdadeira modalidade desse Logos. Por isso é tão interessante o fato de a psilocibina e o ayahuasca – a poção aborígene que contém triptamina – produzirem telepatia e um estado de espírito do qual várias pessoas podem compartilhar. A resultante alucinação em grupo é compartilhada em completo silêncio. É difícil provar isso a um cientista; mas, se várias pessoas participarem desse tipo de experiência, uma delas pode começar a descrever a visão, interromper-se, e outra retomar a descrição. Todos vêem a mesma coisa! É o fato de ser informação visual complexa que faz do Logos uma visão cuja verdade não se pode descrever. Mas as informações assim transmitidas não se limitam a modalidade visual. O Logos é capaz de passar de algo que se ouve para algo que se vê, sem qualquer transição perceptível. Isso parece uma impossibilidade lógica; no entanto quanto realmente se tem tal experiência, a pessoa vê – ah-ah! –, é como se o pensamento que a pessoa ouve se transformasse em algo que se vê. O pensamento que a pessoa ouve torna-se cada vez mais intenso, até que, finalmente, sua intensidade é tão grande que, sem transição, a pessoa passa a vê-lo em seu espaço visual e tridimensional. A própria pessoa comanda o fenômeno. Isso é muito típico da psilocibina. Naturalmente, sempre que introduz algum composto no organismo, a pessoa deve ter cuidado e estar bem informada acerca de possíveis efeitos colaterais. Os pesquisadores profissionais da experiência psicodélica têm conhecimento desses fatores e reconhecem abertamente a importância fundamental de se estar bem informado. Quanto a mim posso dizer que não abuso dos alucinógenos. Levo muito tempo para assimilar cada experiência visionária. Nunca perco o meu respeito por essas dimensões. O medo é uma das emoções que sinto sempre que vou fazer uma experiência. Trabalhar com um alucinógeno é como navegar em um mar escuro em um pequeno barco. Pode-se ver a lua subindo serenamente por sobre a água escura e calma, ou algo do tamanho de um trem de carga pode passar rugindo, fazer virar o barco e deixar a pessoa na água, agarrada ao remo. O diálogo com o Desconhecido é o que faz valer a pena repetir essas experiências. O cogumelo nos fala quando falamos com ele. Na introdução do livro que o meu irmão e eu escrevemos (e assinamos com pseudônimos), intitulado Psilocybin: The Magic Mushroom Grower’s Guide há um monólogo de um cogumelo que começa assim: “Sou velho, cinqüenta vezes mais velho que o pensamento é para a espécie a que você pertence, e vim das estrelas.” Palavras textuais: eu vinha anotando tudo furiosamente. Às vezes ele é muito humano. Minha atitude com ele é hassídica. Esbravejo com ele e ele esbraveja comigo. Discutimos quanto ao que vai ou não vai revelar. Digo: “Eu sou um disseminador, você não pode se negar a me dizer coisas.” E ele responde: “Mas se eu lhe mostrasse o disco voador durante cinco minutos, você ficaria sabendo como ele funciona.” E eu digo: “Pois então me mostre.” O cogumelo se manifesta de várias maneiras. Às vezes é como a Dorothy de O Mágico de Oz; outras vezes é como um agiota muito talmúdico. Certa vez perguntei: “O que está fazendo na Terra?” E ele respondeu: “Quando se é um cogumelo, não custa nada ir para onde se quer. Além do mais, isto aqui era um lugar bastante bom até que os macacos escaparam ao controle.” “Macacos que escaparam ao controle”: é assim que o cogumelo vê a história humana. Para nós, a história é bem diferente: é a onda de choque da escatologia. Em outras palavras, vivemos um momento muito especial de dez ou vinte mil anos de duração, no qual uma enorme transição está ocorrendo. O objeto que há no fim da História e além da História é a espécie humana em união tântrica e eterna com a Supermente/OVNI supercondutora. É esse o mistério cuja sombra se projeta de volta no tempo. Todas as religiões, todas as filosofias, todas as guerras, todos os extermínios e perseguições acontecem porque as pessoas não recebem adequadamente a mensagem. Há, ao mesmo tempo, a progressiva casuística do ser (determinismo causal) e o padrão de interferência que se lhe contrapõe a existência desse hiperobjeto escatológico que lança a sua sombra através da paisagem to tempo. Nós existimos, mas há muita interferência. Essa situação chamada História é totalmente singular; irá durar somente um momento; começou há apenas um instante. Nesse instante, há uma tremenda explosão de estática quando o macaco atinge a divindade, quando o objeto escatológico final mitiga e transforma o fluxo da circunstância entrópica. A vida é fundamental para o processo de organização da matéria. Rejeito a idéia de que tenhamos enveredado por um desvio chamado existência orgânica, que o nosso verdadeiro lugar é a eternidade. Essa modalidade de existência é parte importante do ciclo. É um filtro. Há a