Por Renata Cafardo
Gente,
no início deste mês fui aos EUA, conheci o país pós-Trump e a luta contra as fake news. Ela passa, invariavelmente, pelas escolas, pelas crianças e por nós, jornalistas. Hoje público na minha coluna no Estadão um pouco do que aprendi por lá:
Na manhã seguinte às eleições americanas que elegeram Donald Trump, a
professora de Inglês Kerri Mauer, de uma escola pública nos arredores de
Washington, decidiu que precisava fazer alguma coisa. As fake news tinham se
tornado protagonistas no pleito que escolheu o novo presidente dos Estados
Unidos, em 2016. E a única maneira de “salvar a democracia”, pensou a
professora, era ensinar os estudantes a analisar criticamente as informações
que chegavam a eles.
Ela então criou um projeto do que, em inglês, é chamado de media literacy. O assunto é tão novo no Brasil que mal existe consenso sobre a melhor tradução.
Uns usam alfabetização midiática; outros,
educação midiática. Mas o significado é o mesmo: dar ferramentas para que crianças e adolescentes
saibam discernir o que são textos de opinião, reportagens, conteúdos
patrocinados, sátiras etc. E, com essa melhor compreensão das informações, não
acreditem facilmente e nem passem para frente as notícias falsas.
O termo fake news, inclusive, é quase
proibido hoje entre os que estudam o tema nos EUA. Os especialistas dizem que a
expressão ganhou uma conotação política e é usada por quem quer desqualificar
notícias que não o favorecem. Mas que, quase sempre, são verdadeiras.
Uma das maiores pesquisadoras do assunto, Renee Hobbs, da Universidade de Rhode Island, ensina professores e jornalistas a substituírem “fake news” por algo como “desinformação”, “notícias tendenciosas”, “caça-cliques” e até “propaganda”. Ela criou uma pós-graduação sobre o tema e acredita no poder da educação midiática para transformar as novas gerações.
“Não estamos discutindo política, estamos discutindo o que é verdade e o que não é”, disse Carl, de 14 anos, sobre as aulas de Kerri, na Escola Albert Einstein, que visitei este mês a convite do Departamento de Estado dos EUA. “O que eu aprendi é uma ferramenta para a vida”, completou a colega Yanzey.
Uma das maiores pesquisadoras do assunto, Renee Hobbs, da Universidade de Rhode Island, ensina professores e jornalistas a substituírem “fake news” por algo como “desinformação”, “notícias tendenciosas”, “caça-cliques” e até “propaganda”. Ela criou uma pós-graduação sobre o tema e acredita no poder da educação midiática para transformar as novas gerações.
“Não estamos discutindo política, estamos discutindo o que é verdade e o que não é”, disse Carl, de 14 anos, sobre as aulas de Kerri, na Escola Albert Einstein, que visitei este mês a convite do Departamento de Estado dos EUA. “O que eu aprendi é uma ferramenta para a vida”, completou a colega Yanzey.
A professora me contou que – por causa
da resistência de alguns pais – toma extremo cuidado para não expressar
opiniões pessoais durante o curso. Kerri diz que ouviu falar da polêmica em
torno do projeto Escola sem Partido e que esse cuidado é uma dica para
facilitar a implementação de algo parecido em escolas brasileiras. No curso,
ela apresenta reportagens de várias mídias, pede pesquisas e estimula análises
e debates sobre conteúdos.
Segundo dados da The News Literacy Project, uma ONG americana que estuda o assunto, as notícias verdadeiras levam seis vezes mais tempo para atingir 1.500 pessoas do que as falsas. Os primeiros projetos de media literacy feitos nos EUA já mostram que quem participa de cursos sobre o assunto se sente muito mais confiante em corrigir notícias falsas e até mais estimulado a votar. E, de quebra, a competência faz com que crianças e jovens fiquem menos propensos a praticar ou se expor a violências no mundo digital.
Segundo dados da The News Literacy Project, uma ONG americana que estuda o assunto, as notícias verdadeiras levam seis vezes mais tempo para atingir 1.500 pessoas do que as falsas. Os primeiros projetos de media literacy feitos nos EUA já mostram que quem participa de cursos sobre o assunto se sente muito mais confiante em corrigir notícias falsas e até mais estimulado a votar. E, de quebra, a competência faz com que crianças e jovens fiquem menos propensos a praticar ou se expor a violências no mundo digital.
No Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o ensino
fundamental e médio incluiu a análise e a composição de textos jornalísticos
como habilidades que devem ser aprendidas nas escolas daqui para a frente. Foi
uma vitória de entidades como Unesco e Instituto Palavra Aberta. Até então,
reportagens costumavam ser usadas apenas em aulas de redação, para discutir
estilo de texto.
A educação midiática pode ainda ser
uma importante aliada no combate às inúmeras deficiências da nossa educação,
que fazem com que brasileiros de 14 anos mal compreendam o que leem. Isso
porque ela fala do mundo digital, ambiente que os jovens costumam dominar. Esse
atrativo pode acabar não só melhorando a habilidade de leitura, mas sendo uma
contribuição imensa para o desenvolvimento do senso crítico das crianças e para
a formação de cidadãos mais conscientes.
Há a revista editada na ECA - https://www.revistas.usp.br/comueduc/ -,
criada pela Maria Aparecida Baccega, hoje professora e pesquisadora do
PPGCOM-ESPM. Ela é a nossa decana.
Um ótimo 2019 pra vocês. Desejo que o próximo ano seja mais ameno e que
estejamos preparadas para os desafios que virão.
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