FÍSICA SEM EDUCAÇÃO

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sábado, 15 de dezembro de 2018

Soluções para a educação


Toni D' agostinho


As preocupações dos empresários brasileiros ficam explícitas, quando, em documentos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP (1990), constata-se a necessidade da especialização da mão-de-obra na indústria para não aumentar os riscos dos altos investimentos na nova base tecnológica. A formação do capital humano é essencial para novos investimentos, de acordo com o documento. Os empresários dão-se conta de que a escolaridade, em bom nível de aprendizado, o treinamento e o “adestramento” (GIROLETTI, 1987, p.1) do trabalhador, desde sua formação escolar, ainda figura como importante meta nas políticas públicas educacionais, bem como vem justificar “a criação de inúmeras instituições educativas organizadas para esse fim” (FRIGOTTO, 2001, p.40). O Estado, ajustado ao ideário neoliberal, passa a desempenhar novo papel nessa relação entre produtividade, escolarização e administração escolar, voltadas, nas décadas de 1980 e 1990, ao cumprimento de metas influenciadas pelo Banco Mundial. Como vimos em Eric Hobsbawm (apud HELOANI, 1994, p. 98), “o discurso da ampla reforma do Estado surge como um dos fundamentos das políticas da década de 1980”. Nesse discurso, incluemse a “empregabilidade, privatização, mercado, flexibilização dos contratos de trabalho” (HELOANI, 1994, p. 99) como parte da terminologia no interior das organizações públicas e privadas, que passam a compor os temas que ocupam o cenário dos novos comportamentos sociais, individuais e políticos nos diferentes níveis dessas organizações, incluindo as estruturas hierárquicas. A burguesia, ou os homens de negócio, apropria-se dos espaços das políticas públicas, pelas vias da aproximação dos homens de poder no cenário da política partidária e governamental, e acaba por influenciar as tomadas de decisões e ações de governos na defesa dos conceitos da polivalência e policognição, “expressão mistificada e apologética” (FRIGOTTO, 2001, p.54), em que se situam o homem e suas necessidades como o eixo da produção e da formação, sobre as estruturas do sistema de ensino. As inúmeras receitas dos consultores de recursos humanos, ou dos homens de negócio, “convergem para as características da flexibilidade, versatilidade, liderança, orientação global, comunicação, habilidade de discernir, equilíbrio físico-emocional” (BOCLIN, 1992: 21 apud FRIGOTTO, 2002, p.54), compondo um receituário curricular que se incorpora à cultura da instituição escolar sob comando da direção de escola.





Assim, a escola recebe as regras e cumpre-as, quando não questionadas e contraditas pela comunidade e pelos profissionais da educação, sofrendo, em sua estrutura interna e sua organização, a ingerência dos homens de negócio, uma vez que, estando “impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo, necessitando estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em toda parte “ (MARX; ENGELS, [197-?] v.1.), o que o faz, quando financia o sistema de ensino em todo o país. Como resultado dos acordos internacionais com o Banco Mundial, os homens de negócio e o Estado brasileiro “esvaziam os clamores dos movimentos reivindicatórios por uma educação nos moldes do Japão e Tigres Asiáticos, pois se voltam em defesa de uma escola pública demarcada por um patamar possível apenas (nos limites) da alfabetização funcional” (FRIGOTTO, 2001, p.57). A consequência, em nível de administração e gestão escolar, é a rígida estrutura hierárquica e idiossincrática no seio da escola, para a manutenção do ideário neoliberal, sem, logicamente, a participação da sociedade.


A exclusão da sociedade e a impossibilidade de participação só serão combatidas quando representarem, na bandeira da ação pedagógica, a conquista da autonomia, a conscientização da comunidade educativa sobre o necessário processo de democratização do ensino, de empoderamento da sociedade no espaço público, de mudanças dos paradigmas da gestão escolar nos moldes da administração empresarial, nos paradigmas da qualidade de ensino demarcados pela “estreiteza do ajuste ao mercado de trabalho” (FRIGOTTO, 2001, p.58). A democratização nos espaços públicos da educação é uma questão, em última análise, de conquista de direitos sociais. Como dizem Francisco de Oliveira e Eric Hobsbawm, no texto de Frigotto (2001), a construção de formas sociais “efetivamente democráticas, tem como exigências que os sujeitos sociais coletivos tenham capacidade de ampliar a esfera pública e ter acesso ao que é público” (FRIGOTTO, 2001, p.80), o que implica um processo de retomada dos espaços da escola por parte da comunidade.


Essa foi a resenha de uma pesquisa sobre a implementação de um modelo de gestão escolar democrática que resultou em dissertação de mestrado do Professor Wagner Impellizzieri, da Universidade Cruzeiro do Sul e Universidade Cidade de São Paulo

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