Como
professora, acredito que a função da escola, entre várias outras, é formar um
cidadão crítico. Diante do quadro atual do país, estamos diante de uma decisão
que pode mexer com a vida de todos e
todas, portanto a obrigação do professor é pesquisar e se informar sobre qual a
melhor decisão a tomar.
Estamos
diante de uma situação atípica, da qual eu nunca havia presenciado ou lido em
qualquer livro de história. Estamos diante de dois candidatos e um deles tem
grupos que se mostraram contrários a ele como eu nunca imaginei que fossem
tomar partido ou alguma posição política, o que me causou estranheza. Por
exemplo, nunca tinha visto religiosos do mundo todo, como a CNBB, fazendo
declarações políticas, apesar de que sabemos que as religiões, apesar do estado
laico, sempre influenciaram, mas indiretamente. Um outro grupo que também me
chamou a atenção foram as torcidas organizadas, como o Corinthians, considerada
a maior torcida organizada do país e as do Palmeiras, Santos, Fluminense e
vários outros. Também temos vários outros grupos que agora não acho relevante
citar, mas que também se posicionaram. Outra coisa que me fez refletir foi que
desde que comecei a participar da vida política, na minha adolescência, com o
Fora Collor, nunca vi o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB) convergirem em algum ponto como agora: mesmo o
PSDB não apoiando diretamente o PT, somente algumas correntes, os dois
concordam em serem contra o candidato. Fiquei extremamente intrigada com tudo
isso, pois é uma situação inédita e seria cômico se não fosse trágico, afinal
estamos diante de uma situação política bem delicada.
Vou-me
restringir basicamente à minha área, a educação. Quem me conhece sabe que eu
sempre lutei por uma educação pública de qualidade e sempre fui muito crítica,
nunca gostei de ficar “em cima do muro”. Devido a isso, ganho algumas
inimizades, mas quem me conhece sabe que, no fundo, sou bastante “maleável” e
não tenho medo de mudar de opinião. Diante disso resolvi ler os planos de governo
e agora aponto o que acho completamente inconsistente no plano do #BOL卐ONARO.
Logo no
segundo parágrafo ele diz: ” Os valores, tanto em termos relativos como em
termos absolutos, são incompatíveis com nosso péssimo desempenho educacional.”
Confesso que não consegui entender muito bem o que ele diz por valores
relativos e absolutos, mesmo porque ele não deixa isso claro. Aliás, nada está
muito claro no seu plano, mas se os tais valores absolutos e relativos (???)
são incompatíveis é porque na verdade o investimento está sendo feito no lugar
errado, não é mesmo? A incompatibilidade não está no valor, mas no mau emprego
dele. Vale destacar que acredito que o investimento na educação deveria ser
maior, afinal de contas formamos o futuro da nação (sem exagero).
Ele compara
a nossa educação com a do Japão, Taiwan e Coréia do Sul, países que ele
visitou. A questão ainda é mais grave quando a gente percebe que, na verdade,
ele não tem a mínima noção do contexto histórico do nosso país. Acho importante
termos boas referências, mas um plano de governo deve ter propostas sólidas,
não comparações. Eu o comparo a um aluno que nunca se importou com o
aprendizado na escola e vê a possiblidade de ser presidente do Grêmio na chapa
mais popular e só propõe divertimento.
Outro ponto
que me chamou a atenção foi uma parte que está destacado em vermelho no seu
plano de governo que diz que precisamos de mais matemática, ciências e
português, SEM DOUTRINAÇÃO E SEXUALIZAÇÃO PRECOCE. Confesso que não sei de onde
ele tirou isso, deve ser do tal kit gay que ele cita, mas que nenhum professor
sequer viu nas escolas. Aí ele cita diversos dados e gastos que não analisei se
estão de fato corretos, mas devem estar, afinal de contas é o mínimo que ele
deve fazer, colocar informações corretas, mesmo que copiadas e coladas, não é
mesmo?
Depois de
todos os gráficos e dados sobre gestão, chega-se a um ponto em que a coisa fica
bem mais confusa para quem é da área de educação, ainda mais na frase: ...”Além
de mudar o método de gestão, na Educação também precisamos revisar e modernizar
o conteúdo. Isso inclui a alfabetização, expurgando a ideologia de Paulo
Freire, mudando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), impedindo a aprovação
automática e a própria questão de disciplina dentro das escolas.”
Será que ele
tem ideia do que é a BNCC e de quantos profissionais foram envolvidos nela para
que um presidente, de forma completamente despreparada e autoritária, queira
mudar? Será que ele sabe o que é a palavra democracia? Será que ele alguma vez
leu um livro ou uma linha de algum conteúdo do Paulo Freire? Toda a nossa LDB
(Leis de Diretrizes e Bases) documento que regulamenta a nossa educação, é
baseada nas propostas de Freire, direta ou indiretamente. Ele quer mudar a LDB,
é isso?
A última
parte ele fala da educação a distância, mas nada mais além desta frase que,
sinceramente, não sei de onde deduziu isso, mas enfim: “Educação a distância:
deveria ser vista como um importante instrumento e não vetada de forma
dogmática. Deve ser considerada como alternativa para as áreas rurais onde as
grandes distâncias dificultam ou impedem aulas presenciais.”
A educação a
distância é, sim, uma poderosa ferramenta para vencer grandes distâncias e
incluir populações dispersas ou isoladas ao sistema educacional, e vem sendo
implementada tanto por ações governamentais quando por instituições particulares,
não tendo recebido, que eu saiba, nenhum veto dogmático, seja lá o que isso
queira dizer.
Para
encerrar, a proposta educacional do candidato é meio surreal e muito superficial,
o que demonstra ou sua ignorância ou seu total descaso para com um assunto tão
importante, que ele resume em discutir apenas um kit gay inexistente, deixando
transparecer, mais uma vez, seu despreparo e falta de propostas reais e consistentes.
Sinceramente,
se existem professores que defendam esse programa ou esse senhor é porque
sequer leram ou analisaram o plano de governo dele para a educação. Abaixo,
segue o link para ver o plano na íntegra.
Leia as
propostas e analise muito bem, pois a disputa não é mais partidária, é a
escolha entre o bom senso, a educação, o progresso ou a violência, a
desigualdade e a barbárie.
O plano dos
dois candidatos e dos anteriores consta no site do Tribunal Regional Eleitoral
(TRE)
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