Já é bem conhecida a minha aversão à revista Veja. Mas, isso
não é gratuito, nem uma idéia pré-concebida. Essa aversão foi formada depois de
ler inúmeros artigos publicados nessa revista,
dos mais diferentes autores, na área de política e, principalmente,
educação. Até agora, não consegui ler um só texto que não tivesse uma opinião
tendenciosa ou mesmo mentirosa e distorções de fatos reais. Muitos textos
apresentam as três coisas juntas.
Um “amigo” no Facebook, leitor assíduo e admirador da
revista, não conformado com minhas críticas, resolveu me enviar um artigo, para
que eu percebesse que a revista também tem algo de bom (sei lá) ou tentasse me
persuadir a tirar essa má impressão que eu tenho da dita cuja.
Pacientemente, abri o texto e li, antes de responder, reli
inconformada, e “reli novamente” e respondi, no Facebook mesmo, que iria fazer
um artigo para meu blog e lhe mandaria o link.
Eis, portanto, a minha análise.
No início do texto, ele cita a cidade e suas informações
geográficas e sociais, sem nada em especial. Logo começa a se referir ao
sistema de ensino maravilhoso e aos índices alcançados, apesar da situação
econômica precária da região. Até aí, sem novidade. Então, começa a falar dos
ótimos índices de IDEB que a cidade, apesar de sua situação financeira precária,
consegue alcançar. O que não tira seu mérito por isso.
Mas, aí começa a desonestidade (não encontrei palavra
melhor).
Para o leitor leigo, não fica claro, no início do texto, se
a rede da escola citada é municipal ou estadual, o que mudaria, e muito, em
relação aos índices. Ela diz que a cidade é uma referência de qualidade por ter
uma “política pouco pautada por invencionices e muito apoiada em eficiência,
meritocracia e equidade”.
Então, não entendi: para premiar, precisa que o ESTADO
avalie?
A
desonestidade fica maior quando, após uma rápida pesquisa, descubro que quem
premia o prefeito com 200 mil reais é a Organização Odebrecht e a Gávea
Investimento, junto com o IAB (Instituto Alfa e Betol) e conta com a “incrível” colaboração da revista Veja. Aí, eu
comecei a rir. Sem contar que a premiação é baseada nas competências básicas de
desenvolvimento acadêmico estipulado pelo MEC (mas, não era sem intervenção
estatal?).
Um adendo: esse texto não é uma crítica à escola, nem ao
prefeito, muito ao contrário, parabenizo os dois pelos bons desempenhos e, com
certeza, é um exemplo a ser seguido. Os índices da Prova Brasil são superiores
ao do SARESP, no que se refere às
escolas de ensino médio dos estados, competência do governador estadual, enquanto
no caso mencionado a competência é da prefeitura.
Se quiser ler o texto
ao qual me refiro, coloquei aqui na íntegra:
“Brejo Santo, no Ceará, é exemplo de "cidade
educadora"
A qualidade do ensino depende menos de Brasília do que de
prefeitos comprometidos: com base nessa premissa, um novo prêmio destaca os
municípios que promoveram avanços extraordinários em sua rede de escolas. O
primeiro vencedor é Brejo Santo, no Ceará
Por: Bianca Bibiano, de Brejo Santo em 19/04/2015
Localizada aos pés da Chapada do Araripe, a 521 quilômetros
de Fortaleza, Brejo Santo é uma cidade bem brasileira. Com pouco menos de
50 000 habitantes, situação de quase 90% dos municípios do país, ela ostenta
IDH pouco inferior à média nacional e renda por habitante quase 70% menor.
Poderia repetir também os péssimos resultados da educação brasileira, mas vem
conseguindo escapar ao destino. No Ideb de 2013, índice do governo federal que
combina taxas de evasão e repetência com desempenho escolar no nível
fundamental, a cidade exibe nota 7,2 - a média brasileira é 5,2. Em uma das
unidades locais de ensino, a Escola Maria Leite de Araujo, a presença de
galinhas no pátio de terra batida não permite suspeitar de uma nota invejável:
9,2. O curioso é que, até 2009, a cidade cearense era ainda mais parecida com o
Brasil. Cerca de 70% dos alunos não aprendiam o esperado em português e
matemática. De lá para cá, a rede de ensino vem registrando avanços seguidos.
