FÍSICA SEM EDUCAÇÃO

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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

A Educação e a banalidade




Como professora, acredito que a função da escola, entre várias outras, é formar um cidadão crítico. Diante do quadro atual do país, estamos diante de uma decisão que pode mexer com a  vida de todos e todas, portanto a obrigação do professor é pesquisar e se informar sobre qual a melhor decisão a tomar.
Estamos diante de uma situação atípica, da qual eu nunca havia presenciado ou lido em qualquer livro de história. Estamos diante de dois candidatos e um deles tem grupos que se mostraram contrários a ele como eu nunca imaginei que fossem tomar partido ou alguma posição política, o que me causou estranheza. Por exemplo, nunca tinha visto religiosos do mundo todo, como a CNBB, fazendo declarações políticas, apesar de que sabemos que as religiões, apesar do estado laico, sempre influenciaram, mas indiretamente. Um outro grupo que também me chamou a atenção foram as torcidas organizadas, como o Corinthians, considerada a maior torcida organizada do país e as do Palmeiras, Santos, Fluminense e vários outros. Também temos vários outros grupos que agora não acho relevante citar, mas que também se posicionaram. Outra coisa que me fez refletir foi que desde que comecei a participar da vida política, na minha adolescência, com o Fora Collor, nunca vi o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) convergirem em algum ponto como agora: mesmo o PSDB não apoiando diretamente o PT, somente algumas correntes, os dois concordam em serem contra o candidato. Fiquei extremamente intrigada com tudo isso, pois é uma situação inédita e seria cômico se não fosse trágico, afinal estamos diante de uma situação política bem delicada.
Vou-me restringir basicamente à minha área, a educação. Quem me conhece sabe que eu sempre lutei por uma educação pública de qualidade e sempre fui muito crítica, nunca gostei de ficar “em cima do muro”. Devido a isso, ganho algumas inimizades, mas quem me conhece sabe que, no fundo, sou bastante “maleável” e não tenho medo de mudar de opinião. Diante disso resolvi ler os planos de governo e agora aponto o que acho completamente inconsistente no plano do #BOLONARO.
Logo no segundo parágrafo ele diz: ” Os valores, tanto em termos relativos como em termos absolutos, são incompatíveis com nosso péssimo desempenho educacional.” Confesso que não consegui entender muito bem o que ele diz por valores relativos e absolutos, mesmo porque ele não deixa isso claro. Aliás, nada está muito claro no seu plano, mas se os tais valores absolutos e relativos (???) são incompatíveis é porque na verdade o investimento está sendo feito no lugar errado, não é mesmo? A incompatibilidade não está no valor, mas no mau emprego dele. Vale destacar que acredito que o investimento na educação deveria ser maior, afinal de contas formamos o futuro da nação (sem exagero).



Ele compara a nossa educação com a do Japão, Taiwan e Coréia do Sul, países que ele visitou. A questão ainda é mais grave quando a gente percebe que, na verdade, ele não tem a mínima noção do contexto histórico do nosso país. Acho importante termos boas referências, mas um plano de governo deve ter propostas sólidas, não comparações. Eu o comparo a um aluno que nunca se importou com o aprendizado na escola e vê a possiblidade de ser presidente do Grêmio na chapa mais popular e só propõe divertimento.


Outro ponto que me chamou a atenção foi uma parte que está destacado em vermelho no seu plano de governo que diz que precisamos de mais matemática, ciências e português, SEM DOUTRINAÇÃO E SEXUALIZAÇÃO PRECOCE. Confesso que não sei de onde ele tirou isso, deve ser do tal kit gay que ele cita, mas que nenhum professor sequer viu nas escolas. Aí ele cita diversos dados e gastos que não analisei se estão de fato corretos, mas devem estar, afinal de contas é o mínimo que ele deve fazer, colocar informações corretas, mesmo que copiadas e coladas, não é mesmo?
Depois de todos os gráficos e dados sobre gestão, chega-se a um ponto em que a coisa fica bem mais confusa para quem é da área de educação, ainda mais na frase: ...”Além de mudar o método de gestão, na Educação também precisamos revisar e modernizar o conteúdo. Isso inclui a alfabetização, expurgando a ideologia de Paulo Freire, mudando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), impedindo a aprovação automática e a própria questão de disciplina dentro das escolas.”
Será que ele tem ideia do que é a BNCC e de quantos profissionais foram envolvidos nela para que um presidente, de forma completamente despreparada e autoritária, queira mudar? Será que ele sabe o que é a palavra democracia? Será que ele alguma vez leu um livro ou uma linha de algum conteúdo do Paulo Freire? Toda a nossa LDB (Leis de Diretrizes e Bases) documento que regulamenta a nossa educação, é baseada nas propostas de Freire, direta ou indiretamente. Ele quer mudar a LDB, é isso?
A última parte ele fala da educação a distância, mas nada mais além desta frase que, sinceramente, não sei de onde deduziu isso, mas enfim: “Educação a distância: deveria ser vista como um importante instrumento e não vetada de forma dogmática. Deve ser considerada como alternativa para as áreas rurais onde as grandes distâncias dificultam ou impedem aulas presenciais.”

A educação a distância é, sim, uma poderosa ferramenta para vencer grandes distâncias e incluir populações dispersas ou isoladas ao sistema educacional, e vem sendo implementada tanto por ações governamentais quando por instituições particulares, não tendo recebido, que eu saiba, nenhum veto dogmático, seja lá o que isso queira dizer.

Para encerrar, a proposta educacional do candidato é meio surreal e muito superficial, o que demonstra ou sua ignorância ou seu total descaso para com um assunto tão importante, que ele resume em discutir apenas um kit gay inexistente, deixando transparecer, mais uma vez, seu despreparo e falta de propostas reais e consistentes.  
Sinceramente, se existem professores que defendam esse programa ou esse senhor é porque sequer leram ou analisaram o plano de governo dele para a educação. Abaixo, segue o link para ver o plano na íntegra.
Leia as propostas e analise muito bem, pois a disputa não é mais partidária, é a escolha entre o bom senso, a educação, o progresso ou a violência, a desigualdade e a barbárie.




O plano dos dois candidatos e dos anteriores consta no site do Tribunal Regional Eleitoral (TRE)



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