Giambattista Vico, o filósofo italiano que Von Glaserfeld
cita na sua teoria do Construtivismo Radical, diz que devemos abandonar a
crença inveterada de que o conhecimento deve estar em algo além do que
conhecemos.
Para Piaget, outro grande influenciador, aliás, por isso o
nome “Construtivismo Radical”, defende que um objeto não é algo em si, mas algo
em que o sujeito, através de sua cognição, constrói ao fazer distinções e
coordenações em seu campo perceptivo.
E assim o autor dessa nova forma de construtivismo critica o
solipsismo, ou seja, a concepção filosófica de que, além de nós, só existem
nossas experiências.
Partindo dessa premissa, ele critica alguns
posicionamentos científicos: “Quando minhas ações fracassam e sou obrigado a
fazer uma acomodação física ou conceitual, isso não me garante supor que o meu
fracasso revele algo que “existe” além da minha experiência.”
O que ele quer dizer é que, segundo a teoria construtivista
de Piaget, já explicada em posts anteriores, quando temos que reformular nossos
pensamentos e criar novas acomodações, nós o fazemos baseados em coisas que já
conhecemos, não em algo inimaginável.
Para ele, a matemática reflete o mundo real, através dos
signos que criamos nela; e as nossas experiências e o que conhecemos é o que a faz
ser real e ganhar sentido.
Mas, qual é o papel do professor nisso tudo? O professor
construtivista, segundo suas próprias palavras, não desiste de seu papel como
guia, mas, ao invés de liderar, ele incentiva e orienta o esforço construtivo
de seus alunos (por isso o nome construtivismo). Ele (o construtivismo radical)
não nega uma verdade, ele ajuda a construí-la, através de todo o conhecimento
já assimilado e acomodado anteriormente e o papel do professor é de guia, como
dito acima.
Por que então radical? Além da maneira como o professor
é visto, além de transmissor e detentor de conhecimento, já definido e
deturpado no próprio construtivismo de Piaget, visto que, segundo algumas
interpretações, o professor não pode corrigir o aluno, no construtivismo
Radical, a deturpação está no fato de alguns acreditarem que o professor é
dispensável, o que não é verdade, como já colocado acima, mas de maneira bem
simples, Von Glaserfeld faz uma crítica à forma como o conhecimento científico
é visto: “Quando deixamos o conhecimento científico se transformar em crença e
começamos a considera-lo um dogma inquestionável estamos indo ladeira abaixo. ”
E mais...
“Neste sentido, nós é que somos
responsáveis pelo mundo que estamos experimentando. Como reiterei
muitas vezes, o construtivismo radical não sugere que possamos
construir o que quisermos, mas afirma que dentro das restrições que
limitam nossa construção ele é um espaço para uma infinidade de
alternativas. Portanto, não parece oportuno sugerir uma teoria
do conhecimento que chame a atenção para a responsabilidade do
conhecedor pelo que ele constrói.”
No construtivismo radical, o professor não é descartado,
muito menos a verdade objetiva, nem suprime a crítica e o debate, muito pelo
contrário, o construtivismo radical, assim como o construtivismo piagetiano,
foi mal interpretado. Essa teoria proposta por Von Glaserfeld não afirma ter
encontrado uma verdade ontológica, mas apenas propõe um modelo hipotético que
pode vir a ser útil e adaptado.
Referências:
von Glasersfeld, E. (1989) Abstração, representação e reflexão. Em
LPSteffe (Ed.) Fundamentos epistemológicos
da experiência matemática . Nova York: Springer, no prelo.
von Glasersfeld, E. (1980), Adaptação e viabilidade,
American Psychologist, 35 (11), 970-974.
Vico, G.-B. (1858) De antiquissima Italorum sapientia
(1710) Nápoles: Stamperia de ' Classici Latini
Piaget, J. (1969) Mecanismos de percepção. (Tradução
de G.N.Seagrim) Nova York: Basic Books
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