Em 2013, finalmente, virou o jogo: 72% dos estudantes do 5º ano atingiram o patamar
adequado de aprendizagem em matemática, por exemplo, taxa que chegou a
impressionantes 100% na Maria Leite de Araujo. O índice brasileiro é 32%.
O que faz da cidade uma referência de qualidade é uma
política pouco pautada por invencionices e muito apoiada em eficiência,
meritocracia e equidade. No dia a dia, isso se traduz em práticas eficazes em
sala de aula, avaliação e premiação de professores e garantia de que todos os
alunos recebem o mesmo ensino. "Coloquei a educação no centro do meu projeto
político, porque sei que isso terá impacto nos demais setores na vida
local", explica o prefeito Guilherme Sampaio Landim (PSB). Pelo serviço, o
jovem médico de 29 anos receberá na semana que vem, em cerimônia em São Paulo,
o Prêmio Prefeito Nota 10, promovido pela primeira vez pelo Instituto Alfa e
Beto (IAB). O prefeito vencedor ganha 200 000 reais.
O objetivo do Prefeito Nota 10 é identificar a rede
municipal de ensino com melhor desempenho na Prova Brasil, exame federal que
avalia estudantes de 5º e 9º anos do ensino público e que compõe o Ideb.
Concorriam ao prêmio somente cidades com mais de 20 000 habitantes em que ao
menos 80% dos alunos tivessem participado da Prova Brasil. Desses, 70% tinham
de provar que sabiam o que se esperava deles. Nenhuma cidade, nem mesmo Brejo
Santo, preencheu esse último critério. O IAB chegou então a doze municípios com
resultados destacados e apontou os melhores em cada região do Brasil. Na Região
Norte, infelizmente, nenhum município atingiu os índices necessários.
Reconhecendo a cidade com melhor média, o prêmio retira dos
holofotes administrações que mantêm escolas-modelo, mas não replicam a
qualidade desses centros de excelência em toda a rede. "A qualidade do
ensino de nossas crianças depende menos de Brasília do que de municípios e de
prefeitos comprometidos", diz o educador João Batista Araujo e Oliveira,
presidente do IAB. De fato: 54,7% dos quase 30 milhões de alunos do ensino
fundamental brasileiro estudam em unidades municipais. "O prêmio quer
identificar quem consegue fazer um grande trabalho em escala, levando qualidade
a todas as escolas que administra", acrescenta Oliveira.
A receita de Brejo Santo não tem lugar para ingredientes
exóticos. "Fazemos feijão com arroz benfeito todos os dias", diz Ana
Jacqueline Braga Mendes, secretária de Educação. O cardápio inclui regras
rígidas para alunos e professores. Os 11 771 estudantes têm dever de casa. Se
um deles falta, a escola entra em contato com sua família. "Isso reduziu
drasticamente o abandono", diz a secretária. O prefeito também mexeu em
leis e recorreu a medidas inicialmente consideradas impopulares. Unidades que
mantinham as chamadas classes multisseriadas, em cujos bancos se sentavam lado
a lado crianças de 7 a 12 anos, foram fechadas, e os alunos, transferidos para
locais mais distantes, porém estruturados. Professores, por sua vez, passaram a
ser avaliados, e aqueles que não demonstraram bons resultados foram retirados
das salas de aula: parte foi demitida, parte assumiu funções administrativas.
Com os melhores em sala de aula, a prefeitura aumentou os salários. O piso
inicial é de 2 673 reais, diante do salário mínimo de 1 917,78 reais
estabelecido pelo Ministério da Educação.
Brejo Santo faz um grande trabalho. Porém, há muito que
avançar. Embora mantenha a melhor rede municipal do país, a cidade ainda não
chegou ao marco de 70% das crianças com conhecimento adequado à série em que
estudam. O caminho, no entanto, está traçado.”
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