Vou começar esse texto com uma declaração (de amor) pessoal
porque a minha vivência explicita bem o decorrer do texto. Eu tenho uma grande
amiga de infância, uma das poucas que restaram. Sempre fomos divergentes no
aspecto partidário, mas sempre fomos semelhantes em aspectos políticos, por
exemplo, a minha mãe e o meu pai sempre tiveram inclinação pelo Partido dos
Trabalhadores (PT) e assim fui criada. Apesar de, hoje, ter muitas divergências
quanto ao partido ainda continuo tendo minhas ideologias, das quais
dificilmente abrirei mão. Só que essa minha amiga é filha de militar. Então,
como podem imaginar, o partido com que ela menos se afina é aquele com que eu
mais me afino. Apesar de tudo isso, sempre lidamos muito bem, pois nunca sequer
tocamos no assunto. Durante toda a nossa amizade tivemos diversas divergências
(brigas mesmo), mas nunca foram partidárias e sim ideológicas e, apesar de ela
ter tido uma criação muito diferente da minha e termos tido algumas histórias
diferentes, porque uma boa parte delas foram vivenciadas juntas, muitos dos
aspectos ideológicos convergem. Mas, aonde eu quero chegar?
Nessa última eleição o país ficou dividido em três, os que
apoiavam o Bolsonaro, os que apoiavam o PT e os que eram contra os dois. Por
tudo que eu e minha amiga vivemos, eu sabia que apesar dela discordar do PT,
nunca apoiaria o Bolsonaro, não pelo seu partido, afinal nem a gente nem seus
apoiadores sequer sabia qual era, mas pela sua ideologia, pelo que ele
representa. Aliás, talvez até anularia seu voto se estivesse no Brasil, pois
está há alguns meses na Europa (saudades), mas sei que jamais compactuaria para
eleger um sujeito como ele. E, obviamente, ela não me decepcionou, pois sempre
foi muito inteligente e nossa história juntas jamais permitiria um
posicionamento a favor de alguém que apoia tudo aquilo que não acreditamos, por
isso nossa divergência sempre foi partidária, mas nunca política.
A minha adolescência foi de luta. Apesar de nem a minha mãe
nem meu pai terem influenciado diretamente, optei por lutar pelos meus direitos
e os das pessoas menos favorecidas. Um dos primeiros movimentos que fui foi o
Fora Collor, era uma adolescente e nem entendia direito o que acontecia, mas
foi maravilhoso e me orgulho de ter estado lá. Meus amigos e amigas nunca foram
os que faziam parte da alta sociedade, porque eu nunca quis. As pessoas que me
conhecem realmente e que fizeram e fazem parte do meu círculo de amigos saberia
de olhos fechados o meu posicionamento, porque a questão não é partidária, a
questão é muito mais que isso, é ideológica.
Hoje sou sindicalizada, sou ativista, sou a favor de cotas,
sou professora numa escola periférica e conheço a realidade de meus alunos e,
além de tudo, sou mulher. E, sinceramente, os que achavam que me conheciam e se
indignaram por eu ter me revoltado tanto com aqueles que votaram em um ser que
vai contra tudo isso é porque decididamente não me conhecem. E, mais que isso,
não me respeitam nem respeitam grande parte da população, pois minha posição não
foi contra “os outros” e muito menos uma simples questão partidária, mas porque
o outro lado é contra tudo o que eu
acredito. Infelizmente quem elegeu Bolsonaro não o fez por sua ideologia
política, porque a grande (muito grande) parte de seus eleitores desconheciam
sequer o plano de governo dele nem sabia
o seu partido, votaram nele por medo e ódio a negros, por apologia à violência
e à tortura, votaram nele por concordar com seus discursos violentos, cheios de
ódio e rasos, votaram pela sua própria ignorância.
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