FÍSICA SEM EDUCAÇÃO

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segunda-feira, 27 de abril de 2015

Veja na Veja a desonestidade



Já é bem conhecida a minha aversão à revista Veja. Mas, isso não é gratuito, nem uma idéia pré-concebida. Essa aversão foi formada depois de ler inúmeros artigos publicados nessa revista,  dos mais diferentes autores, na área de política e, principalmente, educação. Até agora, não consegui ler um só texto que não tivesse uma opinião tendenciosa ou mesmo mentirosa e distorções de fatos reais. Muitos textos apresentam as três coisas juntas.

Um “amigo” no Facebook, leitor assíduo e admirador da revista, não conformado com minhas críticas, resolveu me enviar um artigo, para que eu percebesse que a revista também tem algo de bom (sei lá) ou tentasse me persuadir a tirar essa má impressão que eu tenho da dita cuja.
Pacientemente, abri o texto e li, antes de responder, reli inconformada, e “reli novamente” e respondi, no Facebook mesmo, que iria fazer um artigo para meu blog e lhe mandaria o link.
Eis, portanto, a minha análise.

No início do texto, ele cita a cidade e suas informações geográficas e sociais, sem nada em especial. Logo começa a se referir ao sistema de ensino maravilhoso e aos índices alcançados, apesar da situação econômica precária da região. Até aí, sem novidade. Então, começa a falar dos ótimos índices de IDEB que a cidade, apesar de sua situação financeira precária, consegue alcançar. O que não tira seu mérito por isso.

Mas, aí começa a desonestidade (não encontrei palavra melhor).

Para o leitor leigo, não fica claro, no início do texto, se a rede da escola citada é municipal ou estadual, o que mudaria, e muito, em relação aos índices. Ela diz que a cidade é uma referência de qualidade por ter uma “política pouco pautada por invencionices e muito apoiada em eficiência, meritocracia e equidade”.

Tentei identificar a tal “meritocracia e equidade” e descobri que é baseada, segundo a autora, numa premiação dada aos prefeitos, cuja rede de Ensino Fundamental obtiver a melhor qualidade na Prova Brasil. Lembro que essa é desenvolvida pelo INE/MEC , como se pode verificar aqui , aplicada a cada 2 anos, possibilitando avaliar o desempenho dos sistemas educacionais.

Então, não entendi: para premiar, precisa que o ESTADO avalie?

A desonestidade fica maior quando, após uma rápida pesquisa, descubro que quem premia o prefeito com 200 mil reais é a Organização Odebrecht e a Gávea Investimento, junto com o IAB  (Instituto Alfa e Betol) e conta com a “incrível” colaboração da revista Veja. Aí, eu comecei a rir. Sem contar que a premiação é baseada nas competências básicas de desenvolvimento acadêmico estipulado pelo MEC (mas, não era sem intervenção estatal?).

Para finalizar, apesar de haver mais coisas a serem questionadas, lembro que o MEC também oferece um prêmio às escolas, gestores e diretores que obtêm bons índices, tanto no IDESP quanto no SARESP, cujo método de premiação já critiquei  em outro artigo, que pode ser lido aqui 


 Um adendo: esse texto não é uma crítica à escola, nem ao prefeito, muito ao contrário, parabenizo os dois pelos bons desempenhos e, com certeza, é um exemplo a ser seguido. Os índices da Prova Brasil são superiores ao do SARESP,  no que se refere às escolas de ensino médio dos estados, competência do governador estadual, enquanto no caso mencionado a competência é da prefeitura.

 Se quiser ler o texto ao qual me refiro, coloquei aqui na íntegra:



