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domingo, 23 de fevereiro de 2020

Se o Construtivismo é deturpado, imagina um Radical





           Giambattista Vico, o filósofo  italiano que Von Glaserfeld cita na sua teoria do Construtivismo Radical, diz que devemos abandonar a crença inveterada de que o conhecimento deve estar em algo além do que conhecemos.
Para Piaget, outro grande influenciador, aliás, por isso o nome “Construtivismo Radical”, defende que um objeto não é algo em si, mas algo em que o sujeito, através de sua cognição, constrói ao fazer distinções e coordenações em seu campo perceptivo.


      E assim o autor dessa nova forma de construtivismo critica o solipsismo, ou seja, a concepção filosófica de que, além de nós, só existem nossas experiências. 

      Partindo dessa premissa, ele critica alguns posicionamentos científicos: “Quando minhas ações fracassam e sou obrigado a fazer uma acomodação física ou conceitual, isso não me garante supor que o meu fracasso revele algo que “existe” além da minha experiência.”
      
      O que ele quer dizer é que, segundo a teoria construtivista de Piaget, já explicada em posts anteriores, quando temos que reformular nossos pensamentos e criar novas acomodações, nós o fazemos baseados em coisas que já conhecemos, não em algo inimaginável.
     
       Para ele, a matemática reflete o mundo real, através dos signos que criamos nela; e as nossas experiências e o que conhecemos é o que a faz ser real e ganhar sentido.


      Mas, qual é o papel do professor nisso tudo? O professor construtivista, segundo suas próprias palavras, não desiste de seu papel como guia, mas, ao invés de liderar, ele incentiva e orienta o esforço construtivo de seus alunos (por isso o nome construtivismo). Ele (o construtivismo radical) não nega uma verdade, ele ajuda a construí-la, através de todo o conhecimento já assimilado e acomodado anteriormente e o papel do professor é de guia, como dito acima.
      
      Por que então radical? Além da maneira como o professor é visto, além de transmissor e detentor de conhecimento, já definido e deturpado no próprio construtivismo de Piaget, visto que, segundo algumas interpretações, o professor não pode corrigir o aluno, no construtivismo Radical, a deturpação está no fato de alguns acreditarem que o professor é dispensável, o que não é verdade, como já colocado acima, mas de maneira bem simples, Von Glaserfeld faz uma crítica à forma como o conhecimento científico é visto: “Quando deixamos o conhecimento científico se transformar em crença e começamos a considera-lo um dogma inquestionável estamos indo ladeira abaixo. ”

      E mais...

      “Neste sentido, nós é que somos responsáveis pelo mundo que estamos experimentando. Como reiterei muitas vezes, o construtivismo radical não sugere que possamos construir o que quisermos, mas afirma que dentro das restrições que limitam nossa construção ele é um espaço para uma infinidade de alternativas. Portanto, não parece oportuno sugerir uma teoria do conhecimento que chame a atenção para a responsabilidade do conhecedor pelo que ele constrói.”

       No construtivismo radical, o professor não é descartado, muito menos a verdade objetiva, nem suprime a crítica e o debate, muito pelo contrário, o construtivismo radical, assim como o construtivismo piagetiano, foi mal interpretado. Essa teoria proposta por Von Glaserfeld não afirma ter encontrado uma verdade ontológica, mas apenas propõe um modelo hipotético que pode vir a ser útil e adaptado.




Referências:
von Glasersfeld, E. (1989) Abstração, representação e   reflexão. Em LPSteffe (Ed.) Fundamentos epistemológicos da experiência matemática . Nova York: Springer, no prelo.
von Glasersfeld, E. (1980), Adaptação e viabilidade, American Psychologist, 35 (11), 970-974.
Vico, G.-B. (1858) De antiquissima Italorum sapientia (1710) Nápoles: Stamperia de ' Classici Latini
Piaget, J. (1969) Mecanismos de percepção. (Tradução de G.N.Seagrim) Nova York: Basic Books