Considerações
sobre PL 6840/2013 — Reformulação do Ensino Médio
Parte
1 — História da Educação Brasileira e sua influência nos tempos atuais
A educação no Brasil tem uma história peculiar,
caracterizada pela dicotomia Estado-escola, que até então era de domínio da
Companhia de Jesus (os Jesuítas), que primavam pela transferência de
conhecimentos apenas para os brancos europeus da população colonial, sendo esta
negada para negros, índios e mulatos, sendo que no caso destes últimos os
jesuítas tiveram que ceder por receberem subsídios do Estado. Em outras
palavras, exclusão.
Dando um salto até a Era Vargas,
tivemos neste período reformas educacionais mais modernas devido a emergência
da urbanização brasileira e o surgimento do parque industrial brasileiro. Nesta
época foi feita a Reforma Francisco Campos (1931), que conferiu aumento dos
anos de estudos no curso secundário, seriação de currículos, imposição de um
trabalho de avaliação discente. Medidas que procuravam entrar em sintonia com a
sociedade capitalista que se consolidara no país.
O ensino secundário teve aumento de
dois anos, passando de cinco para sete anos, como também foi organizado em
ciclos, sendo o fundamental (ensino comum e de formação geral) e o complementar
(para quem quisesse ingressar em cursos superiores). Interessante notar que,
neste último havia uma série de opções, como por exemplo, para quem quisesse
cursar Direito, iria estudar com foco maior em área de ciências humanas.
Estudiosos afirmam que esta parte da Reforma Campos estava muito alinhada com
as modernizações da Europa, e de certo modo contribui para a elitização do
ensino devido a conjuntura da vida brasileira. Retirado doartigo de Norberto
Dellabrida, publicado em 2009 na Revista Educação da PUCRS, temos
que “ […] Francisco Campos liderou uma reforma do ensino primário e normal a
partir dos princípios e dos métodos da Escola Nova.
[…] A Reforma Francisco Campos redefiniu, em primeiro lugar, os saberes a serem
ensinados nos colégios de ensino secundário, fortalecendo as Ciências Físicas e
Naturais, o que também expressa uma perspectiva burguesa” onde segundo o autor,
partia-se da educação integral — intelectual, física, patriótica — e práticas
disciplinares para disciplinamento e autorregulação.
Em 1942 surgiu a Reforma Capanema, na
qual surgiu a Lei Orgânica do Ensino Industrial e a Lei Orgânica do Ensino
Secundário, assim como o surgimento do SENAI. O curso secundário se dividia de
modo que o ensino seguia ordem hierárquica onde o primário se destinava ao
ensino agrícola, o secundário para o ensino industrial (que mantinha sérios
vínculos com educação de países fascistas), e o terciário, que preparava para o
comércio. Vale ressaltar que durante esta reforma, houve uma ênfase dada ao
ensino de disciplinas de ciências humanas, devido ao apoio recebido de Vargas
da Igreja Católica em troca de apoio da mesma ao governo em camadas populares.
Tal ênfase se explica pelo fato de que estas disciplinas eram ensinadas às
elites pelos Jesuítas, sendo que as massas teriam acesso ao ensino menos
prestigiado como agrícola, industrial e comercial. Logo, a educação de massas
nunca formou o sujeito político, mas o operário que não sabia questionar.
O ensino industrial, como o nome já nos
induz, levava a formar o cidadão para o trabalho, enquanto o ensino secundário
visava moldar o indivíduo com princípios éticos e morais.
Este ensino dual foi responsável por
deixar marcas no país que perduram até os dias atuais, como por exemplo a
divisão da sociedade em classes, na qual a dominante perpetuou no Brasil até os
dias de hoje, que formaram a elite econômica e intelectual, chamada por muitos
de Elite Branca. A escola foi um objeto onde suas políticas foram formuladas
por estes para servir seus interesses, segundo Demerval Saviani.
Com o surgimento da Ditadura Militar em
1964, houve mudanças como a criação dos exames vestibulares e o enfoque de
formação dado ao ensino tecnicista com ajuda da USAID (United States Agency for
International Development), que com financiamentos da Casa Branca e órgãos
americanos, formulavam kit experimentais de ciência na época da Guerra Fria.
Disciplinas humanas como filosofia, história e geografia, ou foram extintas ou
foram aglutinadas, dando origem e enfase em disciplinas como Moral e Civismo.
Com o processo de redemocratização do
Brasil, dado pela Constituição de 1988, ao se tratar do ensino temos que este
deve ser universal, gratuito, dever do Estado e da família, onde União, Estados
e Municípios respondem em regime de colaboração. Ao MEC como parte do Poder
Executivo, cabe fazer cumprir as leis do ensino e determinações da
Constituição. A União deve aplicar, anualmente, nunca menos de 18% e os Estados
e Minicípios o mínimo de 25% da receita resultante de impostos e
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino.
Importante ressaltar que no ano de 1995
foi criada a nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que seguiu a esteira
neoliberal do Banco Mundial, uma concepção mercadológica da educação na qual
centralizava ao MEC todos os problemas e soluções das escolas — proposta dada
pelo Banco — na qual FHC, presidente da época acatou.
Devido a instabilidade econômica do país, volta da
democracia e o fim da Guerra Fria, o Brasil atravessou uma grave crise de
desemprego, desvalorização da moeda pela inflação, e como consequência, alta
taxa de analfabetismo e evasão escolar. Somado a isso, o funcionamento de
escolas particulares era livre, sendo assim, houve sucateamento da educação
pública, formando novamente, uma divisão da sociedade em termos de ensino, onde
a elite econômica e cultural se formava em escolas partculares e a massa
trabalhadora em escolas públicas, assim como a desvalorização do professor, que
contribuiu significativamente para desestúmulo da carreira e, indiretamente, a
fuga de profissionais para outras áreas e a figura arranhada que o mesmo tem.
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