“Brejo Santo, no Ceará, é exemplo de "cidade educadora"
A qualidade do ensino depende menos de Brasília do que de prefeitos comprometidos: com base nessa premissa, um novo prêmio destaca os municípios que promoveram avanços extraordinários em sua rede de escolas. O primeiro vencedor é Brejo Santo, no Ceará
Por: Bianca Bibiano, de Brejo Santo em 19/04/2015
Localizada aos pés da Chapada do Araripe, a 521 quilômetros de Fortaleza, Brejo Santo é uma cidade bem brasileira. Com pouco menos de 50 000 habitantes, situação de quase 90% dos municípios do país, ela ostenta IDH pouco inferior à média nacional e renda por habitante quase 70% menor. Poderia repetir também os péssimos resultados da educação brasileira, mas vem conseguindo escapar ao destino. No Ideb de 2013, índice do governo federal que combina taxas de evasão e repetência com desempenho escolar no nível fundamental, a cidade exibe nota 7,2 - a média brasileira é 5,2. Em uma das unidades locais de ensino, a Escola Maria Leite de Araujo, a presença de galinhas no pátio de terra batida não permite suspeitar de uma nota invejável: 9,2. O curioso é que, até 2009, a cidade cearense era ainda mais parecida com o Brasil. Cerca de 70% dos alunos não aprendiam o esperado em português e matemática. De lá para cá, a rede de ensino vem registrando avanços seguidos. Em 2013, finalmente, virou o jogo: 72% dos estudantes do 5º ano atingiram o patamar adequado de aprendizagem em matemática, por exemplo, taxa que chegou a impressionantes 100% na Maria Leite de Araujo. O índice brasileiro é 32%.
O que faz da cidade uma referência de qualidade é uma política pouco pautada por invencionices e muito apoiada em eficiência, meritocracia e equidade. No dia a dia, isso se traduz em práticas eficazes em sala de aula, avaliação e premiação de professores e garantia de que todos os alunos recebem o mesmo ensino. "Coloquei a educação no centro do meu projeto político, porque sei que isso terá impacto nos demais setores na vida local", explica o prefeito Guilherme Sampaio Landim (PSB). Pelo serviço, o jovem médico de 29 anos receberá na semana que vem, em cerimônia em São Paulo, o Prêmio Prefeito Nota 10, promovido pela primeira vez pelo Instituto Alfa e Beto (IAB). O prefeito vencedor ganha 200 000 reais.
O objetivo do Prefeito Nota 10 é identificar a rede municipal de ensino com melhor desempenho na Prova Brasil, exame federal que avalia estudantes de 5º e 9º anos do ensino público e que compõe o Ideb. Concorriam ao prêmio somente cidades com mais de 20 000 habitantes em que ao menos 80% dos alunos tivessem participado da Prova Brasil. Desses, 70% tinham de provar que sabiam o que se esperava deles. Nenhuma cidade, nem mesmo Brejo Santo, preencheu esse último critério. O IAB chegou então a doze municípios com resultados destacados e apontou os melhores em cada região do Brasil. Na Região Norte, infelizmente, nenhum município atingiu os índices necessários.
Reconhecendo a cidade com melhor média, o prêmio retira dos holofotes administrações que mantêm escolas-modelo, mas não replicam a qualidade desses centros de excelência em toda a rede. "A qualidade do ensino de nossas crianças depende menos de Brasília do que de municípios e de prefeitos comprometidos", diz o educador João Batista Araujo e Oliveira, presidente do IAB. De fato: 54,7% dos quase 30 milhões de alunos do ensino fundamental brasileiro estudam em unidades municipais. "O prêmio quer identificar quem consegue fazer um grande trabalho em escala, levando qualidade a todas as escolas que administra", acrescenta Oliveira.
A receita de Brejo Santo não tem lugar para ingredientes exóticos. "Fazemos feijão com arroz benfeito todos os dias", diz Ana Jacqueline Braga Mendes, secretária de Educação. O cardápio inclui regras rígidas para alunos e professores. Os 11 771 estudantes têm dever de casa. Se um deles falta, a escola entra em contato com sua família. "Isso reduziu drasticamente o abandono", diz a secretária. O prefeito também mexeu em leis e recorreu a medidas inicialmente consideradas impopulares. Unidades que mantinham as chamadas classes multisseriadas, em cujos bancos se sentavam lado a lado crianças de 7 a 12 anos, foram fechadas, e os alunos, transferidos para locais mais distantes, porém estruturados. Professores, por sua vez, passaram a ser avaliados, e aqueles que não demonstraram bons resultados foram retirados das salas de aula: parte foi demitida, parte assumiu funções administrativas. Com os melhores em sala de aula, a prefeitura aumentou os salários. O piso inicial é de 2 673 reais, diante do salário mínimo de 1 917,78 reais estabelecido pelo Ministério da Educação.
Brejo Santo faz um grande trabalho. Porém, há muito que avançar. Embora mantenha a melhor rede municipal do país, a cidade ainda não chegou ao marco de 70% das crianças com conhecimento adequado à série em que estudam. O caminho, no entanto, está traçado.”

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