possibilidade de extinção, a possibilidade de cair para sempre na physis, e, nesse sentido, a metáfora da queda é válida. Há uma obrigação espiritual, uma tarefa a ser cumprida. Mas não é algo tão simples quanto seguir um conjunto de regras ditado por outra pessoa. O empreendimento noético é uma das obrigações primárias da existência. Dele depende nossa salvação. Nem todos precisam ler livros de alquimia ou estudar moléculas supercondutoras para fazer a transição. A maioria das pessoas consegue fazê-la ingenuamente, raciocinando com clareza sobre o presente, mas nós, intelectuais, estamos presos a um mundo onde há informações em demasia. Perdemos a inocência. Não podemos esperar atravessar a ponte estreita mediante um bom ato de contrição; isso não será suficiente. Precisamos compreender. O Whitehead disse: “O conhecimento é a percepção de um padrão como tal.” Temer a morte é não compreender a vida. A atividade cognitiva é o fato definidor da humanidade. Linguagem, pensamento, análise, arte, dança, poesia, invenção de mitos – estas são as coisas que apontam na direção do éscathos. Nós, humanos, podemos entrar em um reino de pura auto-engenharia. A imaginação é tudo. Foi isso o que Blake percebeu. É de lá que viemos. É para lá que estamos indo. E só podemos chegar lá através da atividade cognitiva. O tempo é a noção que reforça noções como esta, pois elas implicam um novo conceito de tempo. Durante a experiência de La Chorrera, o Logos demonstrou que o tempo não é simplesmente um meio homogêneo no qual as coisas ocorrem, e sim uma densidade flutuante de probabilidade. Embora a ciência possa, às vezes, nos dizer o que pode e o que não pode acontecer, não temos uma teoria que explique porque, de tudo o que poderia acontecer, certas coisas passam pelo que Whitehead chama de “a formalidade de realmente ocorrer”. Foi isto o que o Logos tentou explicar, o motivo pelo qual, de toda uma miríade de coisas que podiam acontecer, certas coisas passam pela formalidade de ocorrer. É porque existe uma hierarquia modular de ondas de condicionamento temporal, de densidade temporal. Determinado evento, considerado altamente improvável, é mais provável em certos momentos do que em outros. Tomando essa simples percepção e guiado pelo Logos, pude construir um modelo fractal do tempo, passível de ser programado em computador e produzir um mapa da introdução do que chamo “novidade” – a introdução da novidade no tempo. Como norma geral, a novidade está obviamente aumentando. Vem aumentando desde o começo do universo. Imediatamente após o “Big Bang”, havia somente a possibilidade de interação nuclear; depois, quando as temperaturas caíram abaixo do ponto da resistência do núcleo, tornou-se possível a formação de sistemas atômicos. Mais tarde ainda, à medida que as temperaturas continuaram a cair, surgiram os sistemas moleculares. E, muito mais tarde, a vida se tornou possível: surgiram formas muito complexas de vida, o pensamento se tornou possível, a cultura foi inventada. Inventaram-se a imprensa e a transferência eletrônica de informações. O que está acontecendo em nosso mundo é uma invasão de novidades, na direção daquilo que Whitehead chamava de “concrescência”, uma espiral que vai afunilando cada vez mais. Tudo flui e se une. A lapis autopoetica, a pedra alquímica que está no fim do tempo, coalesce quando tudo flui e se une. Quando as leis da física são neutralizadas, o universo desaparece, e o que resta é o plenum fortemente unido, a mônada, capaz de se expressar por si mesma, em vez de apenas lançar a sua sombra na physis como reflexo de si própria. Neste ponto, eu me aproximo muito do pensamento clássico milenário e apocalíptico em minha noção da rapidez com que as mudanças vão se acelerando. Pela forma como a espiral vai se estreitando, prevejo que a concrescência se dará em breve – por volta do ano 2012 d.C. Será o ingresso de nossa espécie no hiperespaço, mas parecerá ser o fim das leis da física, acompanhado pela liberação da mente, que passará a existir na imaginação. Todas essas imagens – a nave espacial, a colônia espacial, a lapis – são imagens percursoras. Seguem-se naturalmente da idéia de que a História é a onda de choque da escatologia. À medida que nos aproximamos do objeto escatológico, os reflexos que ele lança, mais se assemelham ao próprio objeto. No último instante, o Inefável é revelado. Não há mais reflexos do Mistério. O Mistério é visto em toda a sua nudez, e nada mais existe. Mas o que ele é, mal podemos supor; não obstante, o prazer máximo do futurismo é tentar adivinhá-lo. (Terence McKenna) Retirado do Livro “O Retorno à Cultura Arcaica” (Terence Mckenna)”


 FONTE: http://mundocogumelo.com/2010/03/14/novos-mapas-do-hiperespaco/ CONVITE: SEJA BEM-VINDO(A)!!! ADD SEUS AMIGOS(AS)!!! https://www.facebook.com/groups/sget.